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MUNDO

Portugal: três razões para votar Bloco de Esquerda

Semear o Futuro

Publicado originalmente em Semear o Futuro.

Após uma intensa ronda de debates televisivos, entramos agora na campanha oficial para as eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro. Mais ainda do que em outras campanhas, nesta cruzam-se diferentes disputas: o programa dos partidos, o balanço sobre a sua atuação, nomeadamente naquilo que levou à convocação de eleições antecipadas, e o arranjo de forças do novo parlamento e, consequentemente, a composição do próximo Governo.

Convém lembrar que as atuais eleições resultam da vontade de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa. Não somos nós quem o afirma: mesmo Ferro Rodrigues, inveterado apoiante de Costa, disse em entrevista que desta vez o primeiro-ministro só quis negociar o Orçamento com o PCP, excluindo o BE e abrindo portas ao chumbo. Marcelo, por sua vez, nem deu a possibilidade de que o Governo apresentasse novo orçamento. Da direita ao centro, todos estão ansiosos por um novo ciclo político em que a direita e o PS recuperem o monopólio do poder, afastando a influência da esquerda sobre o Governo, para controlarem totalmente a gestão do PRR e os rumos da resposta à crise crescente.

Não obstante, a jogada de António Costa é perigosa. Apesar da narrativa criada, a maioria absoluta é uma miragem e as pontes à esquerda estão, no mínimo, fragilizadas. O risco é o do regresso da direita: seja através de um bloco central informal, em que PS se apoie no PSD para governar, seja através de uma maioria de direita no parlamento com Rio à cabeça. Após os resultados da regionais nos Açores, das presidenciais e das autárquicas, não se pode desprezar o perigo de uma ascensão silenciosa da direita. De resto, as sondagens, além de assinalarem o reforço do neofascismo e do ultraliberalismo, ilustram uma subida paulatina do PSD ― é verdade que as sondagens mais recentes, após os debates, matizam esse perigo, mas não o anulam. Perante isto, é preciso afastar totalmente o perigo da direita (o que implica não reforçar o PS, que diz poder aliar-se ao PSD) ao mesmo tempo que se reforça quem defende as causas do trabalho, do clima, do antirracismo, feminismo e direitos LGBTI+. O voto da esquerda é, assim, no Bloco. Apresentamos de seguida três razões que o confirmam.

#Razão1: Defender o povo trabalhador e o planeta

É indiscutível que só os programas da esquerda defendem as vidas de quem trabalhada. A reversão das leis laborais da troika é a única forma de subir salários; carreiras dignas para médicos, enfermeiros, auxiliares e professores são essenciais para a saúde e educação públicas; e só o reforço da habitação pública, a reversão da lei dos despejos e a regulação  das rendas garantem habitação para todas. Mas não só: o Bloco propõe nestas eleições que o trabalho de cuidados seja garantido pelo estado através de cozinhas partilhadas, lavandarias, creches e estruturas residenciais para idosos públicas, retirando esse trabalho não pago das costas das trabalhadoras. É também o Bloco que é mais consequente no combate ao racismo: é o único sem medo de denunciar a violência policial racista, além de propor o direito de voto pleno a quem tem direito de residência, a revisão antirracista das políticas da memória e a revisão dos manuais escolares, o fim das turmas segregadas e a recolha de dados étnico-raciais ― tudo isto definido com a «participação direta de organizações antirracistas e representativas das comunidades racializadas».  E é também o Bloco que vai mais longe na defesa do planeta, seja no combate ao extrativismo mineiro, seja na defesa de transportes públicos, na reconversão da indústria e na defesa das florestas. Isto sem medo de afirmar que a descarbonização não é possível com o setor energético nas mãos dos privados, defendendo a sua nacionalização.

#Razão2: A esquerda como a terceira força

Nestas eleições não se define apenas quem será governo. Quem ficará como terceira força política? A esquerda combativa ou o neofascismo? Sairá reforçado o ódio racista ou as lutas sociais, o feminismo e o antirracismo? Para a luta de classes, não é indiferente esta disputa: a definição do terceiro lugar será também a de quem se sentirá mais forte para ocupar as ruas ― se os fascistas se os movimentos sociais e laborais. Sem desvalorizar as restantes forças, é um facto que é o Bloco que, à esquerda, pode disputar o terceiro lugar. Pelo que faz falta votar, juntar forças e concentrar votos na resposta consequente e combativa da esquerda. É no Bloco o voto útil que reforça toda a esquerda contra o neofascismo.

#Razão3: Direita nunca mais!

Nem sempre tem sido devidamente considerado o risco de uma vitória ― ou de uma maioria parlamentar ― da direita, mas o povo de esquerda está atento e preocupado. O PS dinamitou as pontes à esquerda para se apresentar como o voto útil contra a direita. Mas essa chantagem é cínica, pois Costa assume a disponibilidade para apoiar, ou ser apoiado, por Rui Rio. Nem o chumbo do Orçamento para 2022 nem as exigências que Catarina Martins tem apresentado ao PS impedem que o BE seja coerente no combate à direita: um governo de Rio não passará! No que for necessário, o voto das deputadas do Bloco é garantia disso ― não podia ser de outra forma. Aliás, vale a pena reafirma-lo até ao final da campanha: o voto no BE é o mais coerente para que haja no Parlamento uma maioria que impeça a direita de governar. O povo de esquerda não tem de ceder à chantagem de Costa, pode e deve contar com o Bloco.

Dia 30 (ou mesmo antes, para quem vote antecipadamente) não se pode ficar em casa. O voto nos direitos do povo trabalhador, contra o caos climático e para travar a direita e neofascismo é o voto no Bloco de Esquerda!