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CULTURA

A Última Sessão de Milton Nascimento

Ana Luísa Martins, de Lisboa
Reprodução Instagram A última sessão / Foto: marcoshermes

A turnê “A Última Sessão de Música” teve início no dia 11 de junho no Rio de Janeiro e seguiu para a Europa, regressa ao Brasil, vai aos Estados Unidos e volta, finalmente, para Belo Horizonte, finalizando-a com show histórico no Mineirão. Chamada por Milton Nascimento de “travessia”, a turnê marca a despedida de Bituca dos palcos.

Ao abrir as cortinas do Coliseu de Lisboa, um homem lindo de boina, sentado na cadeira ao centro do palco, de coluna ereta do alto de seus 80 anos, com a alma repleta de chão e uma pequena sanfona nas mãos entoava as primeiras notas de “Ponta de areia”. Inesquecível imagem. Fez todo o sentido a travessia, todos os sentidos.

O repertório escolhido – tenho para mim – não foi só uma seleção dos seus maiores sucessos, mas uma escolha pessoal, honesta, de quem olha para a sua própria história. O show é para o público e para ele, por ele. Um espetáculo sobre amor, sonhos, generosidade, natureza, amizade, esperança, encontros e despedidas.

Elis Regina tem seu momento cravado na sessão com “Catavento”, homenageada como o grande amor da vida de Milton, nas suas palavras.

Aplaudido de pé pelo público em agradecimento, disse: “viver esse momento depois de 60 anos de carreira é a prova de que meus sonhos jamais envelheceram”. Não à toa se apresenta cercado por jovens talentosos, que formam uma banda exímia. Um deles, José Ibarra, é quem o acompanha na maior parte das canções, uma voz linda, notável.

Milton é generoso genuína e intencionalmente. Entre precisar de energia para shows longos de uma turnê intensa, apontando o caminho bonito e natural da vida, e se comprometer com o futuro, lança artistas que estão começando nos bailes da vida. “Há que se cuidar do broto”, não é Bituca?

Por detrás da banda um painel belíssimo (cuja autoria ainda não descobri), enaltecendo a mata atlântica, os povos indígenas e a terra. Uma estética nada vazia, conveniente ou tendencial para quem compôs O Cio da Terra em 1977, junto com seu amigo Chico Buarque. Aliás, lembrou dos seus amigos, cantou para eles, Mercedes Sosa esteve presente também. Reafirmou uma vez mais o que nos ensinou ao longo da vida, sem amigos não somos nada, “é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração”

Chegou a hora da despedida. “A hora do encontro é também despedida”. Uma travessia com amigos, folhas, coração, juventude e fé. Uma travessia de esperança, de fé cega e faca amolada, de força, raça, gana e graça, sempre.

Uma travessia íntegra, tão extraordinária quanto simples, ou, por ser simples, extraordinária. Uma travessia de sonhos que não envelhecem, de fé na vida, de gente, gente, gente…

Obrigada, Milton “Bituca” Nascimento! Vida longa, mestre!

 

VEJA MOMENTO DO SHOW EM PORTUGAL

VÍDEO
Divulgação da turnê