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OPRESSÕES

Uma mulher trans espancada no Rio de Janeiro

Por Travesti Socialista

É perturbador. Muitas pessoas viram o vídeo da mulher trans sendo espancada em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, por três rapazes, um deles com um pedaço de pau, em meio a xingamentos e ameaças de morte. A filmagem mostra a irmã tentando socorrê-la, gritando “Para!”, “Chega!”, mas ela também acabou sendo empurrada e agredida. As notícias contam mais detalhes dessa história. Taísa foi esfaqueada e espancada depois que respondeu aos xingamentos de um dos rapazes.

Taísa Silva e a irmã, Luciana Silva, entraram numa van de transporte alternativo para voltar para casa. Nela, estavam também os três agressores. “Quando a gente sentou, esse menino (Rodrigo) já jogou piada para minha irmã”, relatou Luciana em entrevista. “Ele a chamou de ‘veado’ e começou as gracinhas. A minha irmã se alterou e começou o bate-boca. Começou tudo com dois. Depois, o terceiro, que estava dormindo, acordou e se envolveu na briga”.

A agressão começou ainda dentro da van. “Com a van em movimento eles começaram a agredir (Taísa Silva)”, continuou o relato. “Foi quando para se defender ela foi pra cima deles. Nisso, eles saltaram da van e ele (Rodrigo) com uma faca tentou acertar minha irmã, que rebateu com o braço. Ela se jogou no chão, pegou a faca que tinha caído e deu um golpe nele também. Ele (Rodrigo) se alterou e os outros dois saíram da van”.

Após receber um chute de Jorge, caiu, bateu a cabeça no asfalto e ficou inconsciente. O vídeo mostra a barbárie, Taísa é repetidamente agredida enquanto está caída no chão, apenas tentando se proteger dos golpes. Um deles pega um pedaço de pau para agredi-la. Luciana, ao tentar protegê-la, é empurrada e também acaba caindo. É possível ver um deles gritando: “Não me segura!” Em um momento do vídeo, os agressores pareciam ter interrompido o crime. Porém, quando Taísa começa a se levantar, a agressão recomeça.

Segundo Luciana, as agressões pararam apenas quando algumas pessoas num ponto de ônibus que estavam próximas interviram.

Na manhã desta quarta-feira (14), os três rapazes foram presos e vão responder pelo crime de tentativa de homicídio.

A barbárie social
Taísa apanhou por se defender, por não aceitar a humilhação, por erguer a cabeça. Na mente dos transfóbicos, Taísa tinha que aceitar todas as humilhações e agressões que recebeu sem responder. Permanecendo em seu suposto lugar, de cabeça baixa. O caso de Taísa não é um evento isolado. As agressões sofridas pelas travestis e mulheres trans, em especial as que sobrevivem da prostituição, são cotidianas. Há violência na família, na escola, no trabalho e na rua.

Leelah Alcorn, mulher trans estadunidense foi deixada de castigo dentro do quarto por meses depois que se assumiu como mulher trans, sem nem mesmo ter acesso às redes sociais. Os pais forçaram-na a fazer terapias para “curá-la”. Leelah fez um relato no seu Facebook e cometeu suicídio. Várias pesquisas mostram que cerca de 40% das pessoas trans já tentaram cometer suicídio.

Numa escola em Ribeirão Cascalheira, no Mato Grosso, pais e mães fundamentalistas fizeram um abaixo-assinado para que uma aluna trans fosse proibida de usar o banheiro feminino. Essa aluna já usava o banheiro feminino há quatro anos, a convite das próprias amigas, pois, no banheiro masculino, segundo o diretor da escola, quase todo dia alguém passava a mão nela. Mas, alguns pais e mães fundamentalistas, com o incentivo do pastor Deocarlos Villas Boas, fizeram um protesto na escola, xingaram a menina e outras pessoas que a defendiam. Queriam que a escola construísse um terceiro banheiro para ela.

Laura Vermont, que, após ter sido espancada por cinco caras em um bar, depois de pedir socorro da polícia, em vez de receber ajuda, foi baleada.

Verônica Bolina não teve direito à cela exclusiva respeitado, acabou entrando em confusão com outros presos e com o carcereiro, foi espancada pela polícia, teve as roupas rasgadas, a cabeça raspada, seios expostos e a mídia, além de tratá-la no masculino, tratou-a como bandida, criminosa, não como vítima de tortura policial.

É preciso criminalizar a LGBTfobia. Deixar uma criança trans de castigo ou forçá-la a frequentar um terapeuta para “curá-la” tem que ser crime. Proibir uma pessoa trans de usar o banheiro conforme a identidade de gênero, expulsar uma criança por ser trans da família ou da escola, negar emprego ou demitir alguém por ser trans, assediar moralmente uma funcionária ou funcionário trans, obrigar uma mulher trans a raspar o cabelo ou retirar a peruca, rasgar as roupas, expor o corpo, ridicularizar, tudo isso tem que ser crime. Não abaixaremos a cabeça para os transfóbicos.