Após um importante aumento das forças de esquerda e centro-esquerda nas bancadas parlamentares no Senado e na Câmara, em 13 de março, e a vitória do primeiro lugar no 1o Turno, em 29 de maio, com a votação de 40,34% para Petro e Francia (Pacto Histórico) contra 28,17% para o direitista e empreiteiro, Rodolfo Hernandez (Liga de Governantes Anticorrupção), o grande e maior desafio é vencer o 2o turno, no domingo.
A esquerda, representada pela aliança Pacto Histórico, obteve um excelente resultado no 1o turno. Petro ultrapassou mais de 3,6 milhões de votos que obteve no 1o turno em 2018 e quase 500 mil votos dos votos obtidos no 2o turno daquele mesmo ano. O melhor resultado de uma candidatura de esquerda em eleições presidenciais. Também ultrapassou mais de 2,7 milhões de votos da votação somada da consulta interna de março.
O maior desafio agora é diminuir a abstenção já que o voto na Colômbia não é obrigatório e do total de eleitores aptos a votar, somente compareceram 54%. Para tanto, a disputa voto a voto será decisiva, já que o 3o colocado, Federico Gutiérrez, 23,94%, e a tendência é que uma grande maioria de seus eleitores optem pelo direitista Hernández. Já o 4o colocado, Sergio Fajardo, centro-esquerda, alcançou somente 4,18%.
As pesquisas para o próximo 19 de junho, que somente poderiam ser divulgadas até o dia 12, das várias fontes indicavam empate técnico nos percentuais das margens de erro, ou seja, uma verdadeira batalha eleitoral pelo futuro do país que poderá optar pelas mudanças indicadas pela chapa de esquerda que busca consolidar o processo de paz e negociação para o desarmamento dos grupos guerrilheiros remanescentes, que marca a história contemporânea do país por décadas.
Além de combater o desmonte do Estado aprofundado pelo atual presidente, Ivan Duque, que vem impondo planos neoliberais e retirada de direitos que gerou fortes índices de exclusão social, desemprego e violência. Motivo pelo qual fez explodir as maiores manifestações das massas populares, indígenas e dos trabalhadores, iniciadas em novembro de 2019, fazendo tremer o país numa grande rebelião nacional.
Por outro lado, emergiu das fossas da crise social e econômica, a extrema-direita com um discurso “anticorrupção” e “antipolítica”, que historicamente se aglutinava em torno do uribismo, mas que agora confluiu a maior votação no empresário Rodolfo Hernández, que sequer conseguiu eleger uma bancada parlamentar, em março.
Mais uma farsa do político “antipolítico”
O empreiteiro Hernández, considerado o “Trump colombiano” é detentor de uma fortuna estimada em 100 milhões de dólares que tem origem em especulações no setor imobiliário. Líder de um partido de improviso, aparece como o antipolítico. Tem em seu currículo elogios a Hitler, processos judiciais que responde – justamente por corrupção – quando foi prefeito da pequena cidade de Bucaramanga, agressões físicas a opositores e promessas fáceis e demagógicas as quais não puderam ser sabatinadas no 1o turno por se recusar a ir aos debates, fazendo campanha principalmente com frases soltas pelo aplicativo do Tik Tok.
A experiência histórica com candidatos empresários ou “técnicos” que se elegem com uma narrativa de “antipolíticos” e “anticorruptos”, supostamente mais eficientes para gerenciar a máquina pública como se fossem empresas, já se revelou como uma grande farsa em vários países. A exemplo dos presidentes do Chile com Sebastián Piñera, Macri na Argentina, Horacio Cartes no Paraguai ou mesmo no mais recente, Guilhermo Lasso no Equador, significaram na prática mais neoliberalismo, mais dependência perante o imperialismo e consequentemente mais corrupção, desemprego e pobreza que vitimizam os trabalhadores e o povo pobre.
Na verdade, geralmente são grupos da burguesia do “baixo clero”, que não lideram partidos tradicionais, portanto improvisam organizações políticas centradas em narrativas messiânicas e que se alinham com setores da pequena-burguesia conservadora e se apoiam também em segmentos das classes trabalhadoras mais precarizadas que não tem tradição de lutas e organização em suas bases sociais. Agregue-se a isso, em alguns países, a adesão de setores das igrejas mais reacionárias e falso-moralistas e segmentos das forças armadas, como no caso do bolsonarismo no Brasil.
Sinais dos tempos de aprofundamento da crise capitalista que se manifestam em projetos políticos bonapartistas e protofascistas, pois ante a crise da democracia liberal e da representação dos velhos partidos das elites tradicionais e do medo difundido contra as organizações de esquerda (mesmo moderada como é no caso da Colômbia). Geralmente são catapultados pelos grandes meios de comunicação e pelos grandes grupos empresariais, que tendem a recorrer aos regimes autocráticos para continuar espoliando as classes subalternizadas em favor do grande capital com a menor resistência possível.
A batalha eleitoral pela Colômbia trata-se precisamente de um capítulo gigante da luta de classes e dos povos oprimidos e explorados da América Latina. A possibilidade da vitória de Gustavo Petro e Francia Marquez, que enfrentaram fortes campanhas de fake news pelas redes sociais além de ameaças de morte, significa conquistar um governo que paute a defesa das liberdades democráticas, dos direitos humanos, da justiça social e de patamares políticos e jurídicos que possam favorecer o combate ao neoliberalismo, a defesa da soberania nacional e dos direitos sociais e trabalhistas naquele país.
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