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Colunas

Um alerta sobre o que desejar neste fim de ano

Valerio Arcary, militante do MAIS

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

Por Valério Arcary, Colunista do Esquerda Online

Lula e Bolsonaro encabeçam as mais recentes pesquisas de opinião. Não são poucos na esquerda que vão comemorar o Natal pensando que, nestas circunstâncias, Lula venceria, e a ofensiva reacionária desencadeada desde 2015 seria interrompida. Não quero estragar as festas de fim de ano de ninguém. Mas a hipótese mais provável é que nenhum dos dois estará na disputa do segundo turno no ano que vem. E a ofensiva reacionária precisa ser derrotada antes da eleições, ainda em fevereiro, quando Temer e seus aliados vão tentar mais uma vez aprovar a reforma da Previdência. O desafio de mobilizar grandes massas na escala necessária para barrar este ataque não será simples.

Aqueles que sonham com este cenário estão se deixando iludir pelo desejo. O desejo é o alimento do pensamento mágico. O pensamento mágico é uma tentativa de racionalização ilusória que oferece como recompensa uma sensação de controle ou segurança sobre um futuro incerto.

Claro que estou entre aqueles que, mesmo não votando em Lula, defendo o direito democrático de ele poder participar da eleição. Mas ele será, provavelmente, condenado. Muito difícil a perspectiva de uma mobilização popular que faça tremer o Tribunal de Porto Alegre.

Em algum momento, mesmo Lula fazendo campanha até o último momento, o PT deverá substituir Lula por outro candidato, procurando a transferência de votos.

Bolsonaro terá dificuldades quase intransponíveis para chegar a um segundo turno. Seu crescimento ao longo dos últimos dois anos tem um teto, porque as posições que lhe deram visibilidade são neofascistas, e a audiência para estas propostas ainda é minoritária. O mais provável é que Bolsonaro já tenha chegado a este teto, e durante a campanha deverá perder influência. Os pesos pesados do PIB já estão articulados em torno de Alckmim. Subestimar a capacidade da Avenida Paulista de jogar pesado seria pura miopia. Neofascistas podem ser úteis para a classe dominante, mas somente em uma situação muito mais aguda na luta de classes. Disto não decorre que uma da tarefas centrais da esquerda não deva ser combatê-lo, desmascarar a demagogia de suas propostas, e lutar para que lhe seja imposta uma derrota esmagadora.