(Publicado originalmente em Jornal A Tarde, Salvador, 21/05/2021)
Escrevo esse artigo enquanto o ex-ministro Eduardo Pazuello ainda depõe na CPI da Pandemia. Preciso dizer isso, porque no momento em que o leitor tiver nas mãos este texto, a notícia já será outra, quase nos fazendo esquecer que foi nesta semana que Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, depôs.
Na última terça, Araújo, que até outro dia ocupava a cadeira por onde tinham passado Rio Branco, Oswaldo Aranha, Celso Amorim entre outros ilustres que tornaram a diplomacia brasileira mundialmente respeitada, mostrou para o país toda a miséria do governo de Jair Bolsonaro, para muito além de sua política externa. Deixando-se de lado o desastre do fato de que o ex-chanceler foi absolutamente incapaz de adquirir vacinas, que contribuiu para provocar sucessivas crises com a China, nosso principal parceiro comercial e mais importante fornecedor de insumos para a preparação do imunizante e que sequer foi capaz de agradecer ao governo venezuelano pelo envio de oxigênio para salvar vidas em Manaus, tudo sobejamente demonstrado na CPI, salta aos olhos toda a loucura terraplanista que esteve instalada no Itamaraty e alhures deste governo.
Dizer que Araújo é um terraplanista desvairado, um negacionista convicto e uma bússola que nos guiou para o caos, como pontou a senadora Kátia Abreu (PP-TO), é o mínimo diante do que assistimos e daquilo que se depreende pelo que este senhor escreve em seu blog chamado Metapolítica 17. Neste universo paralelo, não há espaço para razão, fatos ou evidências, pois campeia uma visão conspiracionista da realidade de onde derivam expressões como “comunavírus”, “globalismo”, “covidismo” entre outros termos apropriados para tanger o gado fanatizado.
Como arauto do pedantismo bacharelesco, que acredita que o mundo foi tomado por uma conspiração comunista que envolve a grande mídia, o “narco-socialismo”, o “climatismo” o “racialismo”, o “abortismo”, a “ideologia de gênero” entre outras fantasias, Araújo imagina-se desempenhando um papel heroico e corajoso frente à conspiração globalista universal que usa a OMS para seus fins. Tornamo-nos “párias do mundo”, mas não apenas pelo que fizemos, mas também pela galhofa que provocamos no plano internacional.
Não surpreende que o Brasil esteja passando pela sua maior tragédia sanitária, cuja antessala é essa miséria moral e intelectual que nos governa. Contudo, como diz Adorno, “não se deve subestimar esses movimentos devido a seu baixo nível intelectual e devido à sua ausência de teoria”. Araújo não é apenas um dos alunos do astrólogo Olavo de Carvalho, é também um dos prestidigitadores de um governo que ainda move hordas de fanáticos e parasitas que ariscam tornar a invasão do Capitólio brincadeira de criança. Estejamos preparados.
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