Nesta terça-feira, 26, a Polícia Federal (PF) fez uma operação (determinada pelo STJ a pedido do MPF) contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. É evidente o dedo bolsonarista nessa ação.
Hoje, 27, a mesma PF executou uma operação (determinada pelo STF) contra o núcleo duro do bolsonarismo (empresários, deputados, youtubers, entre outros).
Alguns consideram que a PF se tornou a “Gestapo” de Bolsonaro e que o triunfo do golpe é inevitável. Outros consideram que o fascista terminará na prisão, com seu governo demolido.
Ambas avaliações extremadas me parecem equivocadas e perigosas. Elas pegam alguns elementos da realidade e os elevam ao absurdo, apagando as contradições da luta em curso.
Nem o golpe é inevitável nem a derrubada do governo é certa. Os tempos políticos se aceleraram bruscamente em meio à uma crise dramática (humanitária, econômica, social e política), mas o desenlace não será imediato.
Precisamos ter sangue frio para não cair em impressionismos fatalistas.
Bolsonaro guarda posições de força e se prepara para o momento de radicalização. Porém, está se enfraquecendo e encontra-se acuado. Como bom fascista, se defende atacando com mais violência.
Há uma base de massas fascista. Mas, em meio à pandemia, está se formando uma maioria social crescente contra o governo. Já há uma parcela significativa da população que odeia Bolsonaro e quer o fim desse governo. Hoje esse setor não pode ir às ruas, mas quando puder?
O fascismo bolsonarista encontra guarida em alas de várias instituições, mas ainda não controla ainda o Estado. Veremos ações da PF a favor e contra Bolsonaro. Veremos decisões judiciais também para os dois lados. Haverá uma escalada aguda nos conflitos políticos e institucionais.
A esquerda (partidos, movimentos sociais, sindicatos etc.) não está no centro da disputa política nesse momento, que está polarizada entre o bolsonarismo e a oposição de direita, mas não é insignificante. Tem peso político e social de massas nesse país e avançou para um pedido unificado de impeachment, o que indica a construção inicial de uma articulação política unitária.
Dias perigosos se avizinham. Mas não estamos derrotados de antemão. Podemos vencer o fascismo. Devemos nos preparar para isso. A hora da luta mais importante ainda está por vir.
A ampla maioria do povo brasileiro — especialmente os trabalhadores, os mais pobres, os negros, as mulheres e a juventude — é muito melhor que Bolsonaro, seus valores e sua base fascista. Acreditemos nessa maioria do povo oprimido que está formando suas convicções nessa crise e que poderá entrar em ação quando for possível.
Há o medo real e legítimo que o cenário dramático produz, mas existe também a esperança sendo tecida.
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