Por: Sueny Moura, de Belém, PA
O Congresso eleito em 2014 é considerado o mais conservador da história desde 1964. No último período, verifica-se um crescimento e um fortalecimento das ideologias racistas, LGBTfóbicas e machistas, expressas nos discursos dos parlamentares e nas produções legislativas que ameaçam os direitos dos setores oprimidos. Há uma ofensiva para a criminalização total do aborto no Brasil. Este Congresso representa uma ameaça aos direitos conquistados pelas mulheres, portanto, há a necessidade que os movimentos feministas e a esquerda brasileira fique em alerta.
Atualmente, o aborto é considerado crime no Brasil, exceto nos casos especificados pela lei. Diante das estatísticas sobre mortes de mulheres em decorrência de abortos clandestinos e dos gastos públicos em procedimentos realizados pelo SUS para a realização de curetagem em virtude de abortos provocados ou espontâneos, é preciso fazer uma amplo debate sobre a legalização do aborto, para que ele deixe de ser considerado como caso de polícia e passe a ser tratado como assunto de saúde pública. O Estado deve desenvolver políticas públicas de saúde para as mulheres que permitam a elas realizarem abortos de forma legal, segura e gratuita através do Sistema Único de Saúde (SUS).
A luta pela legalização do aborto é uma das mais antigas bandeiras do movimento feminista e segue sendo atual e importante. As iniciativas para a descriminalização do aborto são importantes, mas insuficientes para salvar a vida das mulheres que morrem em decorrência de abortos clandestinos, principalmente as pobres e pretas.
A legislação sobre aborto no brasil
O aborto é considerado crime no Brasil previsto pelo código penal. O art. 140 prevê pena de prisão de até 3 anos para as mulheres que praticarem aborto. No entanto, há três situações em que o aborto é permitido no Brasil:
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Quando a gravidez oferece risco de vida a mulher;
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Malformação fetal, como nos casos de fetos com anencefalia;
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Quando a gravidez for decorrente de estupro.
Mesmo os casos em que o aborto é permitido legalmente no Brasil estão ameaçados de retrocessos, tramitam no Congresso projetos de lei e de emenda à constituição de autoria de setores conservadores e machistas, que usando como fundamento a ideia de preservação da vida, atacam os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e a autonomia ao seu próprio corpo.
Proposições legislativas em tramitação no congresso para a criminalização do aborto
Proposições legislativas |
Autor (a)/Autores (as) |
Ementa/explicação |
PL 5069/2013 |
Eduardo Cunha (PMDB/RJ); Isaias Silvestre (PSB/MG); João Dado (PDT/SP); outros |
Ementa: Acrescenta o art. 127-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal. Explicação: Tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto. |
PL 478/2007 |
Luiz Bassuma (PT/BA); Miguel Martini (PHS/MG) |
Ementa: Dispõe sobre o Estatuto do Nascituro e dá outras providências. Explicação: Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 1940 e a Lei nº 8.072, de 1990. |
PEC 164/2012 |
Eduardo Cunha (PMDB/RJ); João Campos (PSDB/GO) |
Ementa: Dá nova redação ao caput do art. 5º da Constituição Federal. Explicação: Estabelece a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção. |
PEC 58/2011 |
Dr. Jorge Silva (PDT/ES) |
Ementa: Altera a redação do inciso XVIII do art. 7º da Constituição Federal para estender a licença maternidade em caso de nascimento prematuro à quantidade de dias que o recém nascido passar internado.1 |
PEC 29/2015 |
Magno Malta (PR/ES); outros |
Ementa: Altera a constituição federal para acrescentar no art.5º, a explicitação inequívoca “da inviolabilidade do direito a vida, desde a concepção”. |
PEC 181/2015 |
Aécio Neves (PSDB) |
Ementa: Altera o inciso XVII do art. 7º da constituição federal pra dispor sobre licença maternidade em caso de parto prematuro.2 |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados disponíveis no site da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, 2017.
Os desafios para o movimento feminista e de mulheres da classe trabalhadora
Diante da ofensiva conservadora contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e das ameaças de retrocessos aos direitos até aqui conquistados, como os permissivos legais para a realização do aborto, iniciativas como a conformação da frente nacional pela legalização do aborto, composta por vários movimentos feministas e de mulheres e organizações da esquerda brasileira, não são apenas necessárias, mas fundamentais para alertar o conjunto das mulheres trabalhadores para a necessidade de resistir a esses ataques e lutar pela garantia de nossos direitos. No dia 28 de setembro, devemos todas tomar as ruas e lutar contra a criminalização das mulheres e a legalização do aborto.
Para além do dia 28 de setembro, há a necessidade da mais ampla unidade entre todos e todas que querem lutar contra os ataques do governo ilegítimo de Temer e do Congresso de corruptos e reacionários para derrubar todas as contrarreformas, leis ou liminares que atentem contra a classe trabalhadora, o povo pobre, a juventude e os setores oprimidos. Mais que isso, precisamos construir uma frente de esquerda e socialista composta pelos partidos da esquerda brasileira, como o PSOL, PSTU e o PCB, movimentos sociais e de combate às opressões, movimentos estudantis e centrais sindicais e sindicatos combativos para oferecer uma alternativa política aos de baixo, seja nas lutas e nas eleições, contra a direita representada por Temer, o Congresso de corruptos e reacionários e independente do Lulo/petismo.
1 Aparentemente benéfica por ampliar os direitos das mulheres trabalhadoras, esta PEC na verdade oculta uma manobra parlamentar, para incluir através de emenda constitucional um parágrafo que estabelece o direito à vida desde a concepção.
2 Apresenta o mesmo conteúdo da PEC58/2011. Pretende tornar o embrião fecundado sujeito de direito igual uma pessoa nascida viva, criminalizando o aborto em qualquer situação, condenando as mulheres por assassinato.
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