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MOVIMENTO

Notas sobre o encontro “O que é Educação Popular?”

Gabriela Lima Vieira, de São Paulo, SP
Jonathan Stutz/Adobe Stock

O presente texto tem o intuito de abrir uma sequência de cinco textos que têm como objetivo relatar a experiência do Curso de Formação: Educadores populares, que foi organizado pelo Cursinho Popular Maria Firmina Dos Reis. Aqui serão relatados e refletidos pontos essenciais da discussão realizada em conjunto no primeiro encontro sobre “O que é Educação Popular?”, e que muito agrega o pensamento da educação popular. 

Sabe-se que a educação popular é uma prática educativa emergente das lutas e resistências das classes populares e permeia a ideia de educação e política como aliadas e indissociáveis, já que a educação popular é reflexo das lutas das classes populares contra suas condições de marginalidade social. Deste modo, política e educação andam juntas. A educação, bem como a política são elementos chave na transformação da educação, e podem ser materializadas na prática social, como os cursinhos populares, por exemplo. 

Em debate, foram discutidos os quatro principais pontos que caracterizam a educação popular (STRECK, 2008): 1. A valorização da pluralidade de saberes; 2. A relação interpessoal como ferramenta de aprender e ensinar; 3. O conhecimento da realidade a partir de uma perspectiva emancipatória; 4. A educação como processo formativo da sociedade. 

O saber e a palavra são desigualmente repartidos e elaborados de forma hierárquica na sociedade, tendo em vista que poucas são as pessoas que têm seus saberes e suas palavras legitimadas como elemento de ação. 

A valorização da pluralidade de saberes perpassa o poder da palavra descrito por BRANDÃO (2006), em que a palavra é elemento e ato de poder que detém símbolo e ação. O saber e a palavra são desigualmente repartidos e elaborados de forma hierárquica na sociedade, tendo em vista que poucas são as pessoas que têm seus saberes e suas palavras legitimadas como elemento de ação. 

No entanto, educação popular se contrapõe a essa ideia, já que a palavra é elemento legítimo de todos e também capaz de construir uma prática educativa de forma horizontal, em que todos aprendem com todos, rompendo a hierarquia e o sentido de poder de controle da palavra. Entende-se que a palavra se insere em uma dicotomia, podendo ser instrumento de poder para oprimir e controlar e/ou

instrumento de poder para libertar, a educação popular se pauta no segundo sentido, valorizando-o e praticando-o. 

O segundo ponto que é basilar quando se pensa em educação popular é a importância da relação interpessoal e a sua potencialidade educativa. Há várias formas de aprender e ensinar e uma delas é o aprender com o outro e, sobretudo, com o coletivo. A troca de olhares, gestos de afeição e a convivência são repertórios de momentos que têm poder de garantir o surgimento de sentimentos de “eu”, “nós”, possibilitando o relacionamento entre iguais, e sendo, portanto, uma condição de um modo diferente de aprender e ensinar e da circulação do saber (BRANDÃO, 2006). 

O conhecimento da realidade a partir de uma perspectiva emancipatória foi o terceiro ponto apresentado e discutido em debate. Sobretudo na ótica da prática político-pedagógica dos cursinhos populares, tendo em vista o trabalho do Cursinho Popular Maria Firmina Dos Reis e também a imersão e formação do mediador do debate, que por sua vez, também é educador popular em cursinho popular. 

Nesse sentido, discutiu-se a importância do desvelamento da realidade de forma crítica através dos conteúdos e discussões e a potencialidade desse processo para a apropriação do “saber dos dominantes”, da burguesia e a emancipação, principalmente com relação à desigualdade do vestibular, fruto mais bem acabado da educação bancária. 

Por fim, finalizando o que foi abordado como sendo princípio sobre “O que é educação popular?”, elucidou-se o papel da educação como processo formativo da sociedade. Aqui cabe ressaltar a importância da educação enquanto lugar de ideias, práticas de produção, códigos. Nesse contexto, a educação popular assume o papel de domínio de ideias e práticas regidas pela diferença, para explorar o próprio sentido da educação, resistindo ao sistema de educação e à educação escolar. 

Além disso, “a educação é, assim, um processo de autoformação da sociedade a partir das forças que existem nela mesma (…)” (STRECK, 2008, p. 23). Deste modo, fica evidente que o papel da educação popular de questionar a educação escolar de modo a buscar a democratização dos saberes e de formação de uma práxis educativa que reflita o movimento teórico-prático nela mesma.

Em suma, os educadores populares ou pessoas que queiram atuar na educação popular, devem compreender o fazer educação como um ato político, de formação de consciência sobre os poderes da burguesia com relação à educação, de formação política construída coletivamente nas relações e do mecanismo de elencar os objetivos relacionados à prática político-pedagógico. 

Referências 

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação popular. Editora Brasiliense . Coleção Primeiros Passos, 2006. 
STRECK, Danilo R. José Martí e a educação popular: um retorno às fontes. Educ. Pesquis., São Paulo. v. 34, n. 1, p. 11-25. Abr, 2008
Marcado como:
Educação popular