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Ser forte, belo e livre como Muhammad Ali

Muhammad Ali nos ringues – Divulgação/ Life

Gabriel Santos

Garbriel Santos é alagoano, estudante da UFRGS, militante da Resistência-PSOL (RS), vascaíno e filho de Oxóssi.

Onde você acha que eu estaria na próxima semana se eu não soubesse gritar e gritar? Eu provavelmente estaria em minha cidade natal lavando janelas e dizendo sim sinhô e não sinhô e conhecendo meu lugar..”

Muhammad Ali

 

Um dos primeiros passos para a realização de tarefas na política é sensibilizar os outros. É através dessa ação, de sensibilização, que conseguimos mover, convencer, ganhar o outro para nossas ideias e futuras ações.

Quando não existe o que sensibiliza, quando a fala não toca no coração, quando o que é visto não atiça o desejo e não mexe com a vontade, a tendência é que aquele que tenta convencer o outro de algo fracasse em sua empreitada.

Ativar o emocional do outro não é fácil. É uma verdadeira arte. Os ramos da publicidade e do marketing estão aí para provar que estou correto. O fato é que todo vendedor precisa ativar o lado emocional do comprador. Quantas vezes nós não compramos produtos sem precisar, mas pelo fato do valor atribuído a ele, ou seja, a forma que ele nos foi ofertado. Compramos por terem sido capazes de despertar algum desejo em nós e assim ativar nosso emocional.

Podemos dizer que a tarefa de convencer alguém politicamente é semelhante a de vender um produto. De fato nós vendemos idéias e ideais quando buscamos convencer alguém por meio de nossos argumentos que nossa visão de mundo, nossa solução para os problemas da cidade, do bairro, da universidade ou do país, são superiores que as visões apresentadas por um grupo oposto.

No fim, toda organização, todo agrupamento social, toda força política precisa de seus vendedores de idéias. E reforçando: a tarefa desses vendedores é ativar o emocional do outro.

Esse texto é uma homenagem a um dos maiores vendedores de ideias do século XX. Um homem que fez de sua vida, de seu corpo, de sua voz, sua mente e ações exemplos e espelhos para milhões.

Falamos de Muhammad Ali. Nascido Cassius Clay, nascido em Louisville, Kentucky, filho de uma empregada doméstica, com um pintor de paredes. Aquele que viria se tornar o maior boxeador de todos os tempos e maior atleta da história que completaria 80 anos nesta segunda-feira, dia 17 de janeiro.

Não queremos fazer um texto biográfico. Sua vida e relatos dela podem ser facilmente encontrados na Amazon, Netflix (assistam Irmãos de Sangue), ou numa rápida pesquisa no Google. Aqui, nessas linhas, queremos falar sobre a forma que ele vendia suas ideias, e produto que ele vendia, ou seja: a radical compreensão que o negro é belo e pode ser livre.

De quem você compra suas ideias?

Antes de passar para a história de Ali. Queremos abordar algumas questões relativas à batalha de ideias.

No grande mercado que é a vida, não são todos os vendedores que têm a mesma oportunidade. Chegamos aqui na boa e velha luta de classes.

A classe dominante exerce domínio sobre e têm possibilidade de construir uma série de aparelhos ideológicos para disputar suas ideologias na sociedade. O Estado, a Igreja, as Leis, a Escola, a Mídia, são exemplos destes aparelhos que auxiliam a burguesia na disputa por hegemonia.

As ideias que fazem parte  da dominação da burguesia são aceitas como naturais, normais e amplamente divulgadas no conjunto da sociedade e no seio dos próprios dominados. Karl Marx já escrevia: “as ideias dominantes de uma época, são as ideias da classe dominante desta época”.

O racismo e a ideologia racial

O racismo é uma relação de Poder. Ele não existe em abstrato, mas sim a partir de uma determinação social, histórica e geográfica.

Para a dominação burguesa se efetivarem na sociedade uma das ideologias mais fundamentais foram as ideologias que tratavam sobre o tema racial. Abrimos aqui novamente um parêntese.

O racismo é uma relação de Poder. Ele não existe em abstrato, mas sim a partir de uma determinação social, histórica e geográfica. São portanto fenômenos sócio-históricos, que ocorrem em dado lugar, que formam as relações raciais como a conhecemos. Ou seja: 1) essas relações não são eternas, é possível mudá-las. 2) elas não são algo meramente pessoal. Mas sim algo que reflete relações entre grupos que estão hierarquizados. No caso de modernidade, o racismo é um desenvolvimento do processo de colonização. Criando uma relação de poder racial que se hierarquiza pela opressão da branquitude sobre sujeitos negros e indígenas.

Fechando o parêntese.

Dizemos isto para chegar ao ponto de que o poder branco, ou seja o racismo moderno, para se estruturar necessita de ideias que o sustentem. É necessário que se tenham teorias, explicações e justificativas para a suposta inferioridade das raças não brancas. Assim como, por meio dos aparelhos ideológicos é necessário que se convença os próprios não brancos de que seu lugar devido é a margem da sociedade.

Ao longo dos séculos diversas teorias racistas foram elaboradas para desumanizar, alienar e animalizar os negros. Desde a ideia de que africanos não tinham alma e por isso a escravização era necessária para salvar e redimir seus pecados. Passando pelo racismo científico que afirmava que os negros eram sub-evoluídos e espécie inferiores de humanos. Hoje o racismo utiliza outras formas de controle ideológico, algumas delas mais sutis, mas igualmente responsáveis pelo genocídio de nosso povo.

No século XXI, uma das formas que a ideologia racista opera é por meio de imagens sociais e discursos que foram construídas pelo imaginário racista e pelas posições que pessoas negras estão sendo empurradas na sociedade.

A criação do negro como Outro

O negro se torna diante do branco um Outro. Algo distante. Algo que é menos humano e mais raivoso, passa a amedrontar assim o imaginário do branco.

São construídos discursos que apontam o sujeito negro como violento, raivoso, perigoso, como aquele que age por meio da emoção, que é explosivo, que não é confiável.

O negro passa a perder características racionais, que ficam legadas exclusivamente a branquitude. O negro portanto recebe os aspectos negativos do emocional, e o sujeito branco se torna o oposto do negro. O negro se afasta de sua humanidade e o branco se reafirma como tal. O negro se torna diante do branco um Outro. Algo distante. Algo que é menos humano e mais raivoso, passa a amedrontar assim o imaginário do branco.

O negro se torna então um perigo, um potencial violador da brancura. E esse Outro em oposição ao branco precisa ser combatido. Ele é um perigo, um provável criminoso. De tal modo que o Poder branco se efetua e exerce controle sobre este corpo negro. Militarizando seu lugar de moradia. Criminalizando sua cultura. Violentando seu corpo. E caso o corpo negro, este Outro materializado, caia duro no chão fruto de alguma ação realizada por forças estatais, é o corpo de um criminoso a menos. A morte é naturalizada e normalizada. Pois afinal foi um Outro, um sujeito que é mais animalizado do que necessariamente humano que tombou.

O controle por meio das imagens

Lélia tratou em especial ao papel e a imagem atribuídas a negras como  mulatas, no qual seriam detentoras de imensa sexualidade e também na figura a de empregada doméstica.

A imagem do negro como Outro e constante oposição com o sujeito branco se materializa por meio daquilo que Patrícia Hill Collins chama de Imagens de Controle. Que seriam parte do artifício racial da forma que sujeitos negros são retratados na sociedade, em especial pelos aparelhos ideológicos, em especial pela mídia.

Falar de imagem é falar do poder de criação e de fertilidade. É também sobre a forma que nos enxergam e como nós nos enxergamos.

A imagem do homem negro como potencial criminoso, como violento, como irresponsável e da mulher negra como barraqueira, durona e forte, como objeto sexual, ou seu oposto, como apenas força de trabalho, são parte desse processo de controle ideológico que é realizado.

Já na segunda metade do século XX, Lélia Gonzalez enxergava, mesmo sem utilizar o conceito de Collins, imagens que eram atribuídas a mulheres negras em nosso País. Lélia tratou em especial ao papel e a imagem atribuídas a negras como  mulatas, no qual seriam detentoras de imensa sexualidade e também na figura a de empregada doméstica.

Reconhecer a importância destas imagens é fundamental, pois elas foram elaboradas por séculos e nos são oferecidas e vendidas de todos os lados desde o dia que nascemos. Os aparelhos ideológicos, ou seja, os vendedores da burguesia, fazem o possível para acreditamos e comprarmos como verdadeiras as imagens sobre nós mesmos que eles oferecem.

Isto se reflete de forma concreta na indústria do audiovisual e no papel que pessoas negras exercem e discursos que são feitos sobre elas em filmes, novelas, séries, programas jornalísticos entre tantos outros. De forma vemos imagens elaboradas pelo Poder branco sobre nós e ela molda e mina nossa própria percepção sobre nós mesmos.

Fanon, utilizando e revertendo a lógica do conceito de Lacan chamado Jogo de espelhamento, refletia sobre os efeitos da absorção por parte do negro das imagens geradas pelo racismo.

Fanon dizia que o branco, ao se tornar referencial do que seria humano gera no negro, quando este constrói sua subjetividade, a vontade de se embranquecer, pois ao buscar ser humano, ao buscar ser belo, ao buscar ser melhor, ele encontra o branco como referência. Assim ele busca embranquecer sua pele, sua negrura, sua cultura, seu círculo social, sua família.

No momento que o negro é moldado pela imagem que o branco cria dele, ele passa a se ver a partir do olhar do outro. O negro não se vê quando se olha no espelho, ele vê aquilo que a branquitude e o racismo enxergam dele.

Fanon falava que é fundamental para o processo de luta política se desalienar, se conhecer e se reconhecer, ou seja, se ver a partir de si mesmo.

Okay, o leitor que chegou até aqui achando interessante estas linhas (obrigado por não ter desistido do texto) deve tá pensando: massa, mas o que isso tem haver com a vida de Muhammad Ali?

“A condição do homem negro é a mesma, não é mesmo? Ainda estamos pagando no inferno” – Muhammad Ali

Fui Cassius Clay, Voltei Muhammad

A Identidade de Muhammad Ali se forjava durante os anos 50 e 60, quando a luta anticolonial estourava no mundo e os Estados Unidos viviam os protestos negros e a luta pelos direitos civis.

Em uma época onde o silêncio a população negra era a lei, Muhammad Ali, que ainda se chamava de Clay, falava. E falava com a mesma velocidade e potência que seus punhos acertavam os adversários. A imprensa na época o chamava de “lábio de Louisville” ou “boca poderosa”.

Ao se tornar campeão mundial, de forma inesperada e surpreendente para os que acompanhavam o esporte, Cassius Clay gritou ainda no ringue “Eu sou o Rei do Mundo”. Porém, mais surpreendente que sua vitória na luta da noite anterior, foi sua declaração na manhã do dia seguinte. Ele anunciava que entrou na Nação do Islam – NOI, fruto de suas conversas, amizade e aproximação com Malcolm X. A imprensa e os fãs brancos ficaram chocados. O novo campeão mundial, o Rei do Mundo, lado a lado com uma das principais figuras do protesto negro no mundo, fazendo parte de um movimento que literalmente chamava o homem branco de “diabo na terra”.

Na época, Jimmy Cannon, o mais famoso escritor de esportes da época, escreveu: “esta é a primeira vez que a luta (o boxe) se transforma em um instrumento de ódio.” Afirmando que a nova posição de Ali, ainda chamado de Clay, seria usada para propagar ódio contra a população branca.

Mais escandalizados ficaram quando Clay trocou seu nome para Muhammad Ali. A imprensa branca não soube e não aceitou este ato, até então inédito no esporte. O New York Times, principal jornal do mundo, teve durante anos uma linha editorial desrespeitando a vontade de Ali e insistindo em chamá-lo de Clay.

Ser como Muhammad Ali

Ao mesmo tempo surgia o movimento Black Power, Muhammad Ali se transformava em um símbolo desta radical ideia

Uma das frases de Muhammad Ali que mais gosto é: “Sou o maior. Disse isso a mim mesmo inclusive antes de saber que o era”. Ele sabia sua potência, acreditava nela, e buscava ampliá-la afirmando isto a todo momento.

Ali, buscava colocar em palavras o quanto era grande, bonito, inteligente, poderoso. E isso se tornou real, palpável, visível, mais tão real que chegava a ser ridículo discordar do que ele afirmava sobre ele mesmo.

Enquanto Ali derrubava oponentes no ringue e com sua postura inspirava milhões de negros, o Protesto Negro crescia nos Estados Unidos e caminhava rumo Norte do país.

Durante o verão de 1964, mais de 1.000  ativistas de direitos civis foram presos, 36 igrejas de teologia negra queimadas pelos terroristas da Ku Klux Klan, 30 sedes de movimentos que lutavam pela libertação negra foram vítimas de atentados.

Ao mesmo tempo surgia o movimento Black Power, Muhammad Ali se transformava em um símbolo desta radical ideia. Ele por meio de sua imagem e da fala, buscava reverter as imagens sociais e lugares que a branquitude tinha construído e empurrava pessoas negras. .

O jornalista Bryant Gumbel chegou a falar: “Uma das razões pelas quais o movimento de direitos civis avançou foi que os negros foram capazes de superar seu medo. E acredito sinceramente que, para muitos negros americanos, isso veio de observar Muhammad Ali. Ele simplesmente se recusou a ter medo. E sendo assim, ele deu coragem a outras pessoas”.

Muito pode se falar sobre sua influência. Mas citaremos somente duas. A primeira quando em 1965 o Comitê Coordenador Estudantil Não Violento (SNCC) se transformou em um partido político no Alabama. O símbolo deste grupo era uma pantera negra, sendo o primeiro grupo norte americano a usar este símbolo que depois seria imortalizado pelo Black Panther Party. Ao lado da pantera os materiais do grupo continuam uma breve frase constantemente repetirá por Ali:  “We Are the Greatest” (“Nós somos os maiores”).

A segunda quando em sua autobiografia Eldridge Cleaver, dirigente dos Panteras Negras, escreveu: “Se a Baía dos Porcos (em referência a tentativa frustrada dos Estados Unidos de invadir Cuba após a Revolução) pode ser vista como uma mão direita reta até a mandíbula psicológica da América branca então, a luta Ali/Patterson era o gancho esquerdo perfeito no intestino”. No confronto em questão, Patterson disse que a luta contra Ali era uma questão de trazer o cinturão de volta para a América cristã e que andava no caminho certo. No ringue Ali detonou seu adversário enquanto gritava para todos ouvirem: “Vamos lá América! Vamos lá América branca”.

Muhammad Ali se fez dentro de si um gigante, mas um gigante tão imenso e poderoso que desafiava os que duvidavam disto e foi capaz de contagiar outros. Ele via nos seus iguais potências semelhantes as suas, se tornando uma inspiração de como ser grande e extraordinário para toda uma comunidade. Ali vendia a radical ideia do negro como belo, capaz e forte. Uma imagem muito diferente da apresentada nos Estados Unidos dos anos 50 e 60. Como vendedor desta ideia, Ali sabia ativar o emocional do público que queria vender suas ideias. Antes do movimento Black Power, ele já gritava que o negro era lindo, e assim ajudou sua comunidade a acreditar e criar uma nova auto imagem que tinha sobre si mesma.

Quando Ali se recusou a ir para o Vietnã, e declamou a famosa frase “eu não tenho nada contra os vietcongs” em uma entrevista, a reação foi imediata. Políticos, a mídia, a população favorável a guerra, artistas, todos contra Ali.

Seu posicionamento e sua postura o condenaram a cinco anos de prisão. Ali foi condenado por um júri composto completamente de pessoas brancas.

Ele foi o primeiro grande nome a dizer não a guerra do Vietnã, antes mesmo de Luther King. Foi a partir de sua ação e constantes denúncias contra os atos realizados pelos Estados Unidos no sudeste asiático que surgiram debates em todos os cantos do país. O tema da guerra se popularizou e seu posicionamento estava nas capas dos jornais sendo cimentado em bares, mesa de jantar entre famílias, portas de igreja, barbearias. Todos, negros e brancos, só falavam sobre a recusa de Ali.

A poetisa Sonia Sanchez falou sobre o impacto da ação de Ali:

“É difícil agora transmitir a emoção daquela época. Esta ainda era uma época em que quase nenhuma pessoa conhecida resistia à pressão. Era uma guerra que estava matando desproporcionalmente jovens irmãos negros e aqui estava este belo e engraçado jovem poético de pé e dizendo não. Imagine por um momento. O campeão de pesos-pesados, um homem mágico, levando sua luta para fora do ringue e para a arena da política e mantendo-se firme.”

Com o passar do tempo e com Ali cada vez mais firme de sua decisão e realizando contundentes denúncias da guerra, a rede de apoio em torno dele cresceu (existem relatos de protestos em apoio a Ali no Paquistão, Egito, Guiana, entre outros lugares). Assim como o movimento anti guerra se expandida e passava a se tornar um movimento de massas. Os dois principais movimentos da luta de classes nos Estados Unidos naquelas décadas tinham marcas do campeão do boxe. Tanto o Protesto Negro por direitos civis, como o movimento contra a Guerra do Vietnã, tiveram Ali como importante sujeito.

Em um protesto em Louisville por melhores habitações para a população negra, Ali se fez presente e foi perguntado sobre a guerra por um repórter. Ali se virou para as câmeras e disparou:

“Por que deveriam me pedir para vestir um uniforme e ir a 10.000 milhas de casa e lançar bombas e balas sobre o Vietnã, enquanto os chamados negros em Louisville são tratados como cães e negados simples direitos humanos? Não, eu não vou a 10.000 milhas de casa para ajudar a assassinar e queimar outra nação pobre simplesmente para continuar o domínio dos senhores de escravos brancos do povo negro em todo o mundo.”

Seu posicionamento e sua postura o condenaram a cinco anos de prisão. Ali foi condenado por um júri composto completamente de pessoas brancas. No mesmo dia que era condenado, Ali viu o Congresso dos EUA estender por mais quatro anos o veredito do júri e transformaram em crime federal profanar a bandeira. Os congressistas sabiam o que estava em jogo e o que Ali representava.

Ali também foi proibido de lutar. Teve o título de campeão mundial retirado. Perdeu dinheiro. Tudo isto porque ousou falar e não se curvou. Ele poderia ter escolhido o caminho aparentemente mais fácil: Era só voltar atrás em algo que disse, como muitos esperavam que ele fizesse. Era só dizer que ia para guerra. Era só não falar sobre a própria religião. Era só não tornar a mudança de nome pública; Era só não falar sobre racismo. Porém Muhammad Ali escolheu escolher. Resolveu decidir e tomar as amarras de seu destino, saber dizer não, sim e o que mais desejasse falar.

Sabia que custaria caro. Poderia perder tudo, mas ele estava disposto a pagar. Ele tinha em mente que era um homem preto desafiando os EUA. E ele ganhou. O que estava em jogo era mais do que o cinturão de peso pesado, era sua liberdade e dignidade. Estas se mantiveram intactas. Apesar do poder branco ter retirado o título de campeão, sua comunidade e seu povo o ergueram sob os ombros e o elevaram a outro patamar.

Construir uma outra imagem do negro

“Cassius Clay é o nome de um escravo. Não foi escolhido por mim. Eu não o queria. Eu sou Muhammad Ali, um homem livre.”

Aquilo que habita nosso inconsciente permanece com a gente sem que necessariamente escolhemos manter. A maioria  das imagens que construímos são  construídas através da ótica do racismo. Aceitar elas apenas é minar nosso poder fértil de criação e passamos a nós identificar com o que é dito.

Ao longo deste texto buscamos trabalhar com a ideia da necessidade de se criar uma nova imagem de pessoas negras. Uma outra opção diante do que historicamente nos é apresentado. E está tarefa de criação cabe a pessoas negras. É responsabilidade nossa buscar outras narrativas e disputá-las, exaltando nossa história, cultura, buscando alimentar nossa alma e espírito. Da forma que fez Muhammad Ali, sem medo de dizer o que precisa ser dito. Sem medo de ser grandioso.

Muhammad Ali se fez livre e libertou tantos outros.

“Cassius Clay é o nome de um escravo. Não foi escolhido por mim. Eu não o queria. Eu sou Muhammad Ali, um homem livre”.