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EDITORIAL

Nenhuma trégua ao fascismo: dia 02 de outubro será a nossa resposta!

Editorial

Há um impasse na situação política nacional. Bolsonaro não é forte o suficiente para executar um golpe vitorioso nesse momento, mas não é fraco o bastante para cair imediatamente. Decorre desse cenário um equilíbrio precário e instável, que ficou expresso na carta de desculpas de Jair Bolsonaro escrita por Michel Temer.

Após demonstrar força nas ruas no 07 de setembro, fazendo ameaças golpistas explícitas, o presidente miliciano recuou taticamente dois dias depois. Na terça (7), mostrou que tem capacidade de mobilizar massivamente seus apoiadores em torno de bandeiras golpistas. Na quinta (9), foi obrigado a recuar diante da pressão da grande burguesia e do perigo do impeachment. Deu dois passos à frente, para dar um passo atrás em seguida, mantendo a mesma estratégia golpista de sempre.

O acordo expresso na “carta Temer” tem dois aspectos fundamentais. De um lado, revela que a burguesia — em sua maior parte — atua pelo “nem impeachment, nem golpe”, ou seja, quer preservar o governo até as eleições, buscando, ao mesmo tempo, conter o plano golpista do miliciano. O cálculo do grande capital é de que o processo de impeachment seria muito custoso para seus negócios e as reformas liberais, pois paralisia o país num enfrentamento político e institucional de enorme intensidade e consequências imprevisíveis.

ENGLISH No truce with fascism: 2 October will be our answer!

De outro lado, a carta de desculpas elaborada por Temer expressa que Bolsonaro não tem condições para avançar em sua estratégia golpista nesse momento. Não há apoio do imperialismo norte-americano (o governo Biden) para um golpe no Brasil, tampouco há suporte majoritário na classe dominante nacional para esse objetivo. Além disso, o governo vive seu momento de maior desgaste popular, que tende a se intensificar com a alta da inflação. Tendo em conta esse fatores, não há indícios de que o alto comando militar esteja favorável a uma aventura fascista, em que pese o apoio político dos militares ao governo.

A solução provisória encontrada no andar de cima reflete o impasse na situação política. Porém, o acordo momentâneo concede tempo para Bolsonaro recuperar parte da popularidade perdida e preparar os passos para uma nova investida golpista. Não pode haver dúvidas: a eleição para o fascismo é tática, o estratégico é construir condições para a ruptura autoritária. Dar tempo a Bolsonaro, esperando tranquilamente as eleições, é brincar com o perigo — um equívoco imperdoável.

 

A tarefa prioritária: construir o dia 02 de outubro pelo impeachment! 

Acerta a oposição de esquerda e centro-esquerda ao afirmar a luta urgente e inadiável pelo impeachment de Bolsonaro. O desafio segue sendo transformar a maioria social em maioria nas ruas, para derrotar esse governo e o golpismo o quanto antes. Nesse sentido, a Campanha Fora Bolsonaro marcou um novo grande ato nacional para 02 de outubro. Nove partidos (PSOL, PT, PCdoB, PDT, PSB, PV, Rede, Solidariedade e Cidadania) se comprometeram, nessa quarta (15), a construir o ato de 02 de outubro e apontaram também a data de 15 de novembro, para outra  manifestação pelo impeachment. O intuito é envolver na construção desses atos todos os setores favoráveis ao impeachment de Bolsonaro, inclusive a oposição de direita.

O fracasso ressonante da manifestação do MBL e do Vem Pra Rua no dia 12 de setembro, que contou com a presença de Doria, Ciro, Mandetta e Amoedo, demonstra que a capacidade de mobilização social desses segmentos é muito limitada. Mas isso não deve levar a uma posição sectária da esquerda em relação a eles. Preservando seu espaço e suas bandeiras, a esquerda deve defender que todos aqueles que estão a favor do impeachment de Bolsonaro devem estar nas ruas dia 02, mesmo a oposição de direita.

Quanto mais representativo e amplo for o palanque em 02 de outubro e 15 de novembro mais forte será a pressão contra Bolsonaro. Nesse sentido, seria relevante que estivessem no mesmo palanque no ato Lula, Boulos, Ciro, Doria, FHC, Dino, Requião, entre outras lideranças. O envolvimento dos artistas nesse movimento também é de muita importância. Precisamos de todos os setores que estejam dispostos a essa luta comum.

Consideramos que a construção do ato de 02 outubro deve ser a máxima prioridade da esquerda, do conjunto dos movimentos sociais e todes que percebem o perigo representado por Bolsonaro. Não podemos perder nenhum dia. O engajamento de Lula na convocação do ato, que até aqui se manteve distante das manifestações de rua, é fundamental.

É preciso levar o chamado à mobilização aos locais de trabalho, aos bairros periféricos e à juventude. A construção do ato pela base é essencial. Porém, para que tenha êxito, é chave dialogar com as demandas mais sentidas pelo povo trabalhador, como a carestia pela inflação, a falta de emprego, a retirada de direitos, os baixos salários, a insuficiência de vacinas, as reformas neoliberais, as privatizações, entre outros temas que afligem as pessoas trabalhadoras. É preciso construir a ligação entre a vida concreta da massa e as ameaças golpistas. Afinal, Bolsonaro quer um golpe para, sobretudo, impor mais ataques às condições de vida do povo pobre e trabalhador.

A organização do ato deve levar em consideração a importância de concentrar os atos nas capitais dos estados. Deve ser avaliada a possibilidade de construir caravanas de ônibus de todas as cidades do interior para as capitais, de modo que possamos concentrar forças no grandes centros urbanos, tal como fez Bolsonaro no dia 07. Os sindicatos, parlamentares e movimentos sociais devem dispor seus recursos e meios para a construção da manifestação. Vamos à luta. Fora Bolsonaro. Impeachment já!