1. A pandemia não está sob controle
A política genocida do governo Bolsonaro tornou o Brasil o epicentro da covid-19 no mundo, liderando o número diário de mortes nas últimas semanas. Afora a enorme subnotificação, o país contava oficialmente, quando fechávamos esse editorial, mais de 50 mil vidas perdidas e 1 milhão de infectados pelo novo coronavírus.
Bolsonaro é o principal culpado por essa imensa tragédia, mas governadores e prefeitos também têm sua cota de responsabilidade. Curvando-se à pressão do empresariado e do governo federal, estão permitindo a volta da maior parte da atividades econômicas não essenciais no momento em que a curva da pandemia ainda não foi achatada.
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EN ESPAÑOL Cuatro aspectos de la coyuntura y una apuesta estratégica
Em nome do lucro de poucos, os governantes estão sacrificando, deliberadamente, as vidas de dezenas de milhares de brasileiros. E a covid-19 não atinge a todos igualmente. Em razão da desigualdade social brutal e do racismo estrutural, estão morrendo, na grande maioria dos casos, trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo da população negra e pobre das periferias e favelas.
Apesar do ritmo desigual da doença nas diferentes regiões e cidades, o mais provável é que ocorra o agravamento da pandemia nas próximas semanas no país. Por isso, a campanha em defesa do isolamento social, associada às garantias sociais e econômicas para que a população trabalhadora possa ficar em casa, deve ser reforçada.
2. A crise econômica e social se aprofunda
Acompanhando o agravamento da pandemia, a recessão econômica assume proporções gigantescas. A economia brasileira terá um derretimento assombroso em 2020, com uma queda estimada de 5 a 10% do PIB.
Mesmo que a disseminação da covid-19 venha a ser controlada no curto prazo — o que parece pouco factível —, ocorrerá, nos próximos meses, a ampliação dos efeitos danosos do tombo recessivo. Já está em curso um aumento vertiginoso do desemprego (pelo menos 5 milhões de postos de trabalhos foram eliminados até o mês de maio) e uma queda significativa da renda da maior parcela das famílias da classe trabalhadora e média.
A política econômica de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, com apoio de Rodrigo Maia e da maioria dos governadores, consiste em jogar o custo principal da crise no colo dos trabalhadores. Seja pelo desemprego em massa e retirada de direitos, seja pelo rebaixamento dos salários e do rendimento do trabalho, são as mulheres e homens trabalhadores que mais sofrem com a crise.
Conjugada aos ataques sociais e econômicos, há em curso a radicalização da violência racista e machista. Mesmo em tempo de pandemia, aumentou o número de mortes violentas de negros, periféricos e favelados pelas mãos das polícias militares. Do mesmo modo, há elevação dos casos de violência contra mulheres.
Tanto pela brutal crise econômica quanto pelo agravamento da violência racista e misógina, está ocorrendo o inevitável aprofundamento da crise social. Essa produz, por sua vez, elevação do mal estar social na classe trabalhadora e também nas camadas médias. O auxílio emergencial de seiscentos reais, votado no Congresso, evitou um colapso social imediato, mas não deteve o avanço do empobrecimento de amplas parcelas da população.
3. O governo Bolsonaro se enfraquece
Sobre o solo efervescente da crise econômica e social, os conflitos políticos e institucionais se acirram. Diante de seu enfraquecimento e isolamento político crescentes, que foram acelerados pela recente ofensiva judicial liderada pelo STF, Bolsonaro responde com intimidações de cunho golpista.
Mas o governo e a família presidencial encontram-se cada vez mais acuados. Os inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, ambos sob o juízo de Alexandre de Moraes no STF, levaram, nas últimas semanas, à prisão de vários provocadores fascistas (entres eles, Sara Winter e Renan Sena), à quebra do sigilo bancário de 11 parlamentares bolsonaristas e a mandados de busca e apreensão em endereços de articuladores e financiadores das milícias digitais.
Além dessas investigações em curso no STF, houve a prisão de Fabrício de Queiroz na casa do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef. Esse episódio joga um escandaloso caso de corrupção e de relações criminosas com as milícias cariocas no colo de Flávio e Jair Bolsonaro, aumentando o cerco judicial à família presidencial e os danos políticos para a imagem da família miliciana.
Apesar do notável enfraquecimento do governo, as ameaças golpistas de Bolsonaro não devem ser menosprezadas, tendo em vista que ele ainda preserva uma base social de apoio expressiva (cerca de 30% da população). Além disso, o miliciano tem forte influência em setores das Forças Armadas e da polícias, e conta com o suporte político de um segmento da classe dominante.
Por ora, a linha que prevalece na grande burguesia é a de evitar tanto a derrubada do governo (cassação no TSE ou impeachment) quanto o avanço autoritário de Bolsonaro (mudança para um regime ditatorial). Em uma frase, querem disciplinar o fascista sem removê-lo do poder.
No que diz respeito aos inquéritos no STF e ao caso Queiroz, é dever da esquerda exigir que as investigações se aprofundem e que os dirigentes e financiadores desses esquemas criminosos, a começar pela família Bolsonaro, sejam punidos com o máximo rigor. Nenhuma liberdade aos inimigos da liberdade!
4. O levante antirracista nos EUA e seus impactos no Brasil
Há um fato de enorme importância na luta de classes mundial: o histórico levante antirracista que sacode os Estados Unidos. Esse grandioso processo de luta, radicalizado e de massas, cuja vanguarda é a juventude trabalhadora negra, transbordou as fronteiras norte-americanas e se espalhou por diversos países do mundo. Como símbolo desse momento, estátuas de traficantes de escravos e líderes imperialistas tombaram na Bélgica, no Reino Unido, na França, nos Estados Unidos, entre outros países.
A revolta antirracista no centro do sistema capitalista está derrotando Donald Trump e abrindo caminho para novas revoltas em várias partes do mundo. Esse levante não pode ser compreendido fora do contexto da pandemia em que os trabalhadores — particularmente os mais oprimidos — estão pagando com suas vidas e empregos a fatura da crise.
Ainda que o Brasil viva uma realidade política específica, a onda de luta provocada pela revolta nos EUA se faz sentir em nosso país. Nas últimos semanas, os atos de rua tiveram uma expressiva presença negra, em sua composição e em sua pauta. A cena do assassinato cruel de George Floyd faz parte do mesmo projeto racista que, no Brasil, assassinou Ághata, João Pedro, Miguel, Guilherme, Marielle… e tantas outras vidas que importam e mesmo assim são eliminadas pelos dispositivos necropolíticos do Estado brasileiro.
Além do impulso do levante antirracista e dos importantes atos de rua aos domingos nas últimas semanas, ações de resistências de diversas categorias de trabalhadores brotaram pelo país, como as mobilizações dos profissionais da saúde e paralisações de entregadores de aplicativos, que marcaram uma greve para o dia primeiro de julho. O agravamento da pandemia impede, por ora, que haja protestos de massas nas ruas. Mas a raiva que está se acumulando em amplos setores da classe trabalhadora e oprimida explodirá nas ruas, mais cedo que tarde, tão logo as condições sanitárias permitam.
Aposta estratégica: preparar as condições para derrubar Bolsonaro nas ruas
Tudo indica que o Brasil caminha, em curto prazo, para uma grave crise nacional produzida pela combinação sem precedentes de uma crise econômica, social, sanitária e política. Apesar do enfraquecimento do governo, Bolsonaro não esconde o objetivo de avançar, se tiver forças para tanto, no fechamento do regime.
Trata-se de um equívoco terrível a aposta de disciplinar Bolsonaro, esperando cautelosamente as eleições de 2022. Essa política prepara uma derrota amarga. Bolsonaro é um fascista, e como tal, não se submeterá ao controle “democrático”. Além disso, estamos diante de um governo com explícito propósito golpista no início de uma crise profunda. Portanto, a tarefa de derrubar Bolsonaro se impõe como uma necessidade imediata, impostergável. Não há como salvar vidas e preservar direitos sociais e garantias democráticas com um fascista na Presidência no meio de uma grave crise nacional.
A política que quer evitar o confronto, que pretende não provocar Bolsonaro, aguardando as urnas daqui há dois anos, abre caminho, mesmo sem querer, para o avanço autoritário e fascista; o qual pode, inclusive, impedir a realização de eleições democráticas em 2022. Por isso, é preciso, aproveitando o enfraquecimento do governo, preparar já as condições para derrubar Bolsonaro o quanto antes.
A chave para a deposição de Bolsonaro está na mobilização de massas nas ruas. Essa possibilidade não está colocada de modo imediato em razão do agravamento da pandemia. Enquanto não for possível ir às ruas massivamente, devemos batalhar pela ampliação da maioria social contra o governo, dar centralidade à pauta antirracista, construir as lutas de resistência possíveis em conexão com as demandas mais sentidas pelo povo trabalhador e oprimido e fortalecer as ações de solidariedade.
A unidade democrática com todos setores sociais e políticos pelo Fora Bolsonaro e pela defesa das liberdades democráticas ameaçadas é muito importante. E, mais ainda, é a construção da Frente Única dos trabalhadores e da esquerda pelos direitos sociais e democráticos e por uma alternativa política vinda dos debaixo, para mudar Brasil para e pela maioria do nosso povo trabalhador e negro.
Para salvar vidas, Fora Bolsonaro!
Vidas Negras Importam! Fim do genocídio do povo negro!
Pelo isolamento social, com condições econômicas e sociais!
Nenhuma liberdade ao inimigos da liberdade! Punição para os fascistas!
Prisão para Flávio Bolsonaro, corrupto e miliciano!
Pela ampliação e aumento do auxílio emergencial para 1 salário mínimo!
Nenhum direito a menos! Pela proibição das demissões!
Pela cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE! Impeachment Já!
Por eleições presidenciais diretas e livres antecipadas!
Por uma frente de esquerda, por um governo dos trabalhadores e oprimidos!
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