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BRASIL

Governo Bolsonaro, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?

Dupla viajou no dia 3 para entrevistas com indígenas e teria recebido ameaças em campo

da redação
Reprodução/Redes sociais

A Associação Indígena do Vale do Javari (UNIJAVA) e o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, divulgaram nesta segunda-feira (6), em um informe à imprensa, o desaparecimento de Dom Phillips, jornalista britânico e colaborador do jornal The Guardian, e Bruno Araújo Pereira, indigenista e servidor da FUNAI, na região do Vale do Javari, no Amazonas. A nota, divulgada ao fim da manhã desta segunda-feira, foi publicada 24 horas depois do desaparecimento de ambos.

Dom Phillips e Bruno Pereira se deslocavam de barco pelo rio Itaquaí, após visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas). Segundo informações da UNIVAJA, eles estiveram na comunidade São Rafael por volta das 06h, onde conversaram com a esposa de uma liderança comunitária. Em seguida seguiram para o município de Atalaia do Norte, em uma viagem de cerca de duas horas, em um barco em perfeitas condições, potente e com combustível, devendo ter chegado por volta de 08h ou 09h da manhã na cidade.

Bruno Pereira, ex-coordenador da FUNAI, já sofreu inúmeras ameaças por denunciar as ações de caçadores, pescadores, garimpeiros e madeireiros na região, abandonada pelo contínuo esvaziamento de recursos para vigilância e proteção ambiental, uma das marcas do governo Bolsonaro. Traficantes também disputam presença no local, próximo de Peru e Colômbia. 

Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips, lançou um apelo, em um vídeo na internet:

“Quero implorar às autoridades brasileiras que busquem meu marido, Dom Phillips, e seu parceiro de expedição, Bruno Pereira, com urgência. No momento em que faço este apelo, eles já estão desaparecidos há mais de 30 horas no Vale do Javari, uma das regiões mais conflagradas da Amazônia. Na floresta, cada segundo conta, cada segundo pode ser vida ou morte. Sabemos que, depois que anoitece, se torna muito difícil se mover, quase impossível encontrar pessoas desaparecidas. Uma manhã perdida é um dia perdido, um dia perdido é uma noite perdida. Só posso rezar para que Dom e Bruno estejam bem, em algum lugar, impedidos de seguir por algum motivo mecânico, e tudo isso vire apenas mais uma história numa vida repleta delas. Conheço, porém, o momento vivido pela Amazônia e conheço os riscos que Dom sempre denunciou como jornalista. A noite agora se aproxima e Dom está em algum lugar da floresta esperando por ajuda. Como atravessar essa noite sabendo que Dom está desaparecido? Quero dizer a vocês que Dom Phillips, meu marido, ama o Brasil e ama a Amazônia. Ele poderia viver em qualquer lugar do mundo, mas escolheu viver aqui. Quinze anos atrás, Dom deixou seu país, a Inglaterra, para viver no Brasil. Autoridades brasileiras, nossas famílias estão desesperadas. Por favor, respondam à urgência do momento com ações urgentes. Governo do Brasil, onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?”

Muitos ativistas, como Sônia Guajajara e Guilherme Boulos, têm endossado em suas redes a pergunta “Onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira”.

Lula, pré-candidato à Presidência da República, também se pronunciou no twitter: “(…)Estavam na região reportando invasões de terras indígenas. Phillips me entrevistou para o @guardian em 2017. Espero que sejam encontrados logo, que estejam bem e em segurança.”

A Marinha, depois de divulgar uma nota na qual declarou que o Comando Militar da Amazônia (CMA) só iniciaria as buscas “mediante acionamento por parte do Escalão Superior”, resolveu iniciar a operação de busca na região, de mais de 8.500 hectares, com o apoio de helicópteros e embarcações.

Em nota nesta terça-feira, a família de Bruno Pereira agradece as orações e mensagens de solidariedade e pede rapidez nas buscas. “Bruno é um dedicado servidor público federal pela FUNAI e muito apaixonado e comprometido com seu trabalho. Pai amoroso de duas crianças e uma moça lindas, Bruno é filho, marido, irmão e amigo, ele leva essa paixão para sua jornada toda vez que entra na mata com o propósito de ajudar o próximo. Pedimos às autoridades rapidez, seriedade e todos os recursos possíveis para essa busca. Cada minuto conta, cada trecho de rio e de mata ainda não percorrido pode ser aquele em que eles aguardam por resgate.”

Caso os dois não sejam encontrados, trata-se de um ataque gravíssimo a democracia, ao meio ambiente e ao trabalho da imprensa, na semana do dia mundial em defesa da liberdade de imprensa, que contou também com ameaças de morte ao jornalista Lucas Neiva, em Brasília, do Congresso em Foco. As ameaças e o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira mostram a ação criminosa nas florestas, que tem provocado violência, abusos sexuais e assassinatos de indígenas em suas terras, fatos amplamente denunciados e ignorados por parte do governo Bolsonaro.

Arte: Cris Vector