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MUNDO

Nem tudo que reluz é ouro: a luta pela “democracia” na Bielorrússia

Frederico Costa* **, de Fortaleza, CE

No dia 9 de agosto ocorreu eleição na Bielorrússia (antiga Rússia Branca). Os resultados deram vitória ao ex-burocrata estalinista Alexander Lukashenko contra sua rival, a candidata “independente” Svetlana Tikhanovskaya, representante de um programa neoliberal e pró-OTAN. O resultado, com a esmagadora maioria de 80% dos votos, provavelmente adulterados, deu origem a uma mobilização pela democracia no país, que conta com o apoio da grande mídia, da União Europeia (EU) e de setores de esquerda.

O regime da Bielorrússia parece algo descontextualizado. O governo burocrático local de Lukashenko chegou ao poder após o colapso da URSS em 1991, mas conseguiu evitar, por meio da declaração de independência, o tratamento de choque neoliberal massivo e a destruição econômica que afligiu a Rússia sob o regime de Yeltsin. De fato, a Bielorrússia é dominada por uma burocracia que maneja o aparelho do Estado e os ramos estratégicos da economia nacional, herança do stalinismo, que governou o país por mais de cinco décadas, até a queda da URSS. 

A questão central da atual crise gira em torno da ofensiva do imperialismo de desmontar as sobrevivências burocráticas para tomar posse das riquezas naturais e indústrias nacionais. Quando a União Europeia (UE) denomina Lukashenko como o “último ditador” da Europa, na verdade, está assinalando que objetiva remover a casta burocrática estalinista do manejo do Estado e da economia por meio de uma oposição liberal-burguesa. Nesse contexto, Lukashenko, procurando manter os privilégios da camada burocrática, acusa a oposição de querer privatizar a economia estatizada.

Nesse momento, é preciso não ter ilusões no regime de Lukashenko. Mas, é preciso destacar que o movimento de protesto segue a cartilha de golpes de Estado recentes: 1) começou com a contestação do resultado eleitoral; 2) manifestantes de direita, contra a corrupção, bandeiras nacionais e nazistas; 3) predominância de classe média e alguns poucos trabalhadores desorganizados. Há, nas mobilizações, bandeiras vermelhas e brancas da “Bielorrússia”, usadas por elementos pró-nazistas na Segunda Guerra Mundial. Além de ligações dos líderes com a Ucrânia e outros países bálticos.
Importante dizer que o pelotão de choque nazista-neoliberal obedece a interesses imperialistas. A prescrição do Banco Mundial para o país é a seguinte: 

Mais urgentemente, o setor empresarial estatal da Bielo-Rússia precisa de uma reestruturação abrangente. E o que isso implicaria?

  • Em primeiro lugar, mantenha públicas as empresas estatais com fins lucrativos ou privatize-as de forma transparente a preços de mercado justos.
  • Em segundo lugar, manter os provedores de serviço público e reguladores públicos, mas definir claramente o que eles devem fornecer em troca de fundos públicos.
  • Terceiro, reestruturar as estatais deficitárias que poderiam se tornar rapidamente lucrativas, proporcionando um bom retorno sobre qualquer investimento extra.
  • E para todo o resto: encerramento ou privatização.

A classificação das empresas nessas categorias deve ser feita por especialistas independentes, a fim de obter avaliações objetivas de quais negócios são viáveis ou não. (https://blogs.worldbank.org/europeandcentralasia/why-economic-reforms-belarus-are-now-more-urgent-ever-0

Apesar de toda a corrupção e despotismo de Lukashenko, a economia estatizada é progressiva. A experiência histórica demonstra a queda na expectativa de vida na Rússia causada pelo choque econômico de Yeltsin naquele país, por exemplo. O mesmo acontecerá na Bielorrússia se os neoliberais tomarem o poder. Por isso, é preciso: 

Defender os ganhos sociais fragmentários que ainda foram mantidos na Bielo-Rússia desde o período soviético, mesmo que pela inércia burocrática; 

Defender a Bielorrússia e a Rússia, como países capitalistas relativamente atrasados diante da ofensiva do imperialismo e seus representantes imperialistas que buscam “mudança de regime” e “revoluções coloridas” para aumentar a área de exploração e opressão do capital financeiro internacional contra os povos e os trabalhadores.

Defender as conquistas sociais ainda existentes na Bielorrússia, a propriedade estatizada contra a privatização com táticas para superar as ilusões das massas em Lukashenko e Putin por sua inconsequência em lutar contra imperialismo.

Defender a democracia operária e o processo de auto-organização das massas.

 

*Frederico Costa é professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.

 

** Este artigo reflete as opiniões do autor e não necessariamente as do portal Esquerda Online. Somos um veículo aberto às polêmicas e debates da esquerda socialista.

 

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