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A Conferência de fundação da IV Internacional

Paulo Catatao

A fundação da IV Internacional foi o culminar de uma jornada que durou 8 anos. Ainda nos marcos da III Internacional, em 1930, durante o primeiro exílio de Trotsky na ilha de Prinkipo (Turquia), foi constituída a Oposição de Esquerda Internacional. Em 1933, após a derrota da revolução alemã, na qual o stalinismo jogou um papel nefasto, a Internacional Comunista é considerada morta para a revolução. A Oposição rompe com a III Internacional e funda-se a Liga Comunista Internacionalista (LCI). Numa Conferência realizada em 1936 foi constituído o Movimento pró IV Internacional. Finalmente, em 03 de setembro de 19381, é realizada a Conferência de fundação2 da IV Internacional.

Sua realização ocorreu sob circunstâncias bastante difíceis. O proletariado já havia completado um ciclo de duras derrotas, um período de 20 anos se considerarmos que a última e única revolução vitoriosa foi a russa. O nazi-fascismo vinha avançando na Europa durante toda a década de 30, aproveitando-se da política desastrosa do stalinismo. Depois da derrota das revoluções na Alemanha, Áustria, Itália, onde Mussolini ainda se mantinha no poder, ganhou definitivamente terreno com a derrota da revolução espanhola em abril de 1939, quando então dá-se por encerrada a guerra civil.

A Conferência de fundação ocorreu pouco antes do chamado “Acordo de Munique”, firmado em 29 de setembro, entre Alemanha e Itália, de um lado, e França e Reino Unido, de outro, permitindo a ocupação da Checoslováquia pela Alemanha nazista. A ameaça de uma nova guerra mundial era iminente.

O stalinismo, responsável direto pelas derrotas na Alemanha e Espanha, somava à sua política contrarrevolucionária e de conciliação com o imperialismo uma implacável perseguição a todo vestígio de oposição. Na esteira dos chamados “Processos de Moscou” (1936-1938) – colossal farsa jurídica através da qual Stalin viria a exterminar a oposição na URSS –, perseguiram até à morte todos os oposicionistas no estrangeiro, em particular, os trotskistas. O objetivo tornou-se então o de impedir de todas as formas a fundação da IV que estava em marcha.

No período prévio à Conferência, em julho de 1937, assassinaram na Suíça, Ignaz Reiss, membro da GPU que havia acabado de romper com o stalinismo e aderido à IV internacional. Em agosto, foi sequestrado na Espanha, Erwin Wolf (Nicole), o secretário de Trotsky na Noruega e membro do Secretariado Internacional (SI). Em fevereiro de 1938, León Sedov, – filho e principal colaborador de Trotsky, responsável pelo Boletim da Oposição (Bulletin Oppositsi) e do SI, foi morto pela GPU num hospital russo, em Paris, provavelmente envenenado. Por fim, dois meses antes da realização da Conferência de fundação, em julho de 1938, foi assassinado, também em Paris, o secretário do SI e responsável pela preparação da Conferência, Rudolf Klement, que apareceu esquartejado no rio Sena. Relatórios das atividades das seções, o projeto dos estatutos da IV e outros documentos preparatórios desapareceram com ele. (ver artigo sobre a GPU e a IV Internacional)

A essas duras condições se somavam as diferenças existentes dentro das próprias fileiras do Movimento pró IV Internacional, lançado na Conferência de 1936, em “Genebra”3. Uma delas era justamente se devia-se ou não fundar a IV Internacional. Na verdade, Trotsky já queria tê-la fundado em “Genebra”. Seu objetivo era o de unir todos os marxistas revolucionários em torno de um programa que sintetizasse as experiências e as lições do movimento marxista mundial desde o Manifesto Comunista, especialmente, desde a formação do partido bolchevique e a vitória da revolução russa. Para ele somente uma férrea organização internacional poderia garantir a defesa e a continuidade dessas conquistas atacadas pelo stalinismo e outras forças contrarrevolucionárias burguesas com o fim de apagá-las da memória histórica dos trabalhadores e sua vanguarda.

Apesar da opinião de Trotsky, prevaleceu a posição de seguir a luta por agrupar as organizações e dirigentes centristas. Dirigentes como Sneevliet (ex-dirigente da seção holandesa), Vereeken (seção belga), bem como o famoso historiador polonês Isaac Deutscher, vinham se opondo à fundação. Victor Serge4, libertado na URSS em 1936, também se opôs.

No entanto, desde “Genebra”, a situação piorou ainda mais. O isolamento aumentou, combinando-se com o afastamento de importantes dirigentes – Sneevliet e Andrés Nin já haviam se afastado em 1935; Serge, em 1936; Vereeken o fez às vésperas da Conferência de fundação da IV. Perdas muito importantes também ocorreram com assassinatos como os de Wolf, Sedov e Klement. O próprio Trotsky tinha plena consciência de que sua vida se encontrava em perigo. Assim, o risco de que a IV Internacional não fosse fundada era a cada dia maior. A aproximação da guerra completava esse quadro dramático tornando sua fundação uma tarefa inadiável.

Por outro lado, para Trotsky, a guerra imporia enormes sacrifícios e dificuldades, mas acreditava que, cedo ou tarde, como na I Guerra, abriria uma situação revolucionária em vários países, brindando novas oportunidades para a construção da nova Internacional. Nesse sentido, a fundação da IV tinha não somente um objetivo defensivo, mas também ofensivo. Não por acaso, em sua carta à Conferência de fundação, Trotsky falava que em perspectiva a IV Internacional seria seguida por milhões.

A Conferência foi, finalmente, realizada em 03 de setembro de 1938, sob estrita clandestinidade. Divulgou-se que seria realizada em “algum lugar da Suíça”, mas na verdade ela ocorreu na casa de Alfred Rosmer, em Périgny, um povoado a 50 km de Paris. Improvisou-se, num celeiro, uma mesa para as seções plenárias, além de alojamentos, salas e uma cozinha. Por medida de segurança, os delegados usaram diferentes rotas para chegar ao local da Conferência, mas isso não impediu que um infiltrado da GPU, Mark Zborowski (Etiénne), participasse representando a seção russa.5

A reunião teve que se resumir a um único dia de trabalho. O centro das discussões se deu em torno ao “Programa de Transição”, a fundação e os estatutos. Trotsky a considerou “um grande êxito”6.

Preparativos para a Conferência

As bases para a Conferência foram construídas em estreita consulta com Trotsky. Em março de 1938, uma delegação se reuniu durante seis dias com ele no México para preparar a Conferência. Ela era composta por James Cannon, Max Shachtman e Vincent Dunne, membros do SWP (EUA), e por Rose Karsner do México. Diego Rivera, também do México, participou de algumas sessões.

Boa parte destas discussões foram taquigrafadas, constando as seguintes: “Discussão sobre a Conferência Internacional” (20 de março); “Como lutar por um partido operário nos EUA” (21 de março); “Discussão sobre a luta contra a guerra” e “Sobre a emenda Ludlow” (22 de março); “Um resumo sobre as reivindicações transitórias” (23 de março); “A discussão sobre a organização da defesa e a atitude frente aos intelectuais” (24 de março); e, por fim, a “Discussão sobre a questão russa” (25 de março)7.

Durante as discussões ficou decidido realizar a conferência no final de junho ou início de julho, mas ela acabou sendo realizada dois meses depois. Foi decidido também formar comissões que se reuniram por cerca de um mês antes da Conferência a fim de preparar os documentos a serem apresentados. Cada comissão ficou responsável de apresentar seus trabalhos às sessões plenárias da Conferência. Depois, comissões especiais seriam estabelecidas para o trabalho complementar de edição e revisão.

Outras reuniões preliminares também foram realizadas nas seções como pré-conferências (Pan-Americana, a mais importante, além da Inglaterra, Grécia, França, outras), cujas principais resoluções foram apresentadas num relatório à Conferência de fundação.

Na “Discussão sobre a Conferência” ocorrida numa das reuniões preparatórias ocorrida no México em 20 de março, além do projeto programático que estava quase pronto, Trotsky afirmou que se encarregaria de elaborar sobre uma série de questões: sobre as reivindicações transitórias; o problema da democracia; a guerra; e um manifesto sobre a situação mundial. Mas tudo indica que ele veio a redigir apenas o “Programa de Transição”.8

A Conferência: delegados, organizações e os pontos de debates

Segundo informe do SI, o movimento pró-IV tinha 28 seções filiadas, além de duas não filiadas9. O número total de militantes das seções da IV internacional neste momento girava em torno de 5.50010. As maiores seções eram o SWP, dos EUA, com 2.500 militantes; o POI da França com 600 militantes; e o PSR da Bélgica, com 800. 11 No entanto, a seção indochinesa era a que provavelmente tinha maior influência. (ver artigo do EOL). Ta Thu Thau, seu principal dirigente no momento da conferência encontrava-se preso.

A Conferência credenciou 24 delegados12 13 representando 11 seções (Rússia, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Polônia, Itália, Grécia, Holanda, Bélgica, EUA e Brasil)14, sendo que 2 delegados da Áustria não foram credenciados. Alguns dos delegados presentes também tinham “mandatos” de grupos na Espanha, Tchecoslováquia, Canadá e México. Mário Pedrosa (Brasil) representava a América Latina. Por questão de segurança, Trotsky não participou da Conferência, mas enviou uma saudação15. Foi considerado delegado honorário e secreto, membro do CEI, sob o pseudônimo de Crux.

Deutscher ressalta16 que foi recusada a admissão de observadores do POUM catalão, dirigido por Andrès Nin, e do Parti Socialiste Ouvrier et Partisan (PSOP) francês, de Marceau Pivert, organizações que tinham relações com o trotskismo, mas mantinham importantes diferenças. Foi proposto que uma comissão se reunisse com elas após a Conferência.

No informe de abertura dos trabalhos apresentado por Naville em nome do SI foi anunciado para a presidência de honra da Conferência “nossos queridos camaradas León Sedov, Erwin Wolf, Rodolf Klement, antigos membros do SI dos bolcheviques-leninistas caídos na luta com a contrarrevolução stalinista; de Ignaz Reiss, Moulin (Freund), Rossini Scalaios, vítimas do terror fascista e stalinista, e todos os prisioneiros e vítimas da luta de classes internacional, combatentes da IV Internacional, entre os que está Ta Thu Thau na primeira fila.”17

De acordo com o mesmo informe, a pauta da Conferência seria: 1) Relatório do Secretariado Internacional; 2) Teses Internacionais, divididas em três grandes capítulos: questões trabalhistas (comitês, sindicatos, controle operário, etc.); URSS; o problema da guerra; situação na Espanha; 3) Estatutos da Internacional; 4) Relatórios das Comissões (polaca, francesa, inglesa, inglesa, grega e mexicana); 5) Solidariedade Internacional; 6) Juventude; e 7) Eleição do Comitê Executivo Internacional.

No entanto, ao ter que se realizar em apenas um dia, tanto algumas saudações18, quanto importantes resoluções19não puderam ser discutidas. Ao final, os debates estiveram centrados nos seguintes pontos: Estatutos, cujo centro foi a discussão sobre a fundação ou não da IV; Programa de Transição, donde se focou em três questões com uma hora de discussão em cada uma, e 10 minutos de intervenção para os oradores: a) o movimento operário (sindicatos; comitês de fábrica, controle operário, etc.); b) situação da URSS, em particular sobre o caráter do estado e a política frente a ele; c) guerra e situação internacional, Espanha, etc.; resoluções sobre as seções, uma saudação a León Trotsky20, e, por fim, ocorreu a eleição do CEI. A presidência da mesa coube ao delegado Max Shachtman (SWP-EUA). Como secretários foram designados Marcel Hic (França), Gould (EUA) e Sumner (Inglaterra).

Sobre o Programa de Transição

O “Programa de Transição” (A Agonia mortal do capitalismo e as tarefas da IV Internacional) foi discutido em reuniões e documentos preparatórios. Numa dessas discussões (“Completar o programa e colocá-lo em marcha”21) Trotsky busca definir a relação entre partido e programa: “Agora, que é o partido? Em que consiste sua coesão? Esta coesão é a compreensão comum dos acontecimentos, das tarefas, e esta compreensão comum é o programa do partido”. E complementa: “A importância do programa é a importância do partido. O partido é a vanguarda da classe. O partido se forma pela seleção entre os elementos mais conscientes, mais avançados, mais fiéis, e pode jogar um papel histórico e político que não está em relação direta com sua força numérica.”

Para Trotsky, o programa é produto da época e, por sua vez, da experiência histórica. O Programa de Transição expressava as lições extraídas da experiência da Oposição de Esquerda russa, em especial, a partir do VI Congresso da Internacional Comunista realizado em 1928. Ele ressalta que, desde então, foram necessários 10 anos de trabalho coletivo até que se chegasse ao programa apresentado na Conferência de fundação. Ele incluía a experiência do fascismo na Alemanha, a luta contra as frentes populares na França e Espanha, a análise e a luta contra a degeneração burocrática da URSS, da Internacional Comunista e do Partido Comunista da URSS (PCUS), e a recente intervenção na luta de classes nos EUA.22

O “Programa de Transição” começa por apontar o que seria a principal contradição da atual época do capitalismo e a tarefa para superá-la. No primeiro capítulo, “As premissas objetivas da Revolução Socialista”, afirma: “A situação política mundial no seu conjunto caracteriza-se, antes de mais nada, pela crise histórica de direção do proletariado. A condição econômica necessária para a revolução proletária já alcançou, no geral, o mais alto grau de maturação possível sob o capitalismo. As forças produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenções e os novos progressos técnicos já não conduzem a um crescimento da riqueza material. Sob as condições da social do sistema capitalista, as crises conjunturais sobrecarregam as massas com privações e sofrimentos cada vez maiores. O crescimento do desemprego aprofunda, por sua vez, a crise financeira do Estado e enfraquece os sistemas monetários instáveis. Os governos, tanto democráticos quanto fascistas, vão de uma bancarrota à outra”.23

Mais à frente, continua: “Tampouco o panorama das relações internacionais possui melhor aspecto. Sob a crescente pressão da desintegração capitalista, os antagonismos imperialistas alcançaram um limite cujo ponto mais alto, os conflitos isolados e os distúrbios locais sangrentos (…), devem, infalivelmente, confundir-se numa deflagração de dimensões mundiais. Sem dúvida, a burguesia conhece o perigo mortal que uma guerra representa para seu domínio. Mas essa classe é agora infinitamente menos capaz de preveni-la do que às vésperas de 1914.”24

E conclui: “As condições objetivas necessárias para a revolução proletária não somente estão maduras, mas começam a apodrecer. Sem a vitória da revolução socialista no próximo período histórico, toda a humanidade está sob a ameaça de ser conduzida a uma catástrofe. Tudo depende agora do proletariado, ou seja, antes de mais nada, de sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se resume à crise da direção revolucionária.”25

No capítulo “Programa mínimo e Programa de Transição”, Trotsky uma contradição entre tais condições objetivamente maduras e as condições subjetivas ainda imaturas, e coloca que a tarefa estratégica consiste justamente em superar essa contradição: “A tarefa estratégica do próximo período – período pré-revolucionário de agitação, propaganda e organização – consiste em superar a contradição entre a maturidade das condições objetivas acima apontada e a imaturidade do proletariado e sua vanguarda (confusão e desencorajamento da velha geração, falta de experiência da nova). 26

Por fim, para isso propõe também um método: “É necessário, no processo de suas lutas cotidianas, ajudar as massas a encontrar a ponte entre suas reivindicações atuais e o programa da revolução socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de reivindicações transitórias que parta das condições atuais e da consciência atual de amplas camadas da classe operária e conduza, invariavelmente, a uma só e mesma conclusão: a conquista do poder pelo proletariado.”27

Dessa forma, o Programa de Transição vem a superar o antigo programa da socialdemocracia que dividia o programa em duas partes: o programa mínimo, que se limitava a reformas correspondente à fase de desenvolvimento e progresso do capitalismo, e o programa máximo, que pregava para um futuro indeterminado a substituição do capitalismo pelo socialismo.

Trotsky esclarece que a época de decadência e decomposição do capitalismo reduz a margem para as reformas sistemáticas e a elevação do nível de vida das massas. Isso faz com que cada reivindicação do proletariado e mesmo da pequena burguesia que gira à esquerda, tende a conduzir a um questionamento da propriedade privada e do estado capitalista.

Baseado nessa realidade, o Programa de Transição trata de fazer a ponte entre o programa mínimo e o máximo. Para isso ele não rejeita o programa das velhas reivindicações mínimas, tampouco as reivindicações democráticas. Pelo contrário, partindo delas levanta um sistema de reivindicações transitórias que se dirige contra as bases do sistema capitalista. “Assim, o velho programa mínimo é ultrapassado pelo programa de transição, cuja tarefa consiste na mobilização sistemática das massas em direção à revolução proletária”. 28

Numa carta a Klement, no entanto, Trotsky esclarece sobre o que poderíamos chamar de “debilidade” do Programa de Transição. Ele alerta que o programa “não contém nem a parte teórica, quer dizer, uma análise da sociedade capitalista e de sua fase imperialista, nem o programa da revolução socialista propriamente dita”29. Assim, propõe que após a Conferência de fundação fosse designada uma comissão para completá-lo. Por outro lado, esclarece também o caráter peculiar do mesmo: “Trata-se do programa de ação para um período intermediário”30. Ou seja, não se trata somente de um conjunto de tarefas, mas de tarefas que devem se conectar com as reivindicações imediatas e o nível de consciência das massas com o fim de mobilizá-las tendo em vista a tarefa estratégica da tomada do poder.

Pese a importância de todo esse enfoque, na Conferência de fundação as discussões sobre o programa terminaram girando em torno de três temas considerados os mais polêmicos: as questões que envolvia o movimento operário e seus métodos de organização e de luta, a chamada questão russa e, por fim, sobre a guerra e o patriotismo. Embora não oficiais, os debates podem ser encontrados nas anotações de Pierre Naville (membro do SI) e, também, nas de um delegado norte-americano não identificado.31

Sobre o movimento operário

Com base neles, é possível dar conta que primeira discussão foi em torno do caráter das greves de ocupação, os comitês de fábricas e os sindicatos, a partir de uma emenda da delegação polonesa. Os poloneses argumentavam que as greves de ocupação não eram necessariamente revolucionárias, podendo ser apenas produto de um desespero como no caso da Polônia, onde foram acompanhadas de greves de fome. Por outro lado, consideravam que os comitês de fábrica poderiam surgir em situações de refluxo ou diretamente reacionárias, vindo a ser dirigidas pelos reformistas, o que quitaria seu caráter revolucionário. Propunham, então, que quando o programa se referisse aos comitês de fábricas o fizesse enquanto comitês revolucionários, só podendo, portanto, ser defendidos em situações revolucionárias. Fora disso, a IV deveria ser contra os comitês de fábricas dado seu caráter reformista. Em relação aos sindicatos, defendiam a construção de “sindicatos revolucionários”, rompendo com os tradicionais sindicatos reformistas.

A emenda sobre os sindicatos apresentada em nome do CC polonês era a seguinte: “Os bolcheviques-leninistas não só devem esforçar-se para renovar o aparato sindical propondo nos momento críticos novas direções, senão inclusive, rechaçando todo ultimato, sem saltar etapas de aprendizagem das massas, em certas condições – isso ocorre geralmente em uma situação revolucionária – apoiando-se na vontade da maioria do proletariado, os bolcheviques leninistas não retrocederão frente a uma ruptura imediata com o aparato sindical conservador.” A emenda foi rejeitada com 17 contra, 2 votos a favor (Stefan e Karl) e 1 abstenção (Craipeau).32

A questão russa

O segundo ponto de discussão do programa foi sobre a questão russa. A polêmica tomava como ponto de referência o artigo de Trotsky “É necessário expulsar dos soviets a burocracia e a aristocracia”33, publicado como parte de uma série de discussões que já vinham se realizando sobre o tema.

Craipeau, delegado da seção francesa, apresentou uma emenda que negava a definição da URSS como um estado operário degenerado, bem como sua defesa em caso de guerra. Caracterizava-o como um estado burguês e a URSS como país imperialista. Para ele a burocracia era uma classe e não uma casta. Com isso defendia a aplicação da política do “derrotismo revolucionário” – o mal menor para o proletariado é a derrota do seu próprio imperialismo – elaborada por Lênin durante as discussões em torno à I Guerra Mundial.

Já uma parte da delegação norte-americana, em nome da comissão política do SWP, propôs suprimir a seguinte frase do programa: “A burocracia e a nova aristocracia soviética devem ser expulsas do soviet”. Schachtman opinava que era um erro privar a burocracia do direito de voto. Recorreu à polêmica de Lênin contra Kautsky em que considerava não ser um problema de princípio a perda do direito de voto da burguesia. Com isso, de fato, terminava negando a tarefa da revolução política presente no Programa de Transição, ou seja, eliminar a burocracia da direção dos soviets para recuperá-los enquanto organismos revolucionários de poder. Craipeau interferiu nesse debate desde seu ponto de vista: se a burocracia não é uma classe, então não se poderia retirar seu direito de voto no soviet. Neste sentido, para ele, Trotsky não estaria sendo consequente.

Ao final da discussão, Craipeau propõe não levar a questão russa a voto. Logo recua e apresenta uma resolução em forma de teses contendo 8 pontos. A emenda obtém 1 voto a favor. Já a emenda dos norte-americanos obteve 5 votos a favor, 15 contra e 2 abstenções.

A guerra e o patriotismo

A terceira e última questão em debate tratou principalmente do parágrafo do Programa de Transição que faz uma diferenciação entre o patriotismo das massas oprimidas e o patriotismo burguês e do reformismo. Tal diferenciação aparecia quando referia-se as lutas das colônias ou misturada com a defesa da democracia, mesmo em países imperialistas como no caso dos EUA.

Rousset (França), Boitel (Joannès Bardin, França) e Pablo (Michel Raptis, Grécia) negavam qualquer aspecto progressivo no patriotismo das massas. Assim, em nome da minoria do CC da seção francesa, foi proposto que as frases relativas ao tema fossem suprimidas do programa. Shachtman (EUA), por sua vez, propõe a supressão da palavra progressiva do programa quando trata da guerra em defesa das colônias e da URSS. C.R.L. James (seção britânica), ao defender a manutenção da redação do programa, recorda que Lenin era explícito em fazer essa diferenciação ao dizer: “Quando um pobre diz ‘quero defender a pátria’, é o instinto do oprimido que fala”.

Outras emendas são apresentadas no calor das discussões. Esse foi o caso da que envolvia a questão do antissemitismo e a causa palestina. Por considerar que o tema estava suficientemente tratado no programa, a emenda é rejeitada com 16 contra e 6 a favor, devendo, no entanto, ter sua redação melhorada. Outras emendas como as apresentadas pelos ingleses foram encaminhadas diretamente à comissão de redação. Ao final, o projeto de programa foi aprovado com 21 votos a favor e 1 contra (Craipeau).

Estatutos e a fundação da IV Internacional

A pequena dimensão da organização a ser fundada e as dificuldades da situação mundial fizeram com que a discussão sobre a fundação ou não da IV fosse uma das duas ou três questões mais debatidas na Conferência. Ela se deu quando se discutiu o artigo I34.

Os principais opositores à fundação da Internacional foram os membros da delegação polonesa. De acordo com as atas35, Karl Hersz-Mendl (Sztokfisz), um dos dois delegados poloneses, foi o primeiro a se opor à proclamação da IV Internacional. Ele teria afirmado que “não se pode discutir a questão da IV separadamente da discussão sobre a situação do movimento operário. O movimento operário está passando por um período de desintegração e depressão nos países fascistas. Nos países democráticos, a pressão stalinista está fazendo com que os trabalhadores recuem (…)”.

Mendl prosseguiu argumentando que as internacionais anteriores foram construídas em momentos diferentes do atual. A “III Internacional”, por exemplo, “havia sido criada após a vitória da revolução russa e com um grande número de partidos comunistas já formados. Embora a Esquerda Zimmerwaldiana fosse mais forte em 1919 do que somos hoje, os spartaquistas36 eram contra a proclamação da III Internacional. Não temos numerosas organizações. As organizações não têm influência de massas, sobretudo nos sindicatos (…). Ao proclamar a IV sem estar seguro da resposta dos operários comprometemos a própria ideia”.

Por fim, teria concluído afirmando: “(…) Não se pode criar uma ficção, mas uma verdadeira Internacional (…). É o proletariado que criará a IV Internacional. É necessário instruir os trabalhadores e preparar o movimento. Se continuarmos a ser um grupo de propaganda, os trabalhadores não exigirão muito de nós, mas se formos uma Internacional, os trabalhadores exigirão uma direção, e não estamos em condição de dirigi-los; eles se decepcionarão. (…) Enquanto a IV Internacional não tiver partidos de massas, ela não pode ser proclamada.”

Também de acordo com as anotações, vários delegados responderam aos argumentos polacos. Pierre Naville teria dito: “Os argumentos de Karl (…) são históricas, não política. No lugar de extrair argumentos da analogia da sucessão das Internacionais é necessário ver as situações concretas. A situação é única em cada caso. A I nasceu do nada, o proletariado se afirmou como classe internacional; é tudo. Ela não dirigiu nenhuma luta e se misturou com os movimentos pequenos burgueses. A II se ligou ao aparato dos Estados; não tinha competidores, além disso não se considerava oficialmente continuidade da II Internacional. A III não pôde liquidar a II. Ela também se converteu num apêndice do Estado. Subsiste lado a lado com a II. Esta é a situação de fato. (…) Temos que sair de nossa indefinição. Estamos definidos em nível local, temos partidos, seções, ligas, etc. A passagem dentro da socialdemocracia foi episódica. Há que estar também definidos em nível internacional. Devemos ter uma organização delimitada e não um campo de manobras para todas as correntes ambíguas. Serão membros os que aceitam o programa, os estatutos, as decisões. Não é uma Internacional definitiva. Não proclamamos a Internacional vitoriosa. Queremos apenas uma imagem clara para preparar melhores condições de luta. As Internacionais não são quadros fixos. São organizações de luta. Sua forma corresponde à sua missão numa fase dada. A nossa na atual situação mundial consiste em terminar com alguns equívocos e facilitar o reagrupamento em torno de nós.”37

Max Shachtman foi outro que também argumentou contra Hersz-Mendl. Ele observou que “As analogias históricas [deles] são falsas, não legitimas. Zimmerwald era mais forte que nós, mas a ala esquerda era restrita, politicamente bastante confusa. Lênin colocou a questão de constituir a III em um momento de reação. Não o fez à espera de outros grupos (…). São as mesmas considerações que nos impediram de proclamar a IV em 1936. (…). Mas desde então (…) todas as organizações centristas se desintegram ou se afastaram de nós. Hoje, o caminho deve ser proclamar a IV Internacional; sua proclamação formal se impõe”.38

Quando a questão foi finalmente levada a voto, a moção pela declaração da IV Internacional foi aprovada por 19 votos a favor e 3 contra (Karl e Stephan da Polônia, e Craipeau da França).

Cabe ressaltar que apesar de toda a batalha de Trotsky para que a IV fosse fundada o mais urgente possível, isso não significava que ele considerasse que ela fosse uma Internacional acabada. De forma que seguiu atento às novas oportunidades de agrupar organizações e dirigentes considerados centristas. Exemplo disso foi que numa das discussões com Marceau Pivert – então dirigente do Partido Socialista Operário e Camponês (PSOC, ou PSOP, em francês), o qual considerava cumprir um papel-chave na França – propõe elaborar uma revista voltada para debater com profundidade o que seria um programa internacional. Sugere como base para a discussão o “Programa de Transição”, mas se colocou disposto a aceitar outro texto que fosse do interesse de Pivert. No entanto, infelizmente, este não se importou com a proposta.

Alguns outros pontos dos estatutos

Os Estatutos eram relativamente curtos, com apenas 13 artigos. O artigo 1 proclamava o nome da nova organização internacional como IV Internacional (Partido Mundial da Revolução Socialista39). O Artigo 4 anunciava que “O regime interno da Internacional, em escala local, nacional e mundial, é determinado pelos princípios e pela prática do centralismo democrático. As seções são obrigadas a observar as decisões e resoluções da Conferência Internacional e, em sua ausência, do Comitê Executivo Internacional, representado nos intervalos de suas reuniões pelo Secretariado Internacional – embora mantendo o direito de apelação perante os órgãos superiores até a próxima Conferência Internacional”.

O artigo 6 previa que só poderia haver uma seção em qualquer país. Fusões de tais seções com outros grupos que buscavam entrar na Internacional teriam que ter a aprovação do CEI. O artigo 5 definia que todas as seções nacionais eram obrigadas a pagar cotas mensais ou trimestrais regulares à Internacional.

Os Estatutos estabeleciam que a Conferência Internacional seria realizada a cada dois anos, e o Comitê Executivo Internacional de 15 membros deveria se reunir pelo menos a cada três meses. As seções poderiam remover qualquer um dos membros do CEI com a aprovação da maioria dos seus membros (artigo 8).

Os estatutos indicavam também (artigo 12) a constituição de subsecretarias em distintos países sob a direção do Secretariado Internacional.

O Artigo 13 dispunha que o CEI tinha o direito, após examinar e consultar as partes interessadas, de declarar a expulsão de seções ou membros individuais. Tais decisões seriam executórias, embora as partes interessadas tinham o direito de apelar perante a Conferência Internacional.

Resoluções sobre as seções 40e a eleição do CEI

Por fim, foram também aprovadas uma série de resoluções sobre a situação interna de algumas seções41. Inglaterra: aprova-se a resolução que saúda os britânicos por terem conseguido unificar os três grupos existentes em uma única organização, a RSL (ainda que estivesse pendente o tema do trabalho no Labor Party), e propõe o contato com um quarto e pequeno grupo que havia rompido no mesmo ano (1938) com o fim de que se integrasse à nova organização; Grécia: a resolução ratifica a unificação das duas organizações gregas representadas na conferência e encarrega o SI acompanhar o desenvolvimento da situação (unanimidade); Polônia: orienta a saída do Bund – organização dos operários judeus da Rússia, Lituânia e Polônia – e a fundação de uma nova organização que buscasse unificar os grupos e correntes centristas, particularmente depois da dissolução do PC polaco por parte da Internacional Comunista ocorrida em 1938 (11 votos a favor, 6 contra, e 2 abstenções); México: uma resolução aprovada na conferência Pan-Americana condena a antiga direção e decide pela reorganização da seção propondo uma reorientação política, a constituição de uma nova direção, e, designa um membro do CEI para acompanhar o trabalho da seção (unanimidade); Finalmente, França: se discute uma longa resolução que analisa o retrocesso e desorganização da seção (Partido Operário Internacionalista), e dá uma nova orientação política e organizativa. Discute também a uma resolução que propõe a unificação com o PCI (Partido comunista internacionalista, jornal La Comunne), uma ruptura encabeçada por Raymond Molinier, mas ratifica a expulsão deste último aprovada na Conferência de 1936. Ao final, a Conferência recomenda que a comissão siga os trabalhos com o fim de adotar uma resolução definitiva.

Por fim, a Conferência de fundação elegeu o primeiro Comitê Executivo Internacional. Seus membros eram J. Rous, Pierre Naville e Joannès Bardin da França; James P. Cannon, Max Shachtman e um membro adicional a ser nomeado pelo Comitê Político do SWP; Leon Lesoil e Walter Dauge da Bélgica; C. L. R. James e Denzil Harbour, do Reino Unido; Julian da Itália; Karl Hersz-Mendl da Polônia; Mario Pedrosa do Brasil; Ta Thu Thau da Indochina; e León Trotsky como um “membro secreto”. Haveria também um representante da juventude a ser nomeado pela Conferência dos jovens que seria realizada em breve. A votação sobre esses nomes foi unânime42.

Um balanço

Olhando em retrospectiva histórica, a fundação da IV Internacional foi de fundamental importância e cumpriu a tempo o objetivo defensivo proposta por Trotsky, ou seja, preservar a herança de Outubro e do partido bolchevique. Trotsky tinha plena consciência das dificuldades do momento e das debilidades das seções – “Somos o que somos”, dizia – mas temia que perdido esse momento poderia não haver outro. Seu assassinato dois anos depois viria a confirmar esse temor.

Por outro lado, o objetivo ofensivo da fundação, ou seja, de que a IV em poucos anos seria seguida por milhões não se confirmou. A caracterização de que a guerra terminaria abrindo uma situação revolucionária em vários países, sim se confirmou. Este foi, por exemplo, o caso da Itália, Grécia, Iugoslávia, Albânia e França. No pós-guerra essa situação se estendeu à Indonésia, Indochina, Índia, Coreia e China.

No entanto, não era verdade que a II e a III Internacionais estavam mortas como chegou a caracterizar. Isso era verdade a escala histórica, dado o papel contrarrevolucionário que estas internacionais passaram a cumprir, mas não era em termos políticos. Apesar dos erros de Stalin, o povo soviético conseguiu derrotar o exército nazista na sangrenta batalha em Stalingrado (1943). Isso mudou a relação de forças da guerra, sendo, ao mesmo tempo, um dos fatores da abertura de uma situação revolucionária principalmente nos países ocupados pelo Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Assim, em vez de sair debilitado, o stalinismo se fortaleceu junto às massas. Contraditoriamente foi esse fortalecimento que, apoiado os acordos de Teerã, Ialta e Potsdam, firmado entre a URSS, Inglaterra e os EUA, visando a divisão do mundo43, lhe permitiu desmontar e/ou derrotar processos revolucionários na Europa ocidental como o grego, o italiano e o francês, embora não tenha conseguido impor o mesmo na Iugoslávia e Albânia.

Por outro lado, as seções da IV foram praticamente destruídas nos difíceis primeiros anos da guerra. Apesar do enorme heroísmo, pesou também a inexperiência e os erros da nova geração de dirigentes que tomaram a frente da IV. A morte de Trotsky (1940) significou um enfraquecimento qualitativo da Internacional recém-construída. Apesar de que algumas seções chegaram a ser reconstruídas a partir dos novos ares vindos da nova situação aberta com a derrota do nazismo em Stalingrado, essas eram ainda pequenas organizações, sem muita implantação.

Essa debilidade se agravou quando o stalinismo se viu forçado a avançar na expropriação dos países do Leste Europeu devido o início das hostilidades dos EUA contra a URSS que resultaram na chamada “guerra fria”. Tudo isso aumentou o isolamento da IV Internacional.

Assim, embora a fundação da IV tenha sido fundamental para manter o fio de continuidade histórico do bolchevismo, não avançou em direção ao prognóstico de se tornar uma Internacional com influência de massas. No entanto, como dissemos acima, sob seu aspecto defensivo, sem dúvida, a fundação da IV teve uma importância estratégica: sem preservar o que já se havia conquistado em termos teóricos e programáticos não se poderia sequer pensar em avançar. Restou pendente para as novas gerações a tarefa estratégica apontada no Programa de Transição: superar a crise de direção revolucionária da humanidade.

 

NOTAS


1  A Conferência de fundação estava prevista para ocorrer em outubro de 1937. Por falta de preparação foi adiada para junho-julho de 1938. Mas devido as dificuldades (“vicissitudes”, como chamou Trotsky) só foi realizada em 03 de setembro de 1938.

2  A Conferência de fundação era a II Conferência Internacional, levando em conta que a I Conferência foi realizada em 1936 pela Liga Comunista Internacionalista (LCI). Após a aprovação dos estatutos, a II Conferência (ou Conferência de Fundação) passou a chamar-se Congresso de Fundação ou I Congresso da IV Internacional.

3  A Conferência de “Genebra” (na verdade ela foi realizada em Paris) foi realizada entre os dias 29 e 31 de julho de 1936. Na Conferência de 1933 a Oposição de Esquerda Internacional passou a se chamar Liga Comunista Internacionalista (LCI), e, a partir da Conferência de 1936, Movimento pró IV Internacional.

4  Lvovitch Kibaltchich, filho de refugiados políticos russos, nasceu na Bélgica. Escritor e anarquista em sua juventude, militou na CNT espanhola. Em 1917, atraído pela revolução de Outubro, emigrou para a Rússia vindo a trabalhar na Internacional Comunista. Adere à Oposição de Esquerda, sendo preso em 1928. Foi solto e preso novamente entre 1933-1936. Libertado, faz parte do Movimento pró IV Internacional, mas se afasta, aderindo ao POUM espanhol. Em 1939, rompe definitivamente com Trotsky.

5  Íntimo colaborador de León Sedov, foi ele quem o entregou à GPU, informando o hospital onde ele o levaria para ser operado. Acredita-se que também esteve envolvido com o desaparecimento de Rudolf Klement. Já pesando sobre ele uma desconfiança, só foi avisado do local da reunião no último minuto, o que impediu que uma ação mais contundente contra o evento viesse a ocorrer.

6  Trotsky, León. “Un gran logro”. 20 de agosto de 1938. El Programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008, B. Aires, p. 35.

7  Os textos podem ser encontrados no livro El Programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones IPS. CEIP León Trotsky, 2008, p. 171-234.

8  Na biografia que escreveu sobre Trotsky, Isaac Deutscher escreveu que “Durante todo o verão de 1938, Trotsky manteve-se ocupado no preparo do Programa e das resoluções para o ‘congresso de fundação’ da Internacional”. (Deutscher. Isaac. Trotsky, O Profeto Banido. Civilização Brasileira. 2º edição, p. 432). No entanto, Robert Alexander observa que, segundo Will Reisner, Deutscher “estava enganado em atribuir a Trotsky a autoria da maioria das resoluções da conferência; Trotsky, na verdade, escrevera apenas o principal documento programático, ‘A Agonia Mortal do Capitalismo e as Tarefas da Quarta Internacional’, também conhecido como o ‘Programa de Transição’” (Alexander, Robert J. International Trotskyism – A documented analisys of the movement (1929-1985), p. 269.)

9  “Organizações regularmente filiadas. França: Partido Operário Internacionalista e Juventude Socialista Revolucionária; Reino Unido: Liga Socialista Revolucionária; Bélgica: Partido Socialista Revolucionário; Juventude Socialista Revolucionária; Alemanha: Comunistas Internacionalistas Alemães; Polônia: Grupo Bolchevique-Leninista; Estados Unidos: Partido Socialista dos Trabalhadores e Liga da Juventude Socialista (IV Internacional); Canadá: Grupo Bolchevique-Leninista; Espanha: Grupo Bolchevique-Leninista; Holanda: Grupo Bolchevique-Leninista; Grécia: Liga Comunista Internacionalista e União Comunista Internacionalista; Suíça: Ação Marxista (em relação); Tchecoslováquia: Grupo Iskra-Banner; Noruega: Grupo Bolchevique-Leninista; Romênia: Grupo Bolchevique-Leninista (em relação); Áustria: Comunistas Revolucionários; União Soviética: Oposição de Esquerda Bolchevique-Leninistas; México: Liga Comunista Internacionalista; Cuba: Partido Operário Revolucionário); São Domingos/República Dominicana: Bolcheviques-Leninistas; Brasil: Partido Operário Leninista; Argentina: Grupo Bolchevique-Leninista; Chile: Partido Operário Revolucionário); Bolívia: Grupo Bolchevique-Leninista; Uruguai: Grupo Bolchevique-Leninista; China: Liga Comunista Internacionalista; Indochina: União dos Bolcheviques-Leninistas; Austrália: Partido dos Trabalhadores; África do Sul: Grupo Bolchevique-Leninista. Por outro lado, existem dois grupos em relação com o SI que não estão filiados na Tchecoslováquia (Proletar) e na Dinamarca”. (“Informe a la Conferencia”, publicado em El Programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones IPS. CEIP León Trotsky. 2008. P. 58. O informe é também citado por Alexander, Robert J. “International Trotskyism – A documented analisys of the movement (1929-1985), p. 270).

10  Robert Alexander informa que Isaac Deutscher levantou algumas dúvidas sobre o tamanho dos vários grupos nacionais representados na conferência de setembro de 1938. Ele citou que um Boletim Interno do SWP do período, reivindicava apenas 1.000 membros. Observou que Dwight Macdonald afirmou em suas memórias que o SWP tinha apenas cerca de 800 membros. (Alexander, Robert J. International Trotskyism – A documented analisys of the movement (1929-1985), p. 271). “De qualquer forma”, diz Alexander, “fica evidente que a nova Internacional que estava sendo fundada não era, de modo algum, uma ‘organização de massas”. Jean Rous, dirigente do POI francês, escreverá em dezembro de 1938 para J.P. Cannon: “Vocês foram informados de que éramos 600. Isso deve ser dividido por dois, inclusive em teoria” (“Informe de la Conferencia”, publicado em Fourth Internatiotional. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. ANEXOS CD. Nota 44, p. 43)

11  De acordo com as atas da Conferência de fundação reconheciam-se três tipos de seções: a) partidos filiados, b) partidos e grupos simpatizantes e, c) Grupos muito pequenos. O número de militantes estava disposto da seguinte maneira: EUA (2.500), Bélgica (800), França (600), Polônia (350), Inglaterra (170), Alemanha (200, sendo 120 presos), Checoslováquia (150-200), Grécia (100), Indochina, Chile (100), Cuba (100), África do Sul (100), Canadá (75), Austrália (50), Brasil (50), Holanda (50), Espanha (10-30), México (15), Suíça, Noruega, Dinamarca, Romênia, Áustria, Rússia, Bolívia, Porto Rico, Argentina, Uruguai, Venezuela, China, Itália. (Riesner, Will (Editor). Documents of The Fourth International, Pathfinder Press, 1973, p. 289; “Informe de la Conferência”, op. cit. ANEXOS CD. P. 44.

12  Os delegados eram: EUA (Max Shachtman, J. P. Canonn e Nathan Gould); França (P. Naville, Joannès Bardin, Yvan Craipeau, Marcel Hic, David Rousset e Jean Rous); Bélgica: (Leon Lesoil e Walter Dauge); Grã-Bretanha (Cyril RL James, Hilary Sumner Boyd e Denzil Harber); Alemanha (Josef Weber e Otto Schuller); Grécia (Giorgios Vitsoris e Michel Raptis); Polônia (Herschl Mendel e Stefan Lamed); Itália (Pietro Triesso); Holanda (De Wilde); Brasil (Mario Pedrosa, pseudônimo Lebrun); Rússia (Mark Zborowski). George Scheuer e Karl Fischer, da Áustria, não foram admitidos como delegados. (Nota1 do artigo “Un gran logro”, León Trotsky, publicado em El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. P.35).

13  Robert Alexander, baseado nas atas publicadas por Rodolphe Pragger, afirma que o máximo de votos contatos s durante as votações foram 22. Comenta também que o artigo do jornal do SWP (EUA) Socialist Appel que informou sobre a Conferência declarava haver 30 pessoas (Alexander, Robert J. “INTERNATIONAL TROTSKISM – A DOCUMENTED ANALISYS OF THE MOVEMENT (1929-1985). Pág. 270). Por fim, Deutscher afirma que havia 21 delegados (Deutscher. Isaac. Trotsky, o profeto banido. Civilização Brasileira. 2º edição. P. 432)

14  “Informe de la Conferencia”, anotado por um delegado norte-americano. El Programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. Anexos CD, p. 39. Citado por Robert Alexander baseado em Reisner, Will (Editor). Documents of the Fourth International: The Formative years. 1933-40. Pathfinder Press, New York, 1973, p. 284.

15  Trotsky, León. “La fundación de la IV Internacional”. 18 de outubro de 1938. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional”. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. ANEXOS CD, p. 91.

16  A discussão está no “Informe de la Conferencia”. Fourth International. Publicado em El programa de Transição y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. ANEXOS CD, p. 39. Deutscher. Isaac. Trotsky, O Profeta Banido. Civilização Brasileira. 2º edição. P. 432.

17  “Informe a la Conferência. El Programa de Transição. Ediciones IPS. CEIP León Trotsky. 2008. P. 53 e 54.

18  A “Saudação aos lutadores na Espanha” (na edição francesa consta o título “Apelo à classe operária espanhola”. cf. Rodolphe Prager, Les Congrés de la Quatrième Internationale, v.1, Ed. La Brèche, 1978, seconde édition), foi aprovada na reunião do CEI realizada após a Conferência.

19  O “Manifesto Contra Guerra Imperialista” (edição francesa consta o título “Manifesto aos trabalhadores do mundo inteiro”, cf. Rodolphe Prager, Les Congrés de la Quatrième Internationale, v.1, Ed. La Brèche, 1978, seconde édition), foi aprovado no CEI ampliado após a Conferência de fundação; dois projetos de teses apresentadas pela Pré-Conferência Pan-americana, realizada em Nova York e que foram apresentadas à Conferência de Fundação – “A situação no extremo-oriente” e “O papel do imperialismo americano” –, foram apreciados pelo mesmo CEI e, dada a sua importância e o fato de que o prazo para o debate tinha sido insuficiente, foram adotados como materiais de discussão, submetidos às seções e colocados na ordem do dia da reunião do CEI subsequente. Por fim, a resolução sobre a “Resolução sobre a juventude” (edição francesa “Plataforma de luta da Juventude Trabalhadora”, idem ao anterior) foi aprovada na Conferência da juventude realizada em 11 de setembro do mesmo ano em Paris.

20  Ao final da Conferência foi aprovada uma carta à León Trotsky: “Carta a León Trotsky”. El programa de Transição e a fundação da IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. P 309.

21  Trotsky, León. “Completar o programa e colocá-lo em marcha”. 7 de junho de 1938. El programa de Transição e a fundação da IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. P. 265.

22   Ibidem.

23  “Programa de Transição (A agonia mortal do capitalismo e as tarefas da IV Internacional”. Documentos de fundação da IV Internacional. Congresso de 1938. Editora Sundermann. São Paulo. 2008. P 41.

24  Ibidem. P. 42.

25  Ibidem. P 42.

26  Ibidem. P. 44.

27  Ibidem. P. 44.

28             Ibidem. P. 45.

29  Trotsky, Léon. “Nós somos a IV Internacional”. (Carta a Rudolf Klement). 18 de abril de 1938. El programa de Transição e a fundação da IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008. B. Aires. CD anexo. P. 11.

30  Ibidem.

31  Trata-se das “Discusiones del Programa de Transição durante la Conferencia”. El programa de Transição y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky. 2008, B. Aires. P. 313-332.

32  Ibidem. P. 318-319.

33  O artigo foi publicado em 3 de julho de 1938 para o Boletim Interno do SWP (EUA). El programa de Transição y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP Léon Trotsky, 2008, B. Aires, p. 279.

34  Ibidem.

35  As anotações da discussão se encontram como “Discusión sobre los estatutos”. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP León Trotsky, 2008, B. Aires, CD anexo, pp. 45-46.

36  A partir de agosto de 1914, o chamado Grupo Internacional se constitui enquanto oposição dentro da socialdemocracia alemã. Com o início da II Guerra, a partir de 1916 passa a se chamar Liga Spartacus vindo a ser fudado por Karl Liebknecht e Rosa de Luxemburgo. Em abril de 1917 entra no Partido Socialdemocrata Independente (USPD). Logo rompe com ele vindo a fundar, em 1º de janeiro de 1919, o Partido Comunista Alemão.

37  As anotações da discussão se encontram como “Discusión sobre los estatutos”. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP León Trotsky, 2008, B. Aires, CD anexo, pp. 46-47.

38             Ibdem. P. 47.

39  Trotsky formulou esse nome pela primeira vez em 1935. Considerava que “IV” era apenas um número; por outro lado, “socialismo” e “comunismo” eram nomes já utilizados e estariam muito desprestigiados; e, por fim, “socialista e revolucionário” seria um rótulo atrás do qual os centristas poderiam se esconder. Sobre a discussão ver o artigo “Partido Mundial de la Revolución” de 14 de julho de 1935: https://ceip.org.ar/Partido-Mundial-de-la-Revolucion-Social .

40  “Informe de las Comissiones”. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP León Trotsky, 2008, B. Aires, CD anexo. P. 52-54.

41  De acordo com as atas, a resolução sobre a seção canadense não foi discutida. Aprovada na conferência pan-Americana, ela tratava da reunificação da seção canadense e da recomendação de seguir o trabalho dentro da Canadian Commonwealth Federation (Federação da Comunidade Canadense), partido social agrário filiado à II Internacional.

42  “Elección del Comité Ejecutivo Internacional”. El programa de Transición y la fundación de la IV Internacional. Ediciones CEIP León Trotsky, 2008, B. Aires, CD anexo. P. 50-51.

43  Os acordos de Teerã de (novembro-dezembro de 1943,) de Ialta (4-11 de fevereiro de 1945), e a conferência de Potsdam (17 de julho e 2 de agosto de 1945). Durante a guerra, até o seu fim em 1945, a política dos Aliados esteve marcada pela “Grande Aliança” do chamado “Três Grandes” (EUA, Grã-Bretanha e URSS). O objetivo era vencer a guerra contra o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e fazer uma nova divisão do mundo em áreas de influência de acordo com os interesses das nações vencedoras. Ao mesmo tempo, essa “Grande Aliança” visava também derrotar os processos revolucionários que se abriram no curso da guerra. Esses foram principalmente os casos da Itália, Grécia, França, Iugoslávia na Europa, mas também, dos processos que vinham ocorrendo no mundo colonial a exemplo da China, Coreia, Indochina e Indonésia.