Por: Carlos Zacarias de Sena Júnior*, colunista do Esquerda Online
André Fufuca não esperava por essa. Deputado do Partido Progressista (PP) em primeiro mandato e filho do prefeito da cidade maranhense de Alto Alegre do Pindaré, Fufuquinha, como é conhecido, certamente não sonhava que aos 28 anos de idade pudesse vir a dirigir a Câmara dos Deputados, tornando-se o terceiro na linha de sucessão do, digamos, “presidente” Temer. O acontecimento, que deverá entrar para a história da cidade de 32 mil habitantes situada no oeste maranhense, não deixará de constar também nos futuros livros de história que abordarão esse infausto momento do país, cujo comando é exercido por um presidente golpista que, rejeitado por 95% dos brasileiros, seguiu para a China para, literalmente, vender o país.
Em suas primeiras declarações como presidente da Câmara, Fufuquinha mandou um recado para os seus colegas anunciando que pretende dar andamento à reforma política, tema que se arrasta há algumas semanas sem resolução. A propósito do imbróglio, talvez Fufuquinha possa contribuir com sua experiência de filho de prefeito para destravar a pauta em torno da proposta que prevê, entre outras coisas, o distritão, um modelo de eleição que só existe no Afeganistão, na Jordânia, em Vanuatu e nas Ilhas Pitcairn. Mas Fufuquinha sabe que se a proposta afiançada pelo peemedebista Lúcio Vieira Lima, presidente da Comissão da Reforma Política, é demasiadamente polêmica, então já disse que estará satisfeito se conseguir aprovar a cláusula de barreira e a proibição de coligações já para 2018.
Se o leitor que acompanhou este texto até aqui ainda não entendeu a gravidade do problema, convém reforçar a mensagem, pois mesmo a simples, remota e implausível hipótese de um parlamentar que nascido em 1989 possa conduzir a votação de tema de tamanha importância para o país, deveria causar arrepios. Acrescente-se a esta temível possibilidade, o fato de que o jovem deputado, médico de formação, já passou por dois partidos (PSDB e PEN) antes de ingressar no PP, além de ser aliado de Eduardo Cunha, a quem chamava de “papi”. Se isso não é motivo de preocupação, não há nada mais que possa ser.
Na verdade, Fufuca é o retrato fiel da nossa atual miséria política. Numa legislatura que é, certamente, a pior da história do país, cujos parlamentares fizeram questão de demonstrar seu total desprezo pelos eleitores, o que vier daqui para frente não deverá surpreender a ninguém. O Brasil se tornou o país de Fufuca simplesmente porque o desespero de nossas classes dominantes, aliado à incompetência de uma esquerda que foi aliada de boa parte do que está aí, nos conduziu a esta situação que põe no chinelo qualquer narrativa de realismo fantástico. E ainda que talvez sejamos capazes de rir das piadas em torno das bochechas vermelhas do deputado Fufuca, está cada vez mais difícil ter o mesmo bom humor diante do nosso próprio destino.
*Texto publicado no jornal A Tarde, 01/09/2017
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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