Marcada por profundas contradições encerram-se as Olimpíadas do Rio 2016. De um lado o orgulho dos atletas, do desempenho brasileiro, dos questionamentos aos padrões heteronormativos, da seleção de refugiados e do povo negro e trabalhador que apareceu no rosto de campeãs como Rafaela Silvia. De outro os gastos exorbitantes, o déficit de 200 milhões, as remoções, a transformação do Rio de Janeiro numa cidade negócio, ainda mais excludente. Os jogos do Rio 2016 tiveram duas facetas bem definidas e antagônicas.
A vitória de Rafael Silvia do judô, o beijo de Isadora Cerrullo do rúgbi, a resistência de Joanna Maranhão da natação, o talento de Marta e a equipe de futebol feminino quebraram tabus, enfrentaram preconceitos, deixaram as mulheres e as LBGT’s mais fortes. Usain Bolt o mito do atletismo, Isaquias Queiroz da canoagem, Robson Conceição do boxe, Serginho do Volei e mais uma vez Rafaela Silva mostraram a força dos negros, a alegria de vencer mesmo num mundo tão racista. Este foi o legado olímpico. Bem diferente da propaganda dos governos.
Infelizmente não se pode falar só de vitórias. O resultado brasileiro também chamou atenção para o desprezo pelos esportes e a ausência da educação física nas escolas públicas. Mesmo tendo atingido nossa melhor meta histórica a disparidade é enorme. O abismo entre as 19 medalhas brasileiras e as 121 dos Estados Unidos, as 42 da Alemanha e as 67 da Grã Bretanha revela as marcas da pobreza. Não são os talentos individuais que explicam os resultados. É claro que Michel Phelps atrai a admiração dos amantes do esporte, ganhou 28 medalhas na sua carreira. Mas essa desigualdade só pode ser explicada pela ausência do esporte de base. O esporte tem que estar na escola e a escola tem que existir pra todos os jovens. O Brasil é o penúltimo no ranking internacional de investimento por aluno. Este dado explica muita coisa.
As duas faces da olimpíada revelam os dois lados do Brasil. Na cidade do Rio de Janeiro o Leblon tem um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano do mundo, aproxima-se da Noruega. Enquanto o Complexo do Alemão e a Favela da Maré estão entre os piores do mundo. Os jogos acabaram, ficou o rombo de 200 milhões.
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