A democracia e o mundo do trabalho italianos terão uma dura prova de fogo nos próximos dias, na Itália. Nesta sexta-feira, 15 de outubro, entra em vigor o decreto baixado pelo governo italiano, liderado pelo primeiro-ministro Mario Draghi, que obriga todos os trabalhadores a apresentarem o passaporte sanitário (o chamado Green Pass) comprobatório da vacinação contra a covid-19 nos locais de trabalho.
No sábado, 16 de outubro, haverá dois grandes atos, um em Milão e outro na capital, Roma, com significados políticos absolutamente distintos.
Na milanesa Piazza Fontana, às 17h30 (12h30 em Brasília), a convocação é para um protesto contra o decreto governamental, que, muito provavelmente, contará com a presença dos mesmos grupos de extrema-direita que, no dia 9 de outubro, tentaram sem êxito adentrar a sede do governo italiano (o Palazzo Chigi), mas que conseguiram invadir a sede da maior central sindical italiana, a Confederazione Generale Italiana del Lavoro (CGIL).
Na romana Piazza San Giovanni, às 14h, a manifestação tem caráter antifascista e, sob o slogan Mai Più Fascismi (Fascismos Nunca Mais), reunirá uma massa de trabalhadores convocados pelas três grandes centrais sindicais italianas (além da CGIL, a Confederazione Italiana Sindacati Lavoratori – CISL, e a Unione Italiana del Lavoro – UIL), para protestarem contra a invasão da sede da CGIL e exigirem a dissolução legal de organizações fascistas, como Forza Nuova – principal agrupamento político responsável pelos atos do dia 9 de outubro e que, junto a outras organizações neofascistas, têm se aproveitado das mobilizações negacionistas dos grupos antivacina na Itália.
Por fim, nos dias 17 e 18 de outubro, ocorrerá o segundo turno das eleições em várias cidades italianas, com destaque para a acirrada disputa a ser realizada entre centro-esquerda e centro-direita na capital italiana, que, certamente, sofrerá a influência dos atos de violência praticados pelos neofascistas do dia 8 e da manifestação antifascista convocada por CGIL/CISL/UIL no dia 16.
Na disputa do segundo turno em Roma, estão o professor universitário e ex-ministro da Economia Roberto Gualtieri, do Partido Democrático (centro-esquerda), e o advogado e radialista Enrico Michetti, do Irmãos de Itália, partido de extrema-direita liderado pela deputada Giorgia Meloni, que conta com o apoio dos conservadores, da Liga Norte de Matteo Salvini e da Força Itália de Silvio Berlusconi.
Com isso, talvez não seja exagerado afirmar que boa parte do futuro político da península itálica e da luta contra a ofensiva neofascista no continente europeu encontra-se na dependência da ida da classe trabalhadora a Piazza San Giovanni, no sábado, e na afluência da cidadania em geral às urnas no domingo e na segunda.
Que italianos e italianas em geral e romanos e romanas em particular saibam dizer, pois, em alto e bom som, nas praças e nas urnas: “Fascismos Nunca Mais!”.
*Professor da UPFE e Coordenador do Programa Trilhas da Democracia.
Comentários