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Perseu Abramo publica nova edição de Revolução e contrarrevolução na Alemanha de Leon Trostsky

Editora da Fundação Perseu Abramo

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

Revolução e contrarrevolução na Alemanha é uma das obras mais importantes de Leon Trotsky. Reúne um conjunto de ensaios escritos, no calor dos acontecimentos, a partir do terrível impacto da crise econômica de 1929, até a sinistra ascensão de Hitler ao poder em 1933. 

Trotsky argumenta à exaustão, diante do perigo de uma derrota histórica diante do nazismo, a necessidade emergencial, insubstituível e incontornável, de uma Frente Única do Partido Comunista com os social-democratas do SPD, as duas maiores organizações da esquerda na Alemanha. Seus alertas foram ignorados e a tragédia se consumou.

 Prevaleceu  no Partido Comunista da Alemanha, o mais poderoso do mundo no início dos anos trinta do século passado, uma orientação sectária e ultraesquerdista, que pretendia combater, simultaneamente, o nazismo e a socialdemocracia. A acusação de que o SPD seria um partido “social-fascista”, socialismo nas palavras e fascismo nos atos, foi uma das maiores monstruosidades ideológicas do estalinismo. A divisão da classe trabalhadora e seus aliados nas classes populares provocou, irremediavelmente, uma fratura na resistência antifascista. A subestimação do perigo terminal que Hitler representava foi fatal.  

A revolução política e social foi o fenômeno histórico novo mais significativo do século XX, e não surpreende, portanto, que os marxistas que não sucumbiram às pressões sociais hostis, porque mantiveram vínculos com o movimento dos trabalhadores, tenham-lhe dedicado a sua atenção. 

Em nenhuma outra época da história as sociedades recorreram, com tamanha frequência, aos métodos revolucionários para resolverem suas crises. A aceleração histórica das transformações, uma das previsões visionárias de Marx, foi vertiginosa. Encontrou pela frente, contudo, em uma proporção impensável há cem anos atrás, uma força de resistência social e reação política que a humanidade, até então, desconhecia. A expressão mais degenerada da contra-revolução política e militar do capitalismo no século XX foi o nazifascismo.

Este livro apresenta uma elaboração original que despertou ásperas polêmicas na esquerda e nos meios marxistas, quando foi escrito, mas passou a prova no laboratório da história. Foi traduzido para o português e publicado, por iniciativa de Mario Pedrosa, logo em seguida. Ainda que seja uma análise meticulosa da dramática dinâmica da luta de classes na Alemanha, noventa anos atrás, permanece uma inspiração para a nova geração.    

O ressurgimento de uma extrema-direita neofascista com influência de massas, no Brasil e em boa parte do mundo, na segunda década do século XXI, sinaliza que a permanência tardia do capitalismo é uma ameaça real à vida civilizada. A urgência da luta contra o bolsonarismo permanece um desafio imenso e inadiável. A iniciativa do lançamento do primeiro volume da coleção de obras de Leon Trotsky pela Editora da Fundação Perseu Abramo do PT é, portanto, instigante e animadora.