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BRASIL

Polêmica: resposta ao texto “O impressionismo fatalista desarma”, de Gabriel Casoni

Cauê Campos*, de Campinas, SP
Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Jair Bolsonaro, observa manifestação de apoiadores da rampa do Palácio do Planalto

Escrevo esse texto para tecer algumas considerações ao texto de Gabriel Casoni, “O impressionismo fatalista desarma”, não no sentido de ser um polêmica profunda e teórica de conteúdo. Inclusive, acredito que Casoni tenha acordo com boa parte dos argumentos que elaborarei aqui.

Concordo com o Gabriel Casoni quando diz que a PF não é a “Gestapo” de Bolsonaro, tampouco o presidente terminará na cadeia. A Polícia Federal não pode ser utilizada como fiel da balança do regime democrático no Brasil. As ações contra as redes de fake news bolsonarista e mesmo a Sara Winter são jogos de cena para dar uma ilusão de neutralidade e funcionamento da PF.

Vale lembrar que para prender Lula, a PF e o Ministério Público Federal também prenderam Temer, Cunha, Cabral e tantos outros escroques da política brasileira. Tudo jogo de cena.

Casoni parte de uma premissa verdadeira, o auto-golpe de Bolsonaro ou sua queda não estão dados. Contudo, se esquece de que é esmagadoramente mais provável que se concretize um o fechamento do regime do Brasil no próximo período.

Já dizia o velho Marx em “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte”: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.” Jogamos em um campo escolhido pelo adversário, sobre condições que não temos controle. Mas jogamos.

Análise marxista da realidade não é futurologia, mas devemos estabelecer prognósticos precisos a partir dos elementos dados na atualidade. Nossas vontades e desejos não podem deturpar nossa análise; adoraríamos dizer que a queda de Bolsonaro é iminente, mas não é. Por isso, é preciso dizer, com todas as letras, o mais provável é que se dê o fechamento do regime no Brasil.

Bolsonaro não está acuado, pelo contrário. O braço forte do bolsonarismo, General Augusto Heleno, soltou uma carta-nota com ameaças nítidas à democracia brasileira. As instituições do Estado brasileiro não responderam a altura. STF e Congresso estão completamente acovardados. A cúpula militar está intimamente ligada ao projeto bolsonarista, qualquer dúvida da disposição das Forças Armadas em seguirem com o golpe foi deixada de lado.

O cenário que se apresenta para o Brasil é o seguinte: 1) uma pandemia matando em média 1000 pessoas por dia, ou mais, nas próximas semanas; 2) defender que as pessoas fiquem em casa virou, absurdamente, “coisa de esquerda”; 3) por isso, é impossível atos e protestos capazes de desestabilizar o governo favoravelmente à esquerda; 4) o mais alto mandatário do país tem intenções golpistas; 5) com apoio das Forças Armadas; 6) e com as demais instituições do regime completamente acovardadas e silenciadas.

Caso não haja nada fora do curso já estabelecido, a tendência é de confirmação do golpe de Bolsonaro. Não dizer isso é desarmar-nos do enfrentamento.

 

*Cauê Campos, professor de Sociologia, doutorando em Ciências Políticas e diretor estadual da APEOESP de Campinas.