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MUNDO

Trabalhadores da Itália impõem derrotas ao fascismo nas ruas e nas urnas

Marco Mondaini*, de Recife, PE
AP Photo / Andrew Medichini

Ventos democráticos provenientes da península itálica sopraram potentemente entre os dias 16 e 18 de outubro, impondo uma importante derrota às forças políticas de direita e extrema direita da pátria de Giuseppe Garibaldi e Antonio Gramsci.

Na tarde do dia 16, dezenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras convocados pelas três grandes centrais sindicais italianas (CGIL, CISL e UIL) reuniram-se na Piazza San Giovanni, em Roma, para protestar contra a invasão da sede da CGIL, na capital italiana, por militantes contrários ao passaporte sanitário comprobatório da vacinação contra a covid-19 nos locais de trabalho, entre os quais os esquadristas neofascistas da organização política Forza Nuova.

Simbolicamente encerrada com todos os manifestantes cantando em coro o hino da Resistência antifascista italiana, “Bella Ciao”, o ato não apenas exigiu a dissolução legal das organizações fascistas, mas também a implantação de uma decidida política de defesa do trabalho pelo governo liderado pelo economista Mario Draghi.

Presente ao ato antifascista, Dom Luigi Ciotti, padre que se destaca pela luta contra a máfia na Itália, conseguiu sintetizar o espírito geral da manifestação, ao dizer que “o dissenso é o sal da democracia e a violência é a sua negação. A violência dos fascismos, dos racismos, dos soberanistas nasce do veneno de uma sociedade desagregada e de uma democracia pálida, onde muitos direitos são palavras ditas ou escritas no papel, mas que não são traduzidas no concreto”.

A força demonstrada pelo campo democrático antifascista na Piazza San Giovanni seria potencializada tão logo foram divulgados os resultados do segundo turno das eleições para prefeitura das cidades de Roma e Turim, além de outras cidades italianas de porte menor, no dia 18.

Depois de ter conquistado, ainda no primeiro turno, as prefeituras das cidades de Milão, Bolonha e Nápoles, o centro-esquerda impôs uma severa derrota aos partidos de direita e extrema-direita vencendo com uma votação de 60% – um 5 X 0 que faz com que o centro-esquerda esteja à frente do governo das principais cidades italianas em todos as suas regiões, às vésperas da realização da escolha do próximo presidente da república pelo parlamento e, no próximo biênio, das eleições legislativas que resultarão na formação de um novo governo na Itália.

Vindas de um país que viu nascer o fascismo na década de 1920 e que teve de conviver com a ditadura encabeçada por Benito Mussolini durante quase 25 anos, as imagens da Piazza San Giovanni tomada de bandeiras vermelhas e as notícias da acachapante vitória do centro-esquerda sobre as direitas neoliberal, xenófoba e neofascista de Silvio Berlusconi, Matteo Salvini e Giorgia Meloni, representam um sentimento de alívio e de esperança na possibilidade de vitória sobre o fascismo em outras partes do mundo.

Que as forças democráticas e de esquerda existentes no Brasil saibam captar o espírito de unidade que permeou a vitória contra o fascismo nas ruas e nas urnas na Itália!

 

 

*Marco Mondaini é professor da UFPE e Coordenador do Programa Trilhas da Democracia

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Itália