Pular para o conteúdo
BRASIL

Greve dos rodoviários de Recife vai para o terceiro dia contra intransigência patronal e precisa de apoio

Em greve desde quarta-feira, 26, os trabalhadores rodoviários de Recife reivindicam reajuste acima da inflação, plano de saúde, reajuste no ticket de alimentação e na gratificação por dupla função

Bruno Rodrigues, de Recife (PE)
Bruno Rodrigues/Portal Esquerda Online

Desde quinta-feira, 26, os trabalhadores do sistema rodoviário da capital pernambucana vêm protagonizando uma greve marcada pela forte adesão na base da categoria e cujo impacto na cidade tem sido profundo.

Leia também: Mais uma vez reunião entre Sindicato dos Rodoviários do Recife e empresários de ônibus termina sem acordo no TRT-6

Essa greve foi o resultado de diversas tentativas de um acordo com os patrões, em torno da reivindicação de reajuste salarial com ganho real acima da inflação, defendido pelo sindicato, reajuste no ticket de alimentação e na gratificação dos trabalhadores que exercem dupla-função, além de um plano de saúde para a categoria. 

Foto: Bruno Rodrigues/Portal Esquerda Online

Contudo, a resposta da patronal desde então tem sido de absoluta intransigência e indisposição para um acordo com os trabalhadores. Antes de decretada a greve,  o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado de Pernambuco (Urbana-PE) chegou a oferecer míseros R$7 de reajuste no ticket de alimentação, quando a reivindicação é de que o reajuste no atual valor de R$352 pago aos trabalhadores, vá para R$600 . Junto a isso, a proposta da Urbana-PE para a gratificação é de apenas R$15 de reajuste, sem plano de saúde e sem nenhum ganho acima da inflação.

Uma situação insustentável para uma categoria que tem amargado fortes perdas acumuladas nos últimos anos, em um contexto de elevada inflação sobre os preços dos alimentos, alta nas taxas de juros e  piora no nível de vida do povo. 

Patrões empurraram trabalhadores para a greve, mas não contavam com adesão da categoria e apoio da população

Os patrões empurraram o sindicato e a categoria para essa medida, acreditando que seria uma greve superestrutural, ou seja, realizada apenas pela diretoria do sindicato, sem adesão na base. Contudo, tratou-se de um evidente erro de cálculo político por parte dos empresários, tendo-se em em conta o alto nível de adesão dos trabalhadores ao chamado do sindicato, em várias garagens da região metropolitana do Recife.

Nas ruas também tem sido importante o apoio da população em geral aos trabalhadores em greve e o repúdio à mesquinhez dos patrões. Pois são justamente eles os mesmos que oferecem aos usuários um serviço caro e de baixa qualidade.

Governo Raquel Lyra (PSDB) também é culpado

Desde o começo da greve, o sindicato tem exigido do governo Raquel Lyra que atue junto à Urbana-PE no sentido de fazer com que as reivindicações da categoria sejam atendidas, mas a postura do governo estadual, de quem é a responsabilidade pelo sistema de transportes na capital, tem sido de total omissão frente à greve.

Todavia, nas ruas, o que mais se escuta das pessoas é que Lyra também também é culpada por essa greve.

Urbana-PE aposta na repressão, no assédio e em prática antissindicais 

Nesses dois primeiros dias de greve, a Urbana-PE tem recorrido a todo tipo de medida para derrotar a greve. Além da ostensiva utilização da polícia dentro das garagens, como forma de assediar e intimidar os trabalhadores, os empresários têm recorrido à prática antissindical da utilização de fura-greves, através da contratação de trabalhadores avulsos, mediante o pagamento de diárias, para substituir os trabalhadores que aderem à greve. O que mostra que de fato existem recursos financeiros nas empresas, o que não existe é interesse em aceitar a proposta do sindicato.

Foto: Bruno Rodrigues/Portal Esquerda Online

Ao mesmo tempo, a patronal tem utilizado largamente a justiça para impedir a atuação do sindicato. Até então já foram expedidos 12 interditos proibitórios limitando a atuação do sindicato nas garagens, de modo a dificultar o diálogo com os trabalhadores.

Patronal segue dura nas negociações e categoria vai ao terceiro dia de greve

Na manhã desta quinta, 27, chegou a ocorrer uma audiência conciliação no TRT 6, entre o sindicato dos empresários e o sindicato dos trabalhadores. Contudo essa audiência não chegou a durar mais que 2 minutos, dada a intransigência dos patrões, a despeito do caos nas ruas que tem sido esses dois dias, com dezenas de ônibus parados nas ruas e indignação da população.

Assim, neste dia 28, a categoria chega ao terceiro dia de greve, com um assembleia marcada para as 14h, na sede do sindicato, conforme convocado por Aldo Lima, presidente do sindicado, no vídeo abaixo:

Cercar os trabalhadores e o sindicato de solidariedade

Até aqui, além da combatividade da diretoria do sindicato e da própria categoria, têm sido importante a atuação de ativistas de esquerda da cidade e de sindicatos parceiros. Mas será necessário redobrar a solidariedade, diante do recrudescimento dos empresários. Além de precisar de apoio militante nos piquetes e nos atos de rua, o sindicato tem divulgado uma conta pix para receber doações ao fundo de greve.

Uma desejável vitória desta greve certamente não será uma apenas uma vitória corporativa da categoria rodoviária. No marco dessa conjuntura, na qual se busca inverter a correlação de forças ainda desfavorável aos trabalhadores, essa luta que vem sendo travada na capital pernambucana pode abrir passagem para a luta de outras categorias, em todo o país, na medida que ela pode tornar-se um ponto de referência política importante na luta em defesa de direitos dos trabalhadores.