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MUNDO

Conselho Europeu: Theresa May é pressionada para um Brexit “leve”. Trabalhistas se dividem

Por: Victor Amal, de Berlim, Alemanha
Theresa May, na reunião do Conselho Europeu, entre as bandeiras da União Europeia e a de seu país

Theresa May, na reunião do Conselho Europeu, entre as bandeiras da União Europeia e a de seu país

Nos dias 28 e 29 de junho realizou-se a reunião do Conselho Europeu. Em artigo anterior tratamos sobre o tema da imigração. Neste, trataremos sobre o Brexit, outro ponto de destaque da reunião.

A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, foi pressionada pelos chefes de estado europeus para que isole os eurocéticos que estão dentro do seu Gabinete e negocie um Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) “leve” ao invés de um “pesado”. Os membros da UE afirmaram que, caso May seja bem-sucedida, o bloco deve apresentar uma proposta mais vantajosa ao Reino Unido do que a que vinha sendo negociada.

Essas duas posições presentes dentro do governo conservador do Reino Unido, por um Brexit “leve” ou “pesado”, dizem respeito aos termos da saída do país da UE. Aqueles que defendem uma saída “leve” do bloco querem permanecer na zona de livre circulação de bens europeus, próximos à união aduaneira (comercial) da UE, como forma de amenizar o prejuízo econômico que o Brexit em si pode trazer para o país.

Já os defensores de um Brexit pesado seguem o lema do ministro das Relações Exteriores de May, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson. Ao ser criticado pelas empresas Airbus e BMW em relação ao prejuízo econômico advindo da saída da UE, Johnson afirmou: “danem-se os negócios”. Para este setor do partido conservador, a prioridade do governo deve ser a independência do Reino Unido em relação às instâncias de poder da UE, assim como o fim das obrigações do país com a imigração e a entrada de refugiados impostas pelo bloco.

Nesta próxima sexta-feira (06), May finalmente lançará os White Papers (documentos estratégicos do governo) sobre o Brexit. É esperado que estes documentos reflitam a posição do Brexit “leve”, estabelecendo um comprometimento do Reino Unido com a UE, em que o país permanecerá próximo do bloco em relação à união aduaneira e à moeda única (euro) no comércio de bens. Caso May opte por esta negociação, devem haver pedidos de demissão em seu gabinete, não apenas de Johnson, mas também de outras figuras importantes como David Davis e Michael Gove, sinalizando escalonamento da crise no partido conservador.

Contudo, mesmo que May aprove o documento do Brexit “leve”, ainda é incerto se ele será aceito pela UE. O responsável pela negociação do bloco com o Reino Unido, Michael Barnier, afirmou durante a reunião do Conselho no dia 29 que a proposta de May para que o país permaneça apenas na zona de livre comércio de bens é contrário ao princípio indivisível do bloco europeu: livre circulação de bens, serviços, capital e pessoas.

Barnier, entretanto, assume esta posição mais dura pela sua posição no processo de negociação. De acordo com o que os chefes de estado europeus falaram na reunião do Conselho, o “princípio indivisível” da UE pode ser flexibilizado caso o Reino Unido também flexibilize seus termos de negociação. Um dos pontos exigidos pela UE é que o país aceite o poder da Corte Europeia de Justiça dentro do Reino Unido na resolução de futuros acordos comerciais, o que é considerado um escândalo para os defensores de um Brexit “duro”.

Partido Trabalhista (Labor) e o Momentum
Enquanto isso, o Momentum, movimento à esquerda dentro do Partido Trabalhista inglês, junto de lideranças sindicais, está pressionando seu líder, Jeremy Corbyn, para que ele se vire contra o Brexit e chame um referendo popular sobre o acordo final negociado por May.

A campanha “Trabalhistas pelo Voto Popular” já tem o apoio de 60 parlamentares e está coletando assinaturas de seus membros para forçar uma votação na próxima conferência partidária sobre o tema, a fim de que a proposta do referendo seja levada de forma unitária pelos trabalhistas ao parlamento. O movimento já tem 2.600 assinaturas, faltando apenas 1.400 para chegar ao mínimo exigido para que a proposta seja discutida obrigatoriamente na conferência.

Apesar de, em 2016, o Momentum ter defendido uma política ambígua em relação ao Brexit, agora o movimento tomou uma posição claramente pró-UE. Contudo, esta linha do Momentum está em desacordo com Corbyn, que não deseja levar o novo referendo à cabo. Sua posição é de que os trabalhistas votem no parlamento contra a negociação do Brexit proposta por May, e assim forcem a chamada de novas eleições gerais. Esta contenda entre Corbyn e o Momentum já ocorreu há algumas semanas, quando o líder da esquerda trabalhista não participou de uma manifestação de 100 mil pessoas em Londres que pediam por um referendo popular em relação à negociação final do Brexit.  

FOTO: Theresa May, na reunião do Conselho Europeu, entre as bandeiras da União Europeia e a de seu país. Reuters

 

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