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Especiais

No Recife, mulher negra encabeça chapa coletiva composta por nomes da periferia

Luciana Ribeiro, Resistência (Pernambuco)
Reprodução

Da esquerda para a direita, Jhon Jhon da Saúde, Karla Recife, Hálisson Tenório e Levi Costa

Ela traz a cidade no nome: Anna Karla, conhecida como Karla Recife, é uma jovem negra moradora do bairro do Ipsep, periferia do Recife. Mestranda em História, especialista em Gestão Pública e com uma já longa trajetória no movimento e no feminismo negro, concorre agora à vaga de vereadora da capital pernambucana ao lado de três parceiros de luta: Hálisson Tenório, Jhon Jhon da Saúde e Levi Costa. Os quatro disputam o pleito pelo PSOL, na chapa coletiva Recife Resiste.

Hálisson Tenório, funcionário público dos Correios, bacharel em Gestão da Informação e morador de Tejipió, também periferia do Recife, traz a experiência sindical para a chapa. Desde o início comprou a ideia de um mandato coletivo que fugisse dos moldes tradicionais do sindicalismo. A ideia é inovar, unindo a experiência dos anos de luta enquanto dirigente do SINTECT-PE (Sindicato dos Trabalhadores do Correios em Pernambuco) à dinâmica dos movimentos negro, LGBT, feminista e popular.

Negro, jovem, periférico e LGBT, Jhon Jhon da Saúde traz consigo muitas dessas bandeiras. Jhon é morador do Coque, comunidade com o pior IDH do Recife. Contrariando as estatísticas, formou-se primeiro como Auxiliar de Enfermagem e agora como Enfermeiro. Além do ativismo pela saúde pública, compõe o movimento LGBT e a luta popular na cidade.

Falando em luta popular, nada melhor que o nome de Levi Costa, o quarto integrante da Recife Resiste. Levi é morador do Ibura, um dos bairros mais violentos da cidade, onde é líder comunitário há anos. Educador social e comunicador popular, Levi desenvolve um forte trabalho cultural, atuando com a juventude e a primeira infância na prevenção da violência. Participa do movimento Hip Hop há pelo menos 15 anos e conquistou forte respeito da comunidade.

Diante de quatro trajetórias tão gigantes e representativas, pode parecer que foi difícil definir qual nome encabeçaria a chapa nas urnas, representando todo o grupo. Mas a decisão não foi difícil. Foi um consenso imediato, na verdade: ao digitar 50.050, o eleitor encontrará o rosto de Karla Recife na urna. Além de trazer consigo o respeito dos demais cocandidatos e de ter sido fundamental para a construção do coletivo, a chapa entendeu que já era passada a hora de ter uma mulher negra exercendo esse papel.

Por fugirem do estereótipo do político branco e rico, quando andam pela cidade com os seus panfletos e bandeiras, muitas vezes são confundidos com militância paga de outras candidaturas. “Nós somos os candidatos do panfleto que estamos lhe entregando”, costuma corrigir Karla. “A periferia cansou de ser carregadora de bandeira. Chegou a hora de eleger gente como a gente. É a nossa hora”, completa.