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MOVIMENTO

Banqueiros abusam da situação e greve de bancários começa a ser construída

Travessia Bancária
Reprodução / Sind. Bancários SP

Projeção em prédio de São Paulo denuncia ataques da Caixa

Enquanto o Brasil responde por 14% das mortes oficiais por Covid-19 no mundo, segundo a OXFAM, 42 bilionários brasileiros ficaram US$ 34 bi mais ricos durante a pandemia. Um dos mecanismos que tornam este absurdo possível pode ser observado na queda de braço entre banqueiros e bancários que ocorre nesta segunda quinzena de agosto.

Reajuste zero, redução de direitos e corte na PLR para os bancários

Esta foi a proposta dos banqueiros, que se negaram a renovar o acordo coletivo, mesmo durante a pandemia, submetendo os bancários a mais esta situação de insegurança.  Sempre é bom lembrar que a PLR já é proporcional ao lucro. Enquanto isso, os balanços dos bancos seguem registrando lucros bilionários, mesmo com o impacto da pandemia. Foram R$ 8 bi no Itaú, R$ 10 bi no Bradesco e R$ 6,7 bi no Banco do Brasil somente no primeiro semestre.
A forma como a riqueza é apropriada no sistema capitalista ficou mais nítida do que nunca. E a luta das categorias de trabalhadores mais organizadas vai ser fundamental para amenizar o impacto de tamanha brutalidade contra suas vidas.

Home office, jornada de trabalho e superexploração

Em encontro nacional realizado pelas oposições no sábado, dia 22/08, o juiz e professor de Direito Luiz Guilherme Feliciano afirmou que a redação do acordo coletivo dos bancários pode servir de modelo para demais categorias.
O fato é que os bancos já contabilizaram a redução de custos que foi obtida com o home office. A redução de custos somada dos bancos deve atingir a casa do bilhão. Na outra ponta, pesquisa realizada pela CONTRAF/CUT revelou que 26% dos bancários estavam realizando hora extra sem remuneração. Há relatos de bancários com jornadas de 6 horas realizando 9 horas ou mais sem remuneração.
Não à toa banqueiros têm batido na tecla do fim da jornada de 6 horas. A manutenção dessa conquista, fruto de uma luta prestes a completar 100 anos, é um exemplo para todas as categorias de que é justo reduzir jornada sem reduzir salários – inclusive como forma de geração de empregos e melhor distribuição de renda. Infelizmente a CONTRAF/CUT não tem jogado peso na luta pela jornada de seis horas e aceitou na campanha passada e no aditivo à convenção uma clausula que na prática acaba com a possibilidade de novas ações judiciais que reivindiquem o pagamento das sétima e oitava horas.
Além da preservação da jornada e do registro de ponto eletrônico, está em pauta a cobertura de custos do trabalho em casa (adicional de R$ 500), cláusula prevendo salvaguardas contra a violência doméstica contra a mulher, garantia de ergonomia etc. Coube aos bancários esta luta. Eles precisam do apoio dos demais trabalhadores.

Banco do Brasil

Os funcionários do BB, principalmente que trabalham nas agências, estão sendo submetidos a um duro ataque do banco durante todo o período da pandemia. Os do grupo de risco ou os que coabitam com o grupo de risco foram obrigados a adiantarem férias e vários estão com um banco de horas negativo impagável. É necessária anistia a esse banco de horas. Depois, os funcionários que coabitam foram obrigados a retornar colocando em risco a vida de seus entes queridos. Os funcionários que ficaram na linha de frente foram submetidos a bater metas das agências em condições de falta de funcionários e dentro de uma situação de pandemia.
Agora, o banco que ser aproveitar da pandemia para retirar direitos.  O BB pretende a possibilidade de descomissionar os funcionários a partir de apenas uma avaliação negativa na GDP. Também pretende proibir o acúmulo dos abonos de um ano para outro ou sua venda o que significa vários funcionários não poderem mas usar esse benefício porque sabemos que na rede é muito difícil usar esses abonos. No Home Office o Banco do Brasil é um dos bancos que menos forneceu equipamentos para seus funcionários e deixou todos os custos para funcionários pagarem.
Não podemos esquecer que no início deste ano, antes da quarentena, o banco alterou o plano de funções rebaixando os valores das funções gratificadas e comissionadas.

Caixa Econômica Federal

Em meio à campanha salarial, Bolsonaro lançou a Medida Provisória 995, que visa à venda da CAIXA aos banqueiros. Simultaneamente, a direção da empresa veio à mesa de negociação com propostas que na prática inviabilizam o Saúde CAIXA, além de não pautar o fundo de pensão (FUNCEF), depois de ter dado um golpe estatutário. Fica claro que qualquer negociação do tipo “ceder os anéis para não perder os dedos” será a perda dos dedos e a posterior gangrena para os trabalhadores da CAIXA. As medidas da direção da empresa têm tido o objetivo de tornar a privatização econômica e juridicamente viável, depois de negociações obscuras que já dão sinais de estar apalavradas com o grande capital. Resistir contra a perda de direitos, lutar pela contratação de mais funcionários e pela melhoria do atendimento é lutar contra a privatização.
Sobre o SAÚDE CAIXA, faz-se necessário derrubar o teto de 6,5% sobre a folha. O teto foi autoimposto pela direção da empresa e, infelizmente, endossado pela direção sindical da CONTRAF/CUT em 2018. Projeções feitas pelos grupos de oposição sindical (ver postagem do https://www.facebook.com/AgoraParaTodos3, com tabela indicativa do impacto das propostas da empresa) mostram que qualquer discussão dentro desta lógica levará a aumentos brutais com consequente inviabilização do plano de saúde.

Não podemos aceitar um acordo que retire direitos e que tenha perda salarial

Precisamos votar contra qualquer acordo que signifique perda de direitos ou remuneração aos funcionários. Hoje, reajuste zero significa perder 2,65% do salário, em alguns casos, com o aumento nos valores dos planos de saúde, a redução será bem maior. A isso se soma a redução nos valores da PLR.
Outras categorias como metroviários, correios e metalúrgicos da Renault demonstraram que é possível lutar e fazer greve durante a pandemia. Os metroviários e metalúrgicos da Renault mantiveram seus direitos e empregos.
Nesse sentido, os sindicatos da CONTRAF/CUT e CONTEC precisam romper com o imobilismo e organizar a categoria para enfrentar os banqueiros. A pandemia não pode ser desculpa para não organizar a categoria. Existem vários recursos digitais que permitem reuniões e participação da base em reuniões, plenárias e assembleias virtuais. O convencimento vai ser fundamental numa greve em que mais da metade da categoria está em home office.