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BRASIL

Repressão em Fortaleza impede manifestação contra Bolsonaro

Jarir Pereira e Nericilda Rocha, de Fortaleza, CE
Reprodução

O mundo vive uma pandemia que marcará todo o século XXI. Já não conseguimos dar conta de registrar os mortos e infectados em alguns países e localidades. Estados Unidos e Brasil, ainda que países muito diferentes, compartilharam o negacionismo de seus governantes com relação a pandemia, no entanto Trump recuou. Ele teve que reconhecer a gravidade diante do fato dos Estados Unidos passar a ser o país de maior número de infectados e maior número de mortos. Bolsonaro avançou negando a gravidade da COVID-19 e a necessidade do isolamento social, demitindo os médicos do Ministério da Saúde e militarizando a pasta. Agora, Bolsonaro esconde os dados, ou seja, estamos diante da possibilidade da população brasileira nunca vir a conhecer de fato, o alcance da responsabilidade do governo federal diante da pandemia.

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Esse agravante se soma ao fato de que há meses o governo estimula a população a romper o isolamento social, organiza manifestações com conteúdo e simbologia autoritária, de ataque à democracia, tochas e máscaras resgatando a Ku klux Klan e vem em uma crescente com ameaças de fechamento do regime democrático-liberal. 

Estes fatores, negacionismo, ocultação dos dados e escalada autoritária, levaram algumas torcidas organizadas antifascistas a iniciarem manifestações de ruas contra o governo. Embalados pela rebelião negra e popular que ocorre nos EUA e se alastra pelo mundo inteiro, vários atos foram marcados no Brasil, neste domingo, 7 de junho.

Em Fortaleza, capital do Ceará, diferente de outras capitais que conseguiram realizar lindos atos e por nas ruas a força da vida na luta contra o governo da morte, a mobilização antifascista e antirracista não pode ocorrer. A Polícia Militar, sob as ordens do governo Camilo Santana (PT), cercou um longo perímetro ao redor do local onde estava marcado a concentração do ato e impediu o acesso. 

Ativistas, principalmente os negros e negras que eram majoritariamente os que tentavam chegar a concentração, muitos vindo da periferia da cidade, eram revistados e impedidos de chegar ao local previsto para sair o ato. O MTST e as organizações que compõem a Frente Povo Sem Medo tentavam romper o cerco do perímetro e realizar a concentração em outro lugar. Mas a situação ficou difícil porque os ativistas eram perseguidos nas ruas, revistados e tinham seus documentos fotografados e ainda recebiam ameaças de detenção. A dispersão se instalou. Ainda assim, alguns grupos driblaram o cerco, concentraram alguns ativistas e seguiram em passeata até o aterro da Praia de Iracema, local previsto para acontecer o ato. Recebiam o apoio dos moradores dos edifícios por onde passavam que faziam panelaço e agitações gritando democracia, Fora Bolsonaro e palavras contra a ação truculenta da PM. 

A passeata foi cercada por várias pelotões do Choque, viaturas, e um helicóptero sobrevoando. Nem aquela escavadeira do senador Cid Gomes, usada contra o motim da PM, conseguiria abrir caminho frente ao contingente de policiais que o governo do PT e PDT permitiram que se movesse para impedir uma manifestação contra o governo Bolsonaro.

Ativistas que usavam equipamento de proteção individual foram detidos, alguns perderam suas máscaras nos empurrões do choque e foram levados mesmo assim. Até o momento, nenhuma declaração do Ciro Gomes ou do Camilo Santana condenando a PM, e certamente não veremos acontecer, tudo leva a crer que a repressão e ordem de impedir a manifestação, foi dada do Palácio do Governo.

No mês de maio, sob o lockdown, uma manifestação fascista foi impedida de acontecer. Camilo, que diferentemente de Bolsonaro adotou o isolamento social, na época justificou as forças policiais não terem permitido a manifestação dos bolsonaristas. E foi correto, o centro da luta pela vida era o isolamento social. Contudo, agora Camilo capitula a pressão dos empresários e do próprio governo federal, elimina o lockdown na capital e em quase todos os municípios do Ceará e reabre 17 atividades econômicas. Os operários da construção civil foram obrigados a retornarem aos canteiros de obra, onde são aglomerados. As trabalhadoras da indústria têxtil e confecção se aglomeram nas fábricas, o transporte público está abarrotado de aglomerações nos terminais e dentro dos coletivos. Salões de Beleza e até os shopping center abrem normalmente a partir desta segunda-feira, 8 de junho. Não há garantia nem fiscalização estadual e municipal de que a patronal respeitará as medidas sanitárias e a porcentagem gradual de retorno às atividades. 

Não há justificativa para afrouxamento do isolamento social. O Ceará é o terceiro estado em número de casos confirmados de Covid-19 com 64.615 e 4010 mortos Ao reabrir a economia, o governo Camilo Santana vai na contramão das medidas de isolamento social necessárias que vinha adotando nos últimos meses. Exigimos que o governo Camilo Santana retome as medidas de isolamento social com garantia de renda à classe trabalhadora e não reprima as lutas em defesa das liberdades democráticas e contra o governo Bolsonaro. 

As manifestações antifascistas e antirracistas são uma luta contra governos e prefeitos que preferem salvar a economia dos ricos empresários, do que salvar a vida da população trabalhadora, pobre e negra. Dados do IntegraSUS mostram que 71,6 % dos casos confirmados de covid-19 atingem a população preta, parda e indígena. Dados da Prefeitura Municipal de Fortaleza, apontam que 90% dos mortos por covid-19 na capital tinham baixo IDH. A população negra segue sendo, aqui e nos EUA, a principal vítima da violência e da crise sanitária. Os bairros mais pobres somam os maiores números de vítimas fatais do coronavírus.  

O Brasil bate tristes recordes e caminha pra ser o principal epicentro da pandemia. É o terceiro país em número de infectados e já ultrapassou Itália e Espanha em número de mortos, atrás apenas de EUA e Reino Unido. As manifestações de rua que ocorreram no Brasil, inspiradas pela rebelião nos EUA, é a luta pela vida dos mais vulneráveis, porque confronta a política genocida do governo Bolsonaro.  

A ida às ruas, neste domingo, representou um movimento de quem não quer morrer sufocado pelo estrangulamento econômico dos empresários e política da morte do governo Bolsonaro, de quem não quer ver as liberdades democráticas darem seu último suspiro. Por isso, é inadmissível o papel cumprido pelo governo do PT e PDT, reprimindo a mobilização desse domingo, no Ceará. Camilo Santana, deixe as manifestações em defesa da vida respirarem!

 

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