1. Entregadores são trabalhadores essenciais e não contam com políticas de proteção ou auxílio durante a pandemia
Os trabalhadores em aplicativo são essenciais na pandemia, assim como profissionais de saúde, da limpeza e do transporte público, etc. São eles que estão garantindo que milhões de pessoas possam manter-se em isolamento e também que muitos pequenos negócios não quebrem. Se antes já estavam com péssimas condições de trabalho, com a pandemia eles passaram a colocar suas vidas em risco e também a de seus familiares. Não há políticas de prevenção efetivas ao covid19 por parte das empresas (Ifood, Rappi, Uber Eats, Loggi, etc). É preciso que tenha garantia de EPIs (máscaras, face shield e álcool-gel, etc), e que seja garantida licença-remunerada, caso o trabalhador seja infectado com a Covid-19.
2. Entregadores recebem R$ 2 a cada 6 quilômetros
Com a pandemia e a necessidade do isolamento social presumiu-se que esses trabalhadores teriam mais entregas e, portanto, mais dinheiro no bolso. Mas essa realidade não se confirmou, porque as empresas contrataram um número maior de entregadores, o valor das taxas por cada entrega diminuiu, assim como a quantidade de pedidos para cada um. O movimento do dia 01/07 exige o aumento do valor pago por Km rodado – hoje recebem R$ 2 a cada 6 Kms – e o aumento do valor mínimo por entrega.
3. Os APPs obrigam os entregadores a trabalhar nos finais de semana e os bloqueiam quando querem
Entregadores denunciam que o sistema de pontuação criado pelas empresas, como por exemplo a RAPPI, força a que trabalhem todos os dias, impedindo o descanso e o convívio com seus familiares. Eles são obrigados a trabalhar no final de semana para poder juntar os pontos. Há denúncias de que a pontuação abaixo da meta impede que recebam pedidos de segunda a sexta, nos dias úteis, quando há mais movimento.
Através da tecnologia e do algoritmo de cada plataforma, através de mecanismos como esses, de metas e pontuações, as empresas estabelecem um controle total sobre a vida dos entregadores, levando ao trabalho diário e a longas jornadas, de até 14 horas.
Além disso, as empresas restringem áreas de entrega, promovem bloqueios e suspendem indevidamente ou até “desligam” os entregadores a qualquer momento, sem sequer ouvir, sem saber a razão de algum problema ocorrido durante a entrega. Eles pedem o fim do sistema de pontuação.
Esse mecanismo também tem sido usado para punir os entregadores que se organizam ou que protestam contra as condições de trabalho. Como o caso do líder dos entregadores antifascistas, o Paulo “Galo”, que oficialmente continua ativo no sistema, mas simplesmente parou de receber corridas desde que gravou um vídeo denunciando a realidade concreta da categoria, onde perguntava: “Você sabe o quanto é tortura um entregador com fome tendo que carregar comida e o logo deles nas costas?”.
4. As empresas não têm nenhuma responsabilidade com estes trabalhadores
A exploração e precarização do trabalho é uma característica do modo de produção capitalista, contudo a partir da aprovação da reforma trabalhista e da Lei 13.429/17 sancionada por Michel Temer, que institucionalizou a terceirização no país, essa condição se aprofundou, e vem piorando com Bolsonaro, que governa para as empresas e retirou mais direitos. Não há responsabilidade das contratantes com os entregadores. Eles não têm direitos trabalhistas e podem ser dispensados a qualquer momento, sem custo. Sequer possuem seguro de vida, de acidente ou de roubo. Recebem em média R$ 963,00 (menos que 1 salário mínimo) e ainda precisam arcar com gastos de alimentação, manutenção da moto ou bicicleta, conexão, smartphone, etc.
O adoecimento dos entregadores é invisível. Um exemplo foi a resposta da atendente de um aplicativo a uma pessoa que encontrou um entregador passando mal, exausto, no meio da rua e telefonou pedindo ajuda: “Pode pedir para ele cancelar a corrida?”, disse a voz do outro lado. Para as empresas, os entregadores são totalmente descartáveis.
5 – A uberização do trabalho não vai se limitar aos entregadores
No futuro breve, você também pode ser um trabalhador de aplicativo. Diante da crise econômica mundial e da pandemia, haverá cada vez mais desemprego. Se o neoliberalismo já utilizava a tecnologia para superexplorar serviços como entrega e transporte, a tendência é que essa nova forma de relação de trabalho se expanda para quase todas as áreas e profissões. Se depender dos donos do capital, para não reduzir as suas taxas de lucro, teremos a uberização da vida, em todas as suas esferas. Assim, poderemos ver diversas categorias trabalhando por hora, contratados por aplicativos: professores, profissionais de saúde, trabalhadores da construção civil, motoristas, metroviários, petroleiros, funcionários de escola, etc. Por isso, uma vitória da greve dos entregadores não é importante apenas para eles, mas para toda a classe trabalhadora, para todos e todas que dependem do seu trabalho e não querem viver sob controle dos aplicativos.
6 – Esta é uma luta antirracista
Essa luta dos entregadores tem, marcadamente, um preponderante elemento racial. Segundo a pesquisa do perfil dos entregadores de aplicativo de 2019, 71% dos entregadores são homens negros na faixa etária entre 18 a 22 anos, moradores de bairros periféricos das cidades, e desempregados. Esta é a nova classe trabalhadora, a mão-de-obra barata que as grandes empresas de aplicativos exploram: jovens, negros, periféricos, mulheres, lgbtqis.
De um lado, a falta de oportunidades, o desemprego e precarização. De outro, a violência policial e o aumento do genocídio negro. Marcas do racismo estrutural que tem sido enfrentadas com mais força a partir do levante antirracista surgido nos Estados Unidos, com a morte de George Floyd, sufocado por policiais.
7 – Esta é uma luta fundamental para derrotar Bolsonaro
Até 31 de maio, apenas a extrema direita estava nas ruas, com sua defesa assassina da flexibilização do distanciamento social, responsável por 54 mil óbitos, e sucessivas ameaças golpistas. A partir de atos de categorias, como os da enfermagem, e da entrada em cena das torcidas organizadas e dos entregadores em atos pela democracia, isso começou a mudar. E prosseguiu com a série de atos Vidas Negras Importam. A entrada em cena da classe trabalhadora, em especial dos setores precarizados, que estão na vanguarda das lutas no mundo, são o pior pesadelo do governo Bolsonaro e colocam uma saída para a crise política a partir das ruas.
Ao mesmo tempo, ainda há muito apoio nos setores precarizados ao governo Bolsonaro e a ideias de direita. A mobilização não é diretamente contra Bolsonaro, mas ajuda a que estes trabalhadores façam a experiência com o governo neofascista (que sequer foi capaz de criar um plano especial de auxílio para eles), deixem de integrar sua base social e abandonem ideologias nefastas, como a do empreendedorismo.
COMO APOIAR
No dia 1º de julho vamos todos/as manifestar nosso apoio aos entregadores de aplicativos de comida, nas ruas onde for possível, com todas as medidas de prevenção, e nas redes. Aos que não somos entregadores temos o dever de apoiar essa paralisação. Nas páginas do movimento há várias indicações de como materializar esse apoio, como por exemplo não fazer nenhum pedido de comida por aplicativo no dia 1º, ignorando inclusive as promoções que as empresas certamente farão nesse dia para enfraquecer o movimento. Poste a hastag #ApoioBrequeDosAPPs; “queime” os aplicativos, é bem simples, baixe os APPs de sua preferência e avalie com a menor nota; ajude a divulgar a paralisação nacional.
Viva a luta dos entregadores de APPs.
#ApoioBrequeDosAPPs.
Notas
(1) Não há um levantamento exato sobre a quantidade de trabalhadores por aplicativo no País. O IBGE aponta 10,1 milhões de pessoas que apontaram uma categoria na qual estes trabalhadores se integram. Há estudos que apontam em 5,5 milhões a quantidade de entregadores. Para saber mais, ver live do Re.Solva, com o historiador Marcelo Badaró Mattos.
Comentários