Chegou o momento tão esperado. Depois de conseguir arrastar, com todo tipo de artimanhas e manobras, por 11 meses o processo por quebra de decoro parlamentar, Eduardo Cunha (PMDB) será finalmente julgado nessa segunda-feira (12) na Câmara dos Deputados. É o processo mais longo da história.
Se for cassado, Cunha perde prerrogativas e benefícios de deputado, perde o foro privilegiado e ficará inelegível por 10 anos e três meses. E esse é o desejo da esmagadora maioria da população.
Mas a perda do mandado Cunha é o suficiente?
Corrupção escancarada
Eduardo Cunha é hoje a imagem sem retoques de um sistema político apodrecido. Peça chave no esquema de desvio de recursos da Petrobras, Cunha foi acusado de receber 5 milhões de dólares para liberar contrato de aquisição de um navio-sonda; igual valor lhe teria sido entregue na compra de um campo petrolífero na África.
O homem das contas secretas na Suíça ajudou a financiar a campanha de mais 100 deputados federais eleitos. Assim se formou a “tropa de choque” que o defende no Congresso. Mas, por detrás do exército de “Cunhas”, esconde-se uma poderosa rede de interesses empresariais. Revela-se aí o funcionamento oculto da ‘democracia’ no capitalismo.
O inimigo das mulheres, dos negros e dos LGBTS
Cunha não foi só a expressão da corrupção capitalista na política. Ele foi também um dos líderes dos setores mais reacionários. Seus projetos como o PL 5069, que dificulta o acesso ao aborto mesmo em caso de estupro, o “Dia do orgulho Hétero”, a redução da maioridade penal e a regulamentação da terceirização, foram instrumentos da campanha de ódio contra todos os oprimidos e explorados.
Por isso, as mulheres tomaram as ruas em enormes manifestações contra Cunha e o machismo. A queda desse reacionário é a vitória das mobilizações das mulheres, dos LGBTs e dos negros.
O arquiteto do golpe parlamentar
Eduardo Cunha foi aliado do petismo por muitos anos. Sendo um dos caciques do PMDB, esteve no apoio a Lula, em seu segundo mandato, e a Dilma, nos seus primeiros quatro anos. A ascendência de Cunha sobre negócios bilionários da Petrobras explica-se pela divisão de influências negociada entre o PT e o PMDB.
A decisão de Dilma de não apoiar Cunha à presidência da Câmara provocou a ruptura. Depois disso, Cunha foi passando progressivamente à oposição. A crise política e a Lava Jato aceleraram a rota de colisão. Após tentativas de negociação fracassadas com o PT, o deputado aceitou o pedido de impeachment. A partir daí, Cunha converteu-se, em acordo com Temer e o PSDB, no arquiteto do golpe parlamentar.
Prisão e cadeia para Cunha
A cassação do mandato de Cunha é muito pouco. As investigações sobre os negócios escusos do deputado devem alcançar os grandes empresários que o financiaram, assim como as centenas políticos associados a ele.
Cunha deve ir pra cadeia e todos seus bens devem ser confiscados. O mesmo deve acontecer com os banqueiros, os empreiteiros e os industriais que o patrocinaram. A cassação de Eduardo Cunha é uma vitória, mas é só a ponta do Iceberg. Sem acabar com o sistema que o criou, novos Cunhas aparecerão.
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