Por: Ademar Lourenço, de Brasília*
Pela terceira vez em três anos, os deputados terão que votar o afastamento de um Presidente da República. Isto é inédito na história do país e mostra que estamos longe em uma situação tranquila. A denúncia feita pelo procurador Rodrigo Janot contra Michel Temer passou pelo Supremo Tribunal Federal e agora vai para a Câmara dos Deputados. Se 342 deputados votarem a favor do andamento do processo, Temer é afastado e teremos um novo presidente da república.
Michel Temer tem mais de noventa porcento de rejeição. As denúncias contra ele são graves, ele é acusado de comandar uma organização criminosa que recebeu mais de R$ 500 milhões em propina. As provas são muitas. Gravações, documentos e os mais de R$ 50 milhões encontrados em um apartamento de Geddel Veira Lima, parceiro de longa data de Temer. Além disso, a economia não levanta e seguimos com mais de 14 milhões de desempregados. Mesmo assim, o mais provável é que os deputados salvem Temer.
A não ser que haja uma grande rebelião popular, vamos repetir o resultado do início de agosto, quando a maioria dos deputados votou a favor do presidente. Porque Temer consegue se garantir?
Temer tem a aprovação dos banqueiros e grandes empresários. Ele articulou a aprovação da reforma trabalhista que retira direitos dos trabalhadores e aumenta os lucros. Ele também é autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que obriga o governo a tirar dinheiro da saúde e educação para pagar juros aos bancos. Ele quer ainda este ano fazer uma reforma da previdência que, além tirar mais dinheiro ainda dos gastos sociais para dar aos bancos, aumenta a procura por previdência privada.
É por isso que um empresário como Roberto Justus elogia o presidente. Por isto que João Dória, prefeito de São Paulo, pré-candidato a presidência e uma das principais lideranças empresariais do país, troca afagos com Temer.
Quem manda no Congresso Nacional são os grandes empresários. São eles que financiam as campanhas políticas. Hoje é proibido uma empresa doar dinheiro para campanha, mas mesmo assim um empresário pode doar como pessoa física. Isso, claro, além das doações ilegais.
Alguns nem precisavam ser financiados por empresários porque são empresários. Mais da metade dos deputados são donos de empresas e têm interesse direto em atacar os trabalhadores para aumentar seus lucros. Só para se ter uma ideia, a bancada que representa os grandes fazendeiros têm cerca de 40% da Câmara dos Deputados. Mas menos de 0,1% da população é composta de fazendeiros.
Temer não foi eleito diretamente pelo povo. Foi colocado no Poder com a ajuda dos movimentos que pediram o impeachment de Dilma. Agora, diante todo esse mar de lama, esses mesmos movimentos somem e alguns de seus membros ganham cargos em prefeituras. Eles foram financiados e apoiados pela classe dominante apenas para colocar Temer na presidência.
Por isso os deputados podem votar a favor de um dos presidentes mais odiados da história. Porque eles têm apoio dos donos do dinheiro. A troca de votos por cargos e verbas também faz parte do jogo, mas isso é apenas parte do processo. O Congresso Nacional, que deveria ser “a casa do povo” é a casa de quem paga mais.
*“Esse artigo representa as posições do autor e não necessariamente a opinião do Portal Esquerda Online. Somos uma publicação aberta ao debate e polêmicas da esquerda socialista”.
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