Altobelly Rosa, de Belém (PA)
Acabo de assistir ao filme Pantera Negra, gostei de muitas coisas, achei lindo. O protagonismo das mulheres negras, as músicas africanas, a ancestralidade, alguns rituais parecidos com os rituais de candomblé e umbanda e o elenco. Mas algumas inquietações reavivaram em minha mente durante a sessão de cinema. Saí da sala me perguntando de qual Pantera Negra gostei mais? Na verdade sei esta resposta desde muito tempo.
O filme é PRETO, isso é inquestionável, entretanto, como muitos filmes feitos nos EUA, o embate Malcom X versus Luther King ganha mais um capítulo. Como os pretos devem tratar os racistas, como os negros devem combater o racismo? Armar o oprimido sempre soou como terrorismo. Nos dias atuais, nos quais a reação preta tem acontecido com mais frequência, onde temos mais pretos armados com idéias, somos acusados de “mi mi mi”, falam em vitimismo, etc e tal. Me pergunto se ainda existem tantos outros irmãos de sangue que não comem, ocupando os piores empregos, morando em favelas, sofrendo violência do Estado, seria errado dar-lhes condições de reagir?
Será que Wakanda existe? Talvez o reino dos HQ’s sirva de metáfora para questões dos dias atuais. Muitas negras e negros hoje parecem viver nesse reino do sucesso. A porta do sucesso para as pretas e os pretos é bastante estreita, os poucos que entram, ao invés de estourarem as paredes, para facilitar a entrada, resolvem se vangloriar pelo seu talento. Agem como um Neymar, que diante da miséria do seu povo dá banho em modelos com champanhe de R$ 5 mil. Reforçam a tese de “basta esforço”, “ só não é um Joaquim Barbosa quem não quer”, reproduzimos a mentira que os brancos sempre nos contaram. A coisa está ficando branca, até no rap, o moleque faz umas músicas de sucesso e no outro dia começa a pagar de mister Money: “eu cheguei aqui com meu talento”.
O Brasil vem de 13 anos de um governo que, com todas suas contradições, jogou algumas migalhas. Alguns de nós podemos ir a universidade, outros tiveram pais que estudaram, conseguiram um emprego melhor e saíram da senzala, ou da favela. Surgia assim uma geração de Panteras Negras, nascida em cativeiro, quem nasce em Wakanda não pode entender o sentimento de quem nasceu em Oakland. Só nos interessa construir uma fortaleza se for pra lutar por outros pretos, assim como foi Palmares. Não podemos permitir que as ideias dos colonizadores nos dominem. Não podemos falar em conviver como uma nação harmônica, enquanto muitos de nós ainda vivermos no atraso destinado aos pretos, como cortesia dessa sociedade branca. Saio do filme consciente de que sou dos que preferem o oceano a prisão.
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