Reforma tributária: pontos positivos e uma ausência importante

Relatório preliminar foi apresentado na Câmara. Primeira votação já está prevista para início de julho


Publicado em: 7 de junho de 2023

Brasil

Esquerda Online

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

André Freire, da redação

Brasil

Esquerda Online

André Freire, da redação

Esse post foi criado pelo Esquerda Online.

Compartilhe:

Ouça agora a Notícia:

Na última terça-feira, dia 6 de junho, foi apresentado na Câmara dos Deputados o relatório – ainda inicial – sobre a proposta de Reforma Tributária.

O relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), afirmou que apartir destas propostas vai discutir possíveis alterações com as bancadas da Casa. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu as propostas contidas no relatório.

A Reforma Tributária vai tramitar como Proposta de Emenda Constitucional (PEC), o que exige duas votações em cada Casa legislativa e quórum qualificado para a aprovação. O presidente da Câmara, o famigerado Arthur Lira (PP-AL), anunciou que a primeira votação na Casa já está prevista para início de julho.

O relatório é ainda muito genérico, mas em uma análise inicial é possível observar algumas propostas positivas, como: a cobrança de IPVA sobre “lanchas e jatinhos” (aeronaves e embarcações); a progressividade do mesmo IPVA sobretaxando ítens mais poluentes e nocivos ao meio ambiente; e a simplificação da cobrança de impostos sobre o consumo, incorporando algum mecanismo de devolução de valores cobrados de famílias mais vulneráveis (proposta apelidada com uma expressão em inglês, Cashback).

Fica uma questão importante: se estas propostas serão realmente suficientes para combater uma realidade tributária muito injusta, onde a cobrança de impostos sobre o consumo acaba por  taxar principalmente os trabalhadores e a população mais pobre, que gastam a maior parte seu salário ou renda na compra de produtos básicos. A princípio, as mudanças não parecem ser tão significativas para atingir este objetivo tão esperado pela maioria da população.

Entretanto, não é só os limites das propostas contidas no relatório que preocupam. A manutenção da divisão da Reforma Tributária em duas partes, deixando alterações em relação a cobrança de impostos sobre a renda somente para um segundo momento, cria também um risco de que temas fundamentais fiquem adiados “eternamente”.

É o caso do Imposto sobre Grandes Fortunas. Uma proposta que pode ser uma fonte de receita importante para financiar uma ampliação dos investimentos sociais, fundamentais para a melhorar a vida do povo.

O único imposto não regulamentado

O Imposto sobre Grandes Fortunas tem uma longa história de discussões e protelamentos no Congresso Nacional. Muitas pessoas não sabem, mas este imposto está previsto na Constituição de 1988, mas nunca foi regulamentado. Aliais, é o único imposto que não foi regulamentado. Consciência?

Em uma recente pesquisa do DataSenado – Panorama Político 2023, foi registrado que 62% dos entrevistados apoiavam a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas. Ou seja, ao contrário do que dizem os ricos e poderosos e seus representantes políticos, é uma proposta que possui ampla aprovação popular.

Já existiram várias propostas diferentes que buscavam regulamentar este imposto, variando sempre em relação a alíquota a ser cobrada e a faixa que seria atingida a cobrança. Mas, mesmo depois de quase 35 anos de promulgada a nossa Constituição, nenhuma delas avançou significativamente no Congresso.

Partidos de esquerda, como PT e o PSOL, já apresentaram diferentes propostas e até uma proposta comum – em conjunto com outros partidos. Existem propostas até de parlamentares que pertencem a partidos conhecidos como de direita, como o caso do projeto da Senadora do PSD do Maranhão, Eliziane Gama, que atualmente é a Relatora da CPMI dos atos golpistas. Mas, mesmo com diferentes propostas, algumas até com uma abrangência bem reduzida, nada foi suficiente para fazer a avançar a sua tramitação no Congresso.

O Imposto sobre Grandes Fortunas não pode ser considerada uma proposta socialista. Afinal, já é adotada em vários países que tem o capitalismo como sistema econômico. Este imposto progressivo é cobrado, de diferenças formas, em países como França, Espanha, Itália e, até nos nossos vizinhos sul americanos: Argentina, Colômbia e Uruguai.

A segunda parte da reforma tributária está prevista para a ser analisada pelo Congresso no segundo semestre deste ano. Mas, o risco é bem nítido, devido a terrível correlação de forças em ambas as Casas, mais uma vez a regulamentação do Imposto sobre as Grandes Fortunas fique “esquecida”. E, novamente, perdermos a oportunidade de avançar no financiamento do combate as terríveis injustiças sociais que marcam a história brasileira.

A regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas não será conquistada apenas com negociações à portas fechadas no Congresso Nacional. Portanto, é necessária uma ampliação imediata desta discussão em toda a sociedade brasileira. Afinal, a aprovação de uma proposta como esta só será possível com muita pressão popular e vontade política do atual governo.


Compartilhe:

Contribua com a Esquerda Online

Faça a sua contribuição