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EDITORIAL

Isaquias Queiroz: a cara e a coragem do povo brasileiro

O jovem baiano de 22 anos, nascido na pequena Ubaitaba (a 370 km ao sul de Salvador), é o primeiro brasileiro a conquistar três medalhas olímpicas numa mesma edição dos jogos. Um feito extraordinário.
Seu nome é Isaquias Queiroz, filho da dona Dilma. A história do canoísta é um pouco o retrato do nosso povo: as dores da vida, a força para vencer os obstáculos e a coragem para não aceitar as injustiças.
O menino “sem rim”   
Aos três anos, Isaquias sofreu um acidente grave. Uma panela com água fervente virou em cima dele: passou um mês internado e por muito pouco não perdeu a vida. Na hora do acidente, dona Dilma estava no trabalho de servente de pedreiro.
Para conseguir trabalhar e sustentar a família, muitas vezes tinha que deixar os 09 filhos trancados em casa, sozinhos. Num desses dias, o menino Isaquias foi raptado. Foi encontrado, depois, chorando numa roça de cacau.
Aos dez anos, um ano antes de começar a praticar canoagem, o garoto atrevido caiu de uma árvore. E caiu bem em cima de uma pedra. Internado, foi obrigado a perder um rim.
A trajetoria do campeão 
Isaquias conseguiu sua primeira grande conquista em 2011, aos 17 anos. Conquistou o primeiro lugar em duas modalidades no mundial júnior.
Era o mesmo ano em que o jovem havia deixado sua terra natal e mudado pro Rio. Não foi nada fácil. Pouco dinheiro, quase sem amigos, cidade desconhecida.
Apesar dos bons resultados, Isaquias foi excluído da seleção do Pan do México e não participou da Olimpíada de Londres. Revoltado, voltou pra Ubaitaba. Só voltou a treinar um ano mais tarde.
A força de vontade e o talento prevaleceram. Já em setembro de 2013 o atleta baiano conquistou um ouro e um bronze no Mundial de Canoagem.
Enfrentando as injustiças 
Mesmo com as importantes vitórias, Isaquias não recebeu o apoio básico: salário mínimo, falta de estrutura e de incentivos desanimaram o canoísta.
Numa postagem no Facebook, intitulada “Desabafo de um campeão triste”, o atleta disparou contra a Federação Brasileira de Canoagem: “Estou pensando seriamente em abandonar a canoagem. Já não aguento mais apresentar bons resultados e não ter mudanças significativas em minha vida”, escreveu.
Nas vésperas da Olimpíada, o campeão manteve a coragem de enfrentar as injustiças. Isaquias liderou o boicote da equipe brasileira de canoagem ao evento-teste realizado no Rio. O protesto foi contra os seguidos atrasos no pagamento de salários (oito meses sem receber) e as péssimas condições de hospedagem numa instalação do Exército em que estavam alojados. “Uma das causas da nossa decisão é o respeito que se deve ter por um atleta. É a nossa forma de protestar”, disse Isaquias na ocasião.
Quem são os verdadeiros heróis?
Todos ficaram muito felizes com a vitória da seleção masculina no futebol. E com razão: foi uma medalha de ouro merecida numa final emocionante.
Mas os verdadeiros heróis e heroínas do nosso esporte, que nos comovem o coração, são aqueles como Izaquias Queiroz, Rafaela Silva, Marta, Maicon Siqueira e tantos outros mais que, sem salários milionários, sem o suporte necessário, sem a badalação da mídia e enfrentando tanto preconceito, arrancaram alegria ao povo brasileiro. Elas e eles têm a cara e a coragem da nossa gente.