“Não tenho medo de eleições. Entrego a faixa a quem ganhar. No voto auditável. Nessa forma, corremos o risco de não termos eleição no ano que vem. Porque é o futuro de vocês que está em jogo”, disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada nesta manhã, 9.
“Já está certo quem vai ser presidente no ano que vem. A gente vai deixar entregar isso?”
A aprovação do voto impresso é uma das bandeiras do bolsonarismo e é utilizada como forma de lançar desconfiança sobre o regime político como um todo, preparar possíveis ações em caso de uma derrota eleitoral (como fez Donald Trump nos Estados Unidos, ao estimular a invasão do Capitólio) ou até mesmo ameaças golpistas. O discurso foi retomado com força desde o início da CPI com ameaças ao processo eleitoral e ao TSE.
“Daí vem os institutos de pesquisas, fraudados também, botando ali o nove dedos lá em cima. Para que? Para ser confirmado o voto fraudado no TSE” disse, acrescentando depois: “Já está certo quem vai ser presidente no ano que vem. A gente vai deixar entregar isso?”
Bolsonaro volta a citar o nome de Barroso, ministro do STF: “É uma resposta de um imbecil. Eu lamento falar isso de uma autoridade do Supremo Tribunal Federal. Só um idiota para fazer isso aí.”
Bolsonaro não esconde seus planos: Não aceita se submeter ao processo democrático, e acusa instituições como os instituto de pesquisa, o TSE e sobretudo o Supremo Tribunal Federal de conspirar contra ele, ainda que não haja indício algum dessa “conspiração”. Trata-se de um discurso que visa intimidar opositores e inflamar sua base eleitoral, no momento em que o Presidente faz “Motociatas” pelo país, buscando demonstrar força e remar contra o desgaste.
Este é o primeiro pronunciamento público do Presidente desde o resultado da última pesquisa eleitoral.
Maioria da população reprova governo
Em pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (8) pela Folha de São Paulo, o presidente da República é apontado com recorde de rejeição. Bolsonaro atingiu a média de 51% de reprovação, o que já é o pior cenário desde o início do mandato. Em maio desse ano, último levantamento do instituto de pesquisa, esse índice era de 45%.
Voto impresso?
O tema já está no Congresso Nacional. Em maio, a Câmara dos Deputados criou uma comissão especial para estudar uma proposta de emenda à Constituição que institui o mesmo modelo de voto impresso pregado pelo presidente da República. A PEC 135/2019 foi redigida pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e tem como relator o deputado Filipe Barros (PSL-PR), ambos integrantes da base governista.
Esta quinta, dia 08, a base do governo decide adiar a votação, em busca de mais tempo para articulação do projeto.
O sistema atual, no entanto, é considerado seguro pelo TSE e por especialistas, tem várias formas de auditagem e nunca registrou uma fraude desde que foi implantado há mais de 30 anos. O posicionamento do TSE, bem como de autoridades no tema é de que o voto em urna eletrônica é seguro e inclusive auditável.
Ao jornal El País, a cientista política Isabel Veloso, professora da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, declara:
“Não me parece que o objetivo dos defensores do voto impresso seja trazer legitimidade às eleições. Além de não necessariamente adicionar segurança ao processo, tendo inclusive o potencial de trazer vulnerabilidade, seria inviável implementar o voto impresso nas eleições de 2022. Haveria toda a tramitação da proposta no Congresso, a licitação, a produção das novas urnas ou dos aparelhos a serem acoplados às existentes, a instalação, os testes, os treinamentos. Estando clara a impossibilidade de implementação do voto impresso em 2022, insistir nessa ideia denota o propósito de trazer instabilidade ao processo democrático”
Comentários