Deputado federal pelo PP de Alagoas, Arthur Lira foi um dos grandes aliados de Bolsonaro, quando este esteve à frente da Presidência da República.
Quando Lula ganha as eleições, o líder do Centrão e atual presidente reeleito da Câmara dos Deputados, ensaiou uma aproximação política com o novo governo, em nome de uma tal governabilidade.
Esta encenação deu resultado. Lira teve sua reeleição apoiada tanto pela bancada bolsonarista quanto pela maioria dos deputados do PT e dos partidos aliados ao governo. Felizmente, com a honrosa exceção do PSOL, que lançou a candidatura do companheiro Chico Alencar à presidência da Casa.
Passado os primeiros momentos do novo governo, Lira colocou de fora suas “garras”, criando vários problemas para a tramitação de projetos de interesse do executivo, além de articular a aprovação de várias medidas contra o programa eleito nas urnas. Especialmente, atacando violentamente a agenda ambiental, com a aprovação na Câmara do Marco Temporal, da flexibilização do desmatamento da Mata Atlântica e do esvaziamento dos Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Além da piora significativa da proposta do arcabouço fiscal, entre outros pontos.
Estas movimentações demonstram que Lira quer manter o poder que adquiriu no governo Bolsonaro, quando controlou o famigerado orçamento secreto, com as suas emendas bilionárias e interesse público, no mínimo, duvidoso. E, por tabela, visa também engessar e tornar o governo Lula refém do centrão e dos interesses escusos dos setores mais reacionários da Câmara.
Mas, nas últimas semanas, Lira tem frequentado as manchetes da grande mídia, menos por suas atitudes políticas absurdas na Câmara e mais pelo envolvimento de seu nome em investigações e escândalos de corrupção e até de acusação de agressão sexual contra a sua ex-esposa.
Em três décadas na política, sempre em partidos de direita, não faltam acusações em sua ficha. Neste breve texto, vamos destacar apenas as que estão em mais evidência no momento.
1 – Venda de kits de robótica super faturados e pagamentos ilegais de contas pessoais.
A Polícia Federal (PF) desencadeou, no início de junho, a Operação Hefesto, que investiga a venda de kits de robótica super faturados para escolas públicas do interior de Alagoas.
O alvo principal da operação da PF é Luciano Cavalcante, amigo e um dos principais assessores de Lira. Embora filiado ao União Brasil, ele era lotado no gabinete da liderança do PP na Câmara, partido de Lira. Foi desligado após a divulgação do escândalo.
A esposa de Luciano, Glaucia Cavalcante, também já foi assessora de Lira. E a filha de Luciano e um dos filhos de Lira são sócios de uma empresa de publicidade, de nome Omnia 360.
O nome de Luciano aparece associado a outra empresa, de nome Megalic, de propriedade do filho de um vereador do PP de Maceió. Esta empresa está por trás da venda dos kits de robótica para as escolas públicas de alguns municípios alagoanos. Estas emendas eram parte do orçamento secreto, controlado por Lira.
Mais recentemente, uma matéria da Folha de SP mostrou uma lista de pagamentos realizados por Luciano Cavalcante. Na referida lista, aparece o nome “Arthur” em vários tipos de pagamentos.
Na verdade, Luciano vinha realizando pagamentos de várias contas pessoais de Arthur Lira, demonstrando a ligação íntima e criminosa entre os dois aliados políticos de longa data. O montante pago ao tal “Arthur” atinge 650 mil reais, em apenas 4 meses. Devido a vinculação óbvia a Arthur Lira a estes pagamentos, a investigação foi enviada ao STF.
A relação direta entre os dois aparece ainda em outro escândalo. A esposa e o irmão de Luciano Cavalcante foram nomeados por Lira para cargos na CBTU.
2 – Rachadinha na Assembleia Legislativa de Alagoas e nomeações irregulares na CBTU.
Mas, os escândalos na vida pública de Lira estão longe de começar agora, em 2022.
Ainda em 2007, quando ele exercia o mandato de deputado estadual em Alagoas, ele foi acusado da prática de rachadinha – desvio de salário de assessores para seu proveito pessoal.
Neste escândalo, Lira foi denunciado pelo Ministério Público e foi alvo da Operação da PF com o nome de Taturana. Este operação chegou a outro assessor bem próximo de Lira, Djair Marcelino da Silva, acusado de ser o grande operador do esquema.
Um esquema muito similar praticado por Flávio Bolsonaro e o tal Queiroz, na Assembleia Legislativa do RJ.
Lira demitiu o assessor e escapou ileso. 13 anos depois do escândalo, Djair voltou a trabalhar como assessor de Lira. Ele está lotado até hoje no gabinete de Lira na Câmara dos Deputados. Familiares de Djair também foram nomeados na CBTU. Ao todo, Lira indicou pelo menos 10 aliados ou familiares para a estatal.
Lira chegou a ser condenado por duas vezes em relação a este caso, em primeira e segunda instâncias. Mas, estas decisões foram anuladas pelo Ministro Humberto Martins, do STJ. Até hoje, o Ministério Público estadual de Alagoas tenta a condenação de Lira pela prática de rachadinha e outras irregularidades.
3 – Dinheiro vivo apreendido no aeroporto de Congonhas.
Em 2012, 5 anos depois do escândalo da rachadinha na assembleia Legislativa de AL, outro assessor próximo de Lira, Jaymerson Amorim, foi flagrado com mais de cem mil reais, em dinheiro vivo, no Aeroporto de Congonhas em SP. Ele tentava embarcar para Brasília.
Amorim tentou não se identificar como assessor parlamentar. Mas, logo foi revelada a verdade: ele não era só assessor de Lira como sua passagem aérea foi comprada no cartão de crédito do atual presidente da Câmara. O caso rendeu uma acusação de lavagem de dinheiro e corrupção contra Lira, movida pela PGR em 2018.
Assim como Cavalcante, Jaymerson assumiu também toda a responsabilidade sobre a operação, evidentemente fraudulenta. E Lira escapou de mais uma investigação ileso.
4 – Denúncia de estupro, agressões e ameaças a sua ex-esposa.
O nome de Lira aparece também em um escândalo envolvendo uma acusação de estupro contra a sua ex-esposa, Julyenne Lins. A agressão sexual teria ocorrido em 2016, quando eles já não estavam casados.
Ela já havia registrado um boletim de ocorrência policial contra Lira em outras ocasiões. Mas, depois recuou. E, agora, alega que recuou a partir de sérias ameaças de Lira. Diante disso, Lira escapou de mais esta gravíssima acusação.
A denúncia de estupro veio à tona pela primeira vez agora, numa entrevista concedida por Julyenne à Agência Pública, no dia 6 de junho deste ano. Julyenne compareceu à entrevista ao lado de sua advogada e pretende apresentar formalmente a acusação de estupro contra Lira.
Lira não pode mandar na Câmara e muito menos no Brasil
Diante de todas estas fortes evidências, as investigações em curso devem ser encaradas como uma prioridade, especialmente pelo STF. E, da mesma forma, as investigação anteriormente arquivadas deveriam ser reabertas, pois existe um “modus operandi” que une todas elas: o uso de assessores para assumir todas as responsabilidades dos atos ilícitos do atual líder do centrão.
Não se pode condenar ninguém sem provas. Mas, Lira deveria ser imediatamente afastado da presidência da Câmara dos Deputados, inclusive para o bom andamento de todas as investigações.
Uma figura com tal número de atitudes ilícitas sob investigação não tem a mínima condição de exercer um cargo de tamanha relevância na estrutura do Poder Legislativo brasileiro. Inclusive, sendo o número 3 na linha de sucessão do próprio Presidente da República.
Por suas posições políticas reacionárias, já estava evidente que aliado a Lira e ao Centrão não será possível realizar as mudanças significativas que o povo trabalhador precisa e tanto espera, depois da vitória de Lula nas eleições do ano passado.
Agora, diante de todas estas – velhas e novas – evidências de envolvimento em escândalos de corrupção e até em uma terrível agressão sexual, Lira não tem nenhuma condição política e até moral para manter sua atual posição de “poderoso chefão” da Câmara dos Deputados, inclusive com a ambição de influenciar diretamente o Poder Executivo e até mandar em boa parte da agenda do governo Lula.
Lira não foi eleito e nem pode mandar no Brasil.
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