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MUNDO

Argentina: Reforma da Previdência é aprovada após mobilização histórica

Por: Renato Fernandes, de Campinas, SP

Uma jornada de mobilização histórica aconteceu neste dia 18 de dezembro na Argentina. Em determinado sentido, relembrou os inícios do Cordobazo de 1969 ou o início das grandes mobilizações de 19 e 20 de dezembro de 2001 que derrubaram cinco presidentes e foram fundamentais para modificar o panorama político do país. As mobilizações desse 18 ficarão para história dos movimentos sociais do país.

Desde cedo, colunas de trabalhadores foram ocupando a Praça do Congresso, no Centro da capital Buenos Aires, para impedir que os deputados votassem a Reforma da Previdência. Na vanguarda desta manifestação estava uma parte importante da esquerda radical argentina: segundo o jornal La Nación, a esquerda trotskista “ocupou a linha de frente no combate contra as forças de segurança”.

Para combater a manifestação, a Polícia Federal armou um verdadeiro esquema de guerra, repetindo muito da operação da última quinta-feira, 14 de dezembro. A repressão iniciou logo cedo e os milhares de trabalhadores, jovens e aposentados que estavam ali, resistiram como puderam. O objetivo do governo era dispersar as manifestações para conseguir uma sessão tranquila para a retirada de direitos dos trabalhadores. Não foi isso que conseguiu. A resistência foi muito grande, tal como a manifestação. Apesar disso, uma centena de pessoas foram detidas e mais de 160 pessoas ficaram feridas com a brutal repressão que chegou a jogar bombas de gás numa estação de metrô, a disparar no rosto dos manifestantes  e a atropelar a população que protestava.

A burocracia sindical atrasa a mobilização
A principal central sindical, a CGT, se reuniu somente às 10h da manhã para decidir sobre a greve geral. Foi muito tarde. Em algumas fábricas e locais de trabalho, as assembleias já haviam decidido pela paralisação. A greve foi iniciada a partir das 12h, com duração de 24 horas. Mesmo que não tenha havido uma organização pela base da greve geral, a medida afetou diversos setores, entre eles os aeroportos que tiveram até o momento mais de 300 voos cancelados devido à greve e a paralisação dos serviços de transporte a partir das 21h, no caso do metrô de Buenos Aires, e da 0h, no caso dos trens da região metropolitana.

No meio de toda a repressão, a CGT ainda prestou um serviço para as forças de repressão do governo Macri. Às 16h37, a Central soltou um comunicado dizendo que “um grupo de provocadores pretende desvirtuar a manifestação”, com a clara intenção de se desvincular-se da resistência ativa que milhares de trabalhadores realizavam no Congresso. A CGT perdeu uma oportunidade de denunciar a face repressiva do governo. Uma vergonha para uma organização que diz representar os trabalhadores.

Da resistência aos cacerolazos
A resistência continuou bravamente durante toda a tarde e, já no período da noite, diversos manifestantes começaram a sair nas ruas de Buenos Aires para fazer cacerolazos (panelaços) contra a repressão e contra a Reforma da Previdência. Foram milhares de diversos bairros da cidade como San Telmo, Chacarita, entre outros bairros, com a presença de crianças e famílias inteiras. Esses cacerolazos aconteceram em diversas regiões do país, como Rosário, La Plata e Córdoba, assim como tinha ocorrido com a resistência durante todo o dia contra a Reforma da Previdência e em repúdio à repressão. Essas manifestações, que demonstram o rechaço massivo da população ao ataque do governo, continuaram durante toda a noite e a madrugada deste 19 de dezembro.

Já no interior do Congresso, os debates começaram às 14h sobre a reforma. Na tarde do dia de ontem, a deputada Romina Del Plá, do Partido Obrero, propôs um referendo popular sobre a reforma: o governo ganhou a votação contra o referendo por 136 a 108 votos. Outros deputados pediram para que o projeto fosse retirado e debatido novamente, na comissão. A maioria governista ganhou a votação, durante a madrugada, por 127 votos contra 107.

Somente nesta manhã, às 7h05 (8h05 no Brasil), o governo conseguiu aprovar a Reforma da Previdência: com 128 votos favoráveis, 116 contra e 2 abstenções. Sem dúvida alguma, a resistência de ontem deve continuar hoje nas ruas e nas próximas horas os manifestantes devem ocupar as praças novamente. Será uma demonstração de forças entre um Congresso capacho dos planos neoliberais e cada vez mais desacreditado e manifestações cada vez maiores. É necessário continuar a luta contra a implementação dessa reforma.

É necessário que os trabalhadores brasileiros vejam o que está passando na Argentina, pois é um exemplo da resistência que devemos preparar aqui para barrar a “nossa” Reforma da Previdência. Precisamos ter uma solidariedade ativa, nas ruas e redes sociais, com os trabalhadores argentinos e contra a retirada de direitos do governo Macri. A continuidade da luta lá, mesmo após essa provocação, fortalecerá a nossa luta contra a reforma.

Viva a luta dos trabalhadores argentinos contra a Reforma da Previdência! Abaixo a repressão do governo Macri!

 Foto: Manifestantes na Praça do Congresso