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MOVIMENTO

Greve da GM: Sindicato abandona greve e fábrica retoma produção

Relato da Greve da GM de São Caetano do Sul – Parte IV

Otávio Mendes*, de São Caetano do Sul, SP
Divulgação/ABCD Jornal

Após a volta do feriado (13), ao rejeitar a proposta de acordo e continuar a greve (relato parte III) na GM de São Caetano do Sul, os trabalhadores/as demonstravam disposição para enfrentar a dureza da empresa em não ceder nada na proposta. Naquele dia a tarde, também estava marcado o julgamento da greve no TRT2-SP e não faria sentido recuar um movimento tão forte antes desse fato.

O clima foi de apreensão durante todo o dia para esperar o resultado julgamento. Após sete dias de linha de produção parada e poucos avanços nas negociações, os sinais de tensão entre chefia e peão se tornavam mais explícitos o que demonstrava a intenção da empresa em retomar a produção o mais rápido possível. Os primeiros informes do julgamento começaram a circular nos grupos de whatsapp no início da noite. O juiz definiu o retorno imediato ao trabalho, manutenção integral da cláusula 42 de estabilidade aos lesionados por um ano e a não concessão do vale alimentação, além do reajuste salarial de 10,42% que já havia acordado. A greve não foi julgada abusiva, então a empresa não poderia descontar os dias parados, mas com a condição de compensar 50% das horas da greve e que a partir daquele momento a cada dia não trabalhado seria aplicado multa de 50 mil reais para a entidade.

O juiz definiu o retorno imediato ao trabalho, manutenção integral da cláusula 42 de estabilidade aos lesionados por um ano e a não concessão do vale alimentação, além do reajuste salarial de 10,42% que já havia acordado. A greve não foi julgada abusiva, então a empresa não poderia descontar os dias parados, mas com a condição de compensar 50% das horas da greve e que a partir daquele momento a cada dia não trabalhado seria aplicado multa de 50 mil reais para a entidade.

É notório como o judiciário, um dos setores com a maior quantidade de auxílios e compensações financeiras, julga negativamente a concessão de vale alimentação para trabalhadores que há anos não têm reajuste salarial razoável, num momento de altíssima inflação e perda de renda da população nos itens básicos de consumo. Vale lembrar que nos mesmos dias da greve esse mesmo poder judiciário tinha mantido presa uma mãe que em situação de fome dos filhos furtou miojo e refrigerante no valor de R$21,00.

Um gosto amargo tomou conta das conversas durante a noite. A manutenção integral da cláusula 42 era resultado direto da resistência do movimento, uma vez que a empresa sempre quis uma brecha para demitir os restritos (lesionados que não podem exercer suas funções) por conta do “alto custo sem retorno produtivo” (pensamento da empresa). Todo ano é aberto o Programa de Demissão Voluntária para esse setor. Porém, a conquista do Vale-Alimentação era o ganho que a greve estava decidida a conquistar e o julgamento tinha sido contrário.

Na manhã de quinta-feira (14) o clima da assembleia estava bastante tenso. Foi a primeira vez durante a greve que se podia encontrar chefias e gerentes no meio das pessoas. A postura vacilante do Sindicato de Metalúrgicos de São Caetano ao dizer que a luta pelo vale alimentação tinha sido fincada na empresa e que futuras paralisações por setor (e não geral) poderiam ocorrer para estar sempre pressionando a empresa dava o tom de qual posicionamento seria defendido por eles. 

As vaias começam quando o presidente passa o informe do julgamento e que a orientação seria terminar a greve e retomar ao trabalho. Antes de colocar em votação o Sindicato alerta para possíveis represálias por parte da chefia e que a orientação seria para terminar a greve. Irredutível, a Assembleia votou contra o término da greve com uma margem de mais de 80%. O sindicato quis refazer a votação lembrando novamente que poderia haver represália, novamente a votação era contra o término da greve sendo acompanhada de sonoras vaias e xingamentos. 

Grande parte dos trabalhadores/as manteve a postura de greve e foi embora pra casa. Mas pela primeira vez houve cisão no movimento e alguns setores ficaram na empresa para ver o que iria acontecer. Rapidamente as chefias começaram a ligar para todos “orientando” a retornar ao trabalho pois para a GM a greve tinha se encerrado, uma ofensiva pesada para o retorno da produção. As pessoas que estavam na fábrica buscaram o sindicato para ver qual seria o procedimento nesse espaço tensionado por chefia e greve. 

O posicionamento dos diretores no chão de fábrica foi o pior possível. Alegando que a justiça tinha determinado retorno ao trabalho, eles não poderiam fazer nada. Viraram as costas para a decisão da assembleia (estando certa ou errada), abandonaram os trabalhadores recebendo pressão e ordem direta de retorno ao trabalho.

O posicionamento dos diretores no chão de fábrica foi o pior possível. Alegando que a justiça tinha determinado retorno ao trabalho, eles não poderiam fazer nada. Viraram as costas para a decisão da assembleia (estando certa ou errada), abandonaram os trabalhadores recebendo pressão e ordem direta de retorno ao trabalho. Independente da hora que fossem retornar, seria necessário que voltasse no mesmo dia para a linha, essa era a conversa.  Não há movimento que resista à ameaça de fortes represálias uma vez que o Sindicato abandonou a luta. Por volta de meio dia da quinta-feira, a linha já estava rodando em velocidade reduzida enquanto as pessoas ainda retornavam aos postos com um misto de revolta e tristeza no rosto. Todos se sentiram desamparados nessa situação. Na sexta-feira (15) praticamente a produção tinha voltado ao normal.

Mais uma vez o Sindicato de Metalúrgicos de São Caetano do Sul (Força Sindical) “honrou sua tradição” de abandono e traição aos trabalhadores da GM, aumentando seu descrédito junto a categoria. A força da greve, descrita pelos mais velhos como umas mais fortes da história da planta, não permitiu o ataque aos restritos mantendo a cláusula 42, porém não conseguiu arrancar a principal conquista que seria a concessão do vale alimentação, além do reajuste salarial. Ao manter a greve dentro dos portões da GM, a pressão do movimento ficou restrita ao interior da fábrica que fervilhou nesses últimos dias. Em nenhum momento, o Sindicato propôs ações que levassem a greve para fora da empresa, atos de rua em São Caetano por exemplo, ou mesmo procurou construir um movimento de solidariedade e forças políticas externas que dessem palco maior à greve ajudando a pressionar as negociações.

O retorno da produção nesse momento, infelizmente tem o toque da diretoria do Sindicato que permitiu que as ameaças de represálias e pressão da chefia fossem mais fortes e permissivas sob os trabalhadores/as do que a votação de continuidade e adesão à greve no chão de fábrica.  

*Eletricista de Manutenção na GM de São Caetano do Sul