Editorial de 12 de setembro,
Pela primeira vez, a Bolsa brasileira passou dos 74 mil pontos. A máxima histórica desta segunda-feira (11) superou os 73.516 pontos de 20 de maio de 2008. O que explica tamanha euforia no mercado financeiro? Por que os investidores exibem confiança, mesmo com toda turbulência política? Apresentamos aqui três razões principais que explicam esse otimismo da classe dominante. E, ao final do texto, sugerimos um caminho para a retomada da luta unificada da classe trabalhadora.
Temer ganhou força
Depois de um primeiro semestre de muitas dificuldades, com escândalos de corrupção, resistência popular às reformas e fissuras na base parlamentar, o governo vem conseguindo, nas últimas semanas, contornar a crise e retomar a ofensiva.
Apesar da persistência da instabilidade política, que tem como pano de fundo a crise do sistema político-partidário, Temer segue com o apoio da maioria dos grandes empresários e banqueiros, que querem sua permanência até as eleições de 2018. Esse suporte decorre da capacidade que o governo vem demonstrando, até aqui, de aplicar o plano de austeridade fiscal e as reformas neoliberais.
Com Henrique Meirelles no comando da Fazenda, a burguesia comemora o selvagem programa de destruição de direitos sociais, agressivos cortes de investimentos públicos e privatizações generalizadas.
A reviravolta na delação da JBS favorece Temer. Tanto é assim, que a prisão de Joesley foi festejada na Bolsa de Valores nesta segunda.
A recuperação do governo também se manifesta na contenção, ao menos por ora, das crises na base aliada, especialmente na conturbada parceria com o PSDB. Segundo afirmou Meirelles, a intenção é que a reforma da previdência seja votada em outubro no Congresso.
Os desdobramentos da crise política são imprevisíveis, devido aos agudos choques políticos-institucionais que giram em torno dos escândalos de corrupção. Porém, na atual conjuntura, prevalece o relativo fortalecimento do governo Temer.
O novo momento econômico
Após dois anos de profunda recessão, a economia brasileira apresenta sinais de melhora, embora a recuperação seja frágil.
O PIB teve crescimento de 0,2% no segundo trimestre, na comparação com o trimestre anterior, e 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o IBGE. O primeiro trimestre de 2017 já havia registrado alta de 1%, depois de oito trimestres de quedas consecutivas.
Junto com a ligeira recuperação do PIB, ocorre uma acentuada queda da inflação – o IPCA acumula 1,62% no ano, menor taxa desde 1994 – e cortes na taxa básica de juros; na quarta-feira (6), o Banco Central baixou os juros em 1 ponto percentual, para 8,25% ao ano. É o menor nível em quatro anos.
A sutil melhora no ambiente econômico não significa reversão do cenário de devastação social. Ao contrário, a tímida recuperação econômica está alicerçada no desemprego, arrocho salarial, desmonte de direitos sociais, destruição dos serviços púbicos, etc. O elevado desemprego – que hoje atinge 13,3 milhões de pessoas – e os baixos salários vieram para ficar.
Por exemplo, a pequena diminuição do índice de desemprego, divulgado pelo IBGE em 31 de agosto, foi em razão do aumento do trabalho informal. Isto é, em função da falta de vagas com carteira assinada, cada vez mais brasileiros se submetem ao subemprego.
O recuo da luta de classes
A confiança da burguesia, refletida nos exuberantes números da Bolsa, não se explica somente pelo fortalecimento relativo do governo Temer e pela melhora do cenário econômico. A euforia do mercado expressa também a diminuição da temperatura da luta de classes.
No primeiro semestre, uma onda de lutas culminou na histórica greve geral de 28 de Abril. A classe trabalhadora demonstrou disposição para enfrentar as reformas de Temer e, com suas lutas, ajudou a debilitar o governo. Porém, desde então, a dinâmica se inverteu. A luta unificada perdeu força, as manifestações se esvaziaram e as mobilizações se dispersaram.
Diversas fatores explicam esse recuo. E o papel das direções políticas e sindicais é, certamente, um dos principais deles. A direita sindical, Força Sindical e UGT, desmontaram a greve geral de 30 de junho e são base de sustentação de Temer. A CUT e CTB, por sua vez, apresentam discursos raivosos contra o governo, mas pouco estão fazendo de efetivo, nesse momento, para organizar a luta real.
Por outro lado, Lula e o PT, que são, na esquerda, ainda as principais referências políticas dos trabalhadores, atuam visando as eleições de 2018 e não a mobilização social para derrotar, nas ruas, Temer e as reformas.
Retomar a luta unificada, já
A reforma trabalhista foi aprovada, exterminando direitos históricos. A da previdência voltará à pauta do Congresso, para por fim ao direito à aposentadoria. Um plano macabro de privatizações quer entregar ao capital estrangeiro o que restou do patrimônio público.
Se vê retrocessos em todas as áreas: agravamento da destruição ambiental; extermínio de povos indígenas; mais e mais violência urbana, atingindo sobretudo as mulheres e a população pobre e negra; educação e saúde públicas abandonadas, enfim, cada vez mais desigualdade, miséria, opressão e injustiça.
Não dá para esperar até as eleições de 2018. Até lá será tarde demais: não terá sobrado um direito para contar história. É preciso retomar a organização da luta agora, imediatamente. A classe trabalhadora demonstrou que quando se movimenta, de forma unificada, pode parar o país.
As trabalhadoras e os trabalhadores, juntos com todos os setores oprimidos, podem derrotar esse governo e as reformas. Para isso, é preciso que as centrais, os sindicatos, os movimentos sociais e estudantis retomem a luta unificada, rumo a uma nova greve geral. As campanhas salariais do segundo de semestre representarão um duro embate com as patronais. Mais do que nunca, a luta unificada é o caminho.
É preciso, também, que Lula e o PT deixem apenas de discurso eleitoral e ajudem a organizar, de fato, a mobilização social contra as reformas.
A CSP-Conlutas e demais entidades combativas devem jogar todos esforços nesse sentido. O dia nacional de luta, marcado para o dia 14 de setembro, pode ser o ponta pé inicial da retomada da resistência social.
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