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BRASIL

Exército mata dois civis e promove terror em bairros do Rio de Janeiro

André Freire, do Rio de Janeiro, RJ
Reprodução

Nos últimos três dias, tropas do Exército que patrulham as ruas da região da Vila Militar, área próxima a vários bairros de periferia da Cidade do Rio de Janeiro, como Guadalupe, Realengo e Deodoro, mataram dois homens, civis, desarmados e sem nenhuma situação efetiva de confronto.

Na noite da última sexta-feira, os militares dispararam contra uma moto onde estavam dois jovens. Um deles, Christian Santana, de 19 anos, trabalhador, auxiliar de mecânico, morreu com tiros disparados pelos militares. O outro, de apenas 17 anos, também levou dois tiros, mas resistiu.

A versão divulgada pelo Comando Militar do Leste (CML) é que os dois jovens eram bandidos e furaram uma blitz. A família, evidentemente, nega e fez um protesto, no último domingo, na Vila Militar.

Também neste domingo, dia 7 de abril, por volta das 14h40, novamente militares dispararam, segundo a própria polícia, pelos menos 80 tiros contra apenas um automóvel, sem nenhum confronto aparente.

Veja o vídeo feito por moradores, logo após o ataque dos militares

No carro estava uma família de trabalhadores, inclusive uma criança de 7 anos e um idoso, que se dirigiam para “um chá de bebê”. Como consequência dessa ação absurda, Edvaldo Rosa, 51 anos, trabalhador, músico e segurança (que acabava de sair do serviço), morreu na hora e seu sogro ficou ferido. Um pedestre, que passava no local, também foi ferido a bala pelos militares do Exército.

O CML, em primeiro lugar, afirmou que os integrantes do carro tinham disparado contra as tropas. Diante da dificuldade de manter essa versão mentirosa, disse que vai instituir uma investigação interna.

 

Acabou a intervenção militar, mas segue a guerra contra o povo negro

O fim de semana de terror aconteceu cerca de três meses depois de ter terminado o período da intervenção militar e federal na área de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, decretada pelo ex-presidente ilegítimo Michel Temer (MDB-SP).

Mesmo com o fim desta intervenção militar, tropas do Exército seguem nas ruas de algumas regiões da Cidade, se apoiando para estas ações nas prerrogativas da chamada Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Esta lei é usada pelo atual governador Wilson Witzel (PSC) para manter, na prática, a utilização em grande escala das forças armadas na área de segurança pública.

É sempre bom lembrar, que a intervenção militar em nada resolveu o problema da segurança no Estado e, ainda por cima, gerou uma disparada absurda nas mortes geradas diretamente por agentes de segurança do Estado.

O atual governador vem defendendo a legitimidade da execução sumária de supostos bandidos armados. Por exemplo, defendeu em vídeo a ação da Polícia Militar na comunidade da Falett, na região Central da cidade, que deixou 13 mortos, a esmagadora maioria, inclusive, sem passagem pela polícia.

E, agora, Witzel, vem comparecendo a eventos públicos acompanhados de “atiradores de elite” da polícia (os chamados “snipers”). A utilização destes policiais, especializados em tiros de grandes distâncias, vem sendo comum também em operação policiais em favelas cariocas, aterrorizando os moradores destas comunidades.

Este fato absurdo, fez com que a Assembleia Legislativa tenha cobrado explicações do governador Witzel, por iniciativa de Renata Souza, deputada estadual do PSOL e presidente da Comissão de Diretos Humanos da Casa.

Fim do uso do Exército em operações nas comunidades

A utilização da GLO trás ainda por cima outro consequência grave. Os crimes cometidos por militares envolvidos nestas operações, mesmo sendo contra civis, inclusive desarmados, serão apurados pela Justiça Militar. Ou seja, muito provavelmente serão investigados sem nenhuma transparência e não serão punidos com rigor necessário.

Na verdade, os brutais assassinatos deste fim de semana, são mais uma demonstração trágica do grave erro da utilização das forças armadas na área de segurança pública das grandes cidades brasileiras.

O Exército treina seus militares para a guerra. Infelizmente, o Exército brasileiro já cumpriu um papel criminoso durante a intervenção no Haiti, impondo um verdadeiro estado de sítio permanente contra o povo negro e pobre daquele país.

Em todo o período de vigência da Minustah (nome desta operação de intervenção), 36 mil militares do nosso país passaram pelo Haiti. O treinamento realizado contra o povo do Haiti vem sendo utilizado para instaurar um verdadeiro terror nas comunidades do Rio de Janeiro.

O único caminho razoável a ser seguido, após os graves acontecimentos do último final de semana, é interromper imediatamente o uso das tropas do Exército em operações militares nas comunidades do Rio de Janeiro. Só assim se evitará mais mortes, inclusive contra inocentes.

A solução do grave problema da segurança pública, não só no Rio de janeiro, mas como em todas as grandes cidades brasileiras, só virá com políticas mais estruturais e de fundo, tais como: uma ampliação qualitativa nos investimentos sociais em educação, saúde, moradia, geração de empregos, cultura, esportes, entre outras áreas; o fim da política militar, com a criação de uma polícia civil e única, controlada pela sociedade; e, a abertura imediata da discussão sobre a descriminalização das drogas, como vem sendo feito em vários países do mundo.

Insistir na velha e fracassada política do terror, só fará aumentar a violência e a criminalização e o extermínio da juventude e do povo negro e pobre das grandes cidades brasileiras. Basta!

Marcado como:
80 tiros