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O impressionismo fatalista desarma

Marcelo Camargo / Ag. Brasil

Polícia Federal

Gabriel Casoni

Gabriel Casoni, de São Paulo (SP), é professor de sociologia, mestre em História Econômica pela USP e faz parte da coordenação nacional da Resistência, corrente interna do PSOL.

Nesta terça-feira, 26, a Polícia Federal (PF) fez uma operação (determinada pelo STJ a pedido do MPF) contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. É evidente o dedo bolsonarista nessa ação.

Hoje, 27, a mesma PF executou uma operação (determinada pelo STF) contra o núcleo duro do bolsonarismo (empresários, deputados, youtubers, entre outros).

Alguns consideram que a PF se tornou a “Gestapo” de Bolsonaro e que o triunfo do golpe é inevitável. Outros consideram que o fascista terminará na prisão, com seu governo demolido.

Ambas avaliações extremadas me parecem equivocadas e perigosas. Elas pegam alguns elementos da realidade e os elevam ao absurdo, apagando as contradições da luta em curso.

Nem o golpe é inevitável nem a derrubada do governo é certa. Os tempos políticos se aceleraram bruscamente em meio à uma crise dramática (humanitária, econômica, social e política), mas o desenlace não será imediato.

Precisamos ter sangue frio para não cair em impressionismos fatalistas.

Bolsonaro guarda posições de força e se prepara para o momento de radicalização. Porém, está se enfraquecendo e encontra-se acuado. Como bom fascista, se defende atacando com mais violência.

Há uma base de massas fascista. Mas, em meio à pandemia, está se formando uma maioria social crescente contra o governo. Já há uma parcela significativa da população que odeia Bolsonaro e quer o fim desse governo. Hoje esse setor não pode ir às ruas, mas quando puder?

O fascismo bolsonarista encontra guarida em alas de várias instituições, mas ainda não controla ainda o Estado. Veremos ações da PF a favor e contra Bolsonaro. Veremos decisões judiciais também para os dois lados. Haverá uma escalada aguda nos conflitos políticos e institucionais.

A esquerda (partidos, movimentos sociais, sindicatos etc.) não está no centro da disputa política nesse momento, que está polarizada entre o bolsonarismo e a oposição de direita, mas não é insignificante. Tem peso político e social de massas nesse país e avançou para um pedido unificado de impeachment, o que indica a construção inicial de uma articulação política unitária.

Dias perigosos se avizinham. Mas não estamos derrotados de antemão. Podemos vencer o fascismo. Devemos nos preparar para isso. A hora da luta mais importante ainda está por vir.

A ampla maioria do povo brasileiro — especialmente os trabalhadores, os mais pobres, os negros, as mulheres e a juventude — é muito melhor que Bolsonaro, seus valores e sua base fascista. Acreditemos nessa maioria do povo oprimido que está formando suas convicções nessa crise e que poderá entrar em ação quando for possível.

Há o medo real e legítimo que o cenário dramático produz, mas existe também a esperança sendo tecida.

 

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