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Banco Central versus povo brasileiro

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Politiza

Jovem e mãe, Iza Lourença é feminista negra marxista e trabalhadora do metrô de Belo Horizonte. Eleita vereadora em 2020 pelo PSOL, com 7.771 votos. Também coordena o projeto Consciência Barreiro – um cursinho popular na região onde mora – e é ativista do movimento anticapitalista Afronte e da Resistência Feminista.

A principal luta política no país segue sendo o combate à miséria. Não à toa, o ultraliberalismo de Paulo Guedes perdeu a eleição de 2022. Nos últimos dias, estamos acompanhando a disputa do presidente Lula contra a política monetária aplicada por Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, indicado por Jair Bolsonaro. Parte dos economistas defende uma suposta “autonomia” da instituição. O que isso quer dizer? Viramos reféns do mercado financeiro no país que aplica a maior taxa real de juros do mundo.

Apenas para banqueiros e rentistas da dívida pública uma maior taxa de juros significa mais lucro. Para quem precisa de empréstimo, financiamento, crediário e crédito para sobreviver, comprar itens básicos, desenvolver-se como pequeno empreendedor, ou, basicamente, para quem depende do próprio trabalho para sobreviver, não há nenhuma vantagem na política defendida atualmente pelo Banco Central. Em vez de fazer a economia do país rodar, cria-se uma bola de neve: os custos dos juros são transferidos para o consumidor final, inflacionando os preços. Isso causa também o aumento do desemprego, uma vez que as empresas não conseguem acesso a crédito e capital de giro. As metas do Banco Central “autônomo” também não foram alcançadas nos últimos anos, e estamos vivendo o pior dos dois mundos, taxas de juros altas que não justificam a inflação.

E aí também entra o aumento da famosa dívida pública. A lógica de desviar dinheiro público que deveria ser investido no combate à desigualdade social e nos serviços públicos para os cofres do mercado financeiro na forma de juros. Também é por causa da dívida pública que convivemos com o fantasma da responsabilidade fiscal do Estado, discurso que justifica a falida PEC do Teto de Gastos Sociais e o programa de privatizações de empresas estratégicas para o desenvolvimento do país e para a garantia de direitos da população.

O atual presidente Roberto Campos Neto é um ultraliberal, indicado por Bolsonaro e apoiador do bolsonarismo, que de independente não tem nada. Esteve em destaque na posse do governador e ex-ministro Tarcísio em São Paulo, com a justificativa de que os dois são amigos, e contribuiu “informalmente” com ideias para o plano de governo. Nenhuma novidade, já que se comportava como um verdadeiro ministro de Bolsonaro. Em discurso para empresários, garantiu que a equipe do governo era toda “técnica”, por isso não havia problema em se relacionar com os ministros. A verdade é que Campos representa os interesses da Faria Lima.

A “autonomia” do Banco Central é, na verdade, a desresponsabilização da instituição que regulamenta a política monetária do país em relação ao povo e ao Estado brasileiro. Se não serve a nós, está cada vez mais submisso aos interesses do mercado. A bancada do PSOL apresentou um projeto de lei na Câmara dos Deputados que pede a revogação dessa autonomia antidemocrática.

Não é um embate entre Lula e Banco Central; é a política do Banco Central contra o povo brasileiro. O presidente eleito está correto ao exigir a diminuição da taxa de juros. São medidas essenciais para a recuperação econômica do emprego e da renda e para o combate à desigualdade social.

Coluna publicada originalmente no portal O Tempo