Por: Hammel Amorim, de Maceió, AL
É inacreditável e simplesmente inaceitável que a temática abordada pela parada LGBT de Alagoas, marcada para dezembro deste ano, seja a Implementação da Plataforma de Turismo LGBT. Um tema que já coloca muito bem o caráter da organização dessa parada alinhada com os interesses do empresariado em Alagoas e distante das verdadeiras causas LGBTs. Desde 2008, mundialmente o Movimento LGBT vem protagonizando lutas importantes e que muitas vezes tocam em um ponto fundamental: o direito de existir. Exatamente isso, os LGBTs cansaram simplesmente de terem sua existência negada e se colocaram na luta por sua identidade, seja de orientação sexual ou de gênero.
Apesar de centralmente a temática das lutas serem sobre identidades, as batalhas pela visibilidade LGBT têm um caráter marcante, elas se enfrentam diretamente com os governos que têm implementado uma série de ataques a esse setor oprimido. Desde a década de 70, o movimento LGBT vem conquistando direitos fundamentais. Aqui no Brasil, a partir das iniciativas do grupo SOMOS, foi possível encampar a pauta da saúde LGBT. Com a luta, foi possível pautar temas de direitos como o casamento civil, entre outros.
No entanto, a partir do que significou a grande crise econômica de 2008, vários grupos de extrema direita, os quais aqui no Brasil estão representados centralmente pela Bancada da Bala e Evangélica na Câmara, com Bolsonaro e Feliciano, por exemplo, ameaçam esses direitos. A relação entre a crise econômica e o fortalecimento de grupos de extrema direita contra os LGBTs não pode ser ignorada. Há uma relação tênue: quando há uma crise, o projeto dos grandes ricos é cortar direitos fundamentais, principalmente direitos democráticos, para garantir a superexploração dos setores. Existe uma relação muito próxima entre exploração e opressão.
É por isso que esses grupos de extrema direita têm sido financiados, enquanto a população LGBT vem sendo tão atacada dessa forma. Com a subida do governo golpista de Michel Temer, isso piorou ainda mais. A destinação de verbas às políticas públicas LGBTs foram cortadas, principalmente com a PEC do congelamento de gastos, o que significa que as politicas públicas não terão mais subsídios firmes em 20 anos, para além da aprovação recente da Reforma Trabalhista.
Junto dessa realidade de ataques econômicos e direitos, como o subfinanciamento de políticas públicas, há outra realidade notável: a LGBTfobia mata um LGBT a cada 25 horas no país, segundo dados do Grupo Gay da Bahia. Essa realidade onde nosso país figura entre um dos que mais mata LGBTs no mundo, principalmente TRANSEXUAIS, nos coloca em um patamar defensivo, mas necessário de aparecer para poder viver.
Ou o movimento LGBT assume essa pauta de luta contra a LGBTfobia, procurando sua criminalização, ou estamos fadados a morrer, principalmente nessa conjuntura nefasta. Não vejo outras temáticas a serem abordadas se não o subfinanciamento de políticas públicas, o direito à vida dos LGBTs, a questão de Saúde LGBT, o Fora Temer e seu projeto de cortes, para além da luta contra os grupos que querem impedir de continuarmos existindo. Aqui se trata de uma luta por existência.
E é por isso que muitos grupos, como o Stonewall Vive, têm participado das últimas greves gerais que tivemos em Alagoas. Falar sobre isso é uma questão de vida ou morte para todxs os LGBTs, assim como falar sobre visibilidade TRANS e LÉSBICA, o qual tem sido pautado com extrema importância no movimento LGBT. Diante disso, é um insulto que a PARADA LGBT desse ano, que já não foi realizada ano passado pela absurda justificativa de falta de financiamento, marcando o caráter da direção da parada estar alinhada à estratégia da Prefeitura e do governo do estado, tenha um tema como o Turismo LGBT. Isso daqui é um tema completamente fora de questão. Aqui a questão é continuarmos vivendo!
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