A Copa do Mundo de 1970 foi palco da exibição da maior seleção de todos os tempos, o Brasil reuniu craques como nunca antes e sagrou-se campeão desfilando um futebol primoroso. Ao passo que a seleção ganhava partidas no México a ditadura militar vivia o auge da sua repressão e a seleção ficou marcada também pelo uso político do regime
Copa de 1970
A Copa do México foi revolucionária em vários aspectos, sendo a primeira transmitida ao vivo pela televisão no país, antes os jogos eram transmitidos pelo rádio. Por conta disso a Copa foi a primeira vez que um grande número de pessoas pode ver os jogos, mesmo com os aparelhos de televisão não sendo popularizados era comum que as pessoas se reunissem na casa de quem possuía o aparelho pra ver o jogo.
Esse foi também o torneio onde a preparação física ganhou destaque, cada vez mais nítida a necessidade de preparar o corpo dos atletas para os jogos. O que hoje é algo lógico na época era revolucionário e o treino de três meses que o Brasil fez antes da Copa ajudou muito a seleção, 12 dos 19 gols do time de Zagallo saíram na segunda etapa. Quando os outros times cansavam o time se sobressaía.
As Feras do Saldanha
Na preparação pra Copa uma figura importantíssima assume o comando da seleção, João Saldanha. Saldanha foi convidado pra assumir quando trabalhava como jornalista, mas o que mais destaca na sua carreira é que era membro do Partido Comunista Brasileiro e ferrenho opositor do regime militar a sua presença na seleção acabou sendo uma afronta ao então ditador Médici que gostava de se meter nos assuntos do futebol.
A figura de Saldanha é emblemática pra pensar esse período, pois ele foi o grande organizador dessa seleção, pela primeira vez colocou Pelé, Tostão, Rivelino e Gérson juntos em campo e fez um time que vinha de uma derrota vergonhosa em 1966 ser favorito pra Copa de 1970. No entanto os motivos políticos o tiraram do comando da seleção. Quando Médici pediu que Dadá Maravilha fosse convocado ao que Saldanha respondeu “Ele não me pediu opinião na hora de escalar o ministério dele.” Foi demitido duas semanas depois, substituído por Zagallo.
A militância política de Saldanha não parou em nenhum momento, após ser demitido foi pro México como jornalista e na sua bagagem colocou relatos de vários presos políticos que estavam sendo torturados. Foi responsável por ajudar a mostrar ao mundo os crimes cometidos pela ditadura militar.
Política e Futebol
O período da ditadura foi um momento onde política e futebol se misturaram de forma mais flagrante, era comum ver o ditador Médici com radinho de pilha no Maracanã, ele utilizava-se do futebol pra parecer alguém do povo. E a Copa do Mundo foi o ambiente perfeito pra colocar a propaganda ufanista que vinha imperando no Brasil.
Assim como as campanhas de “Ame-o ou Deixe-o” pra Copa do Mundo a música “Pra frente Brasil” foi a canção que colocava o time como representante de uma nação forte. Essa associação feita pelos militares tentou ligar a vitória no México ao sucesso do governo de hora.
Seleção Brasileira recebida por Médici ao retornar do México
O caso dos presos políticos é marcante nesse sentido, como disse Gilberto Gil, em entrevista recente ao Esporte Espetacular, embora soubesse o uso que seria feito pelo regime os militantes não podiam deixar de apreciar aquele time e de comemorar os gols da seleção.
A seleção, apesar do uso que façam dos seus feitos ou da sua camisa, é a representação do povo brasileiro e naquela Copa foi à coroação do excelente futebol mostrado para o mundo.
O México viu também a última e melhor Copa do Rei do Futebol, Pelé teve uma atuação esplendorosa, desde golaços, passes e até os gols que ele não fez como o do drible no uruguaio Mazurkiewicz sem tocar na bola.
Passados 50 anos aquele time ainda tem um poder de encantamento que dá uma dimensão de como foi impactante o mundial do México. A ditadura passou e as memórias dos grandes craques permanecem, mesmo que os ditadores (e protótipos de ditadores) tentem usar do esporte mais popular do país pra ganhar algum apelo nas classes mais pobres à história prova que todos eles serão derrotados.
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