As interações entre os medicamentos ocorrem rotineiramente na prática clínica, elas acontecem quando se utiliza dois ou mais medicamentos conjuntamente, podendo um interferir na ação do outro. Essas interações nem sempre são prejudiciais à saúde e muitas vezes são pensadas com o objetivo de melhorar a terapia. No entanto, em alguns casos, elas podem desencadear danos ao organismo e, serem potencialmente fatais.
Partindo desse conceito, a prescrição e a orientação baseadas em comprovações científicas são essenciais para um tratamento eficaz e o uso seguro dos medicamentos. Mas o que pode ocorrer quando começamos enxergar uma possível interação entre um medicamento e o seu uso político?
O enfrentamento do novo coronavírus e da COVID-19 no Brasil tem se tornado um desafio pelas características sociodemográficas do país, como também pela atual crise política, econômica e financeira. Como já abordado por diversos especialistas da área econômica e social, os impactos das políticas de cortes nos gastos públicos tornou-se ainda mais perceptível, em especial no Sistema Único de Saúde (SUS), onde foi escancarada a fragilidade do sistema à medida que a pandemia adentrou e avançou no Brasil.
Hoje vivemos um cenário assustador com o aumento da porcentagem de óbitos diários causados pela COVID-19, sendo o total de 18.894 mortes registradas no país e 293.357 casos confirmados até o dia 20 de maio.
Essa pandemia tem seu acometimento desigual no país. É desigual, mas combinado com o precário serviço de saúde nas capitais do Norte e Nordeste. Cenários catastróficos acontecem em cidades como Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza e Recife.
Nesses lugares o colapso no sistema de saúde (público e privado) é praticamente declarado, deixando a população insegura e frágil, tentando buscar soluções individuais e corriqueiras. Em muitos casos têm encontrado apoio em profissionais que também transmitem a mesma debilidade e insegurança, principalmente quando falamos do tratamento farmacológico, seja ele do ponto de vista preventivo ou terapêutico.
Diante desse cenário, no Brasil vivemos uma guerra de informação. O tema envolvendo o uso da hidroxicloroquina ou cloroquina levou à queda de dois ministros da saúde. O presidente Jair Bolsonaro tem atuado de forma consciente e ignorante propagandeando a informação de mágicas associações utilizando esse medicamento, enquanto os cientistas do mundo todo trabalham de forma séria buscando encontrar de fato de um tratamento que seja efetivo e seguro, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) em uma força tarefa no desenvolvimento de vacinas e alternativas terapêuticas.
Nos últimos dias, várias publicações científicas têm reforçado as recomendações do não uso de hidroxicloroquina ou cloroquina em associações com diversos antimicrobianos em pacientes, seja de forma profilática ou terapêutica para a COVID-19. Esses medicamentos são indicados nos tratamentos de malária; artrite reumatoide; lúpus eritematoso sistêmico e discoide; e condições dermatológicas provocadas ou agravadas pela exposição à luz solar.
Na contramão do método científico, o Ministério da Saúde (MS) publicou no dia 20 de maio do corrente ano um documento perigoso e que coloca em risco a saúde dos brasileiros. Um documento totalmente estranho ao ambiente científico e às recomendações terapêuticas. Assemelhando-se mais a um bulário de medicamento, o documento orienta de forma rudimentar a prescrição dos medicamentos para tratamento de sintomas leves de COVID-19.
Estados como o Maranhão, Amapá e Piauí introduziram nos protocolos clínicos o uso da cloroquina como orientação para prescrição médica para o uso profilático. Em São Luís, capital do Maranhão, tem sido corriqueiro chegar às farmácias receituários médicos com prescrição da cloroquina associada com os outros medicamentos, como ivermectina, azitromicina, levofloxacino, acetilcisteína, vitamina C e zinco.
A questão principal a ser discutida diante da polêmica cloroquina é que não há comprovação científica de sua eficácia no tratamento da COVID-19 e, apesar disso, o governo federal tem construído um discurso de “cura milagrosa” com a sua utilização. É nesse ponto que os riscos do emprego clínico da cloroquina interagem diretamente com a tentativa do seu uso político pelo governo Bolsonaro.
Muitos dos medicamentos indicados nos protocolos clínicos estão associados a interações que potencializam os efeitos adversos da cloroquina e da hidroxicloroquina e devem ser criteriosamente avaliadas, dentre elas, podemos destacar arritmias cardíacas graves, que podem levar o paciente a parada cardiorrespiratória.
Os primeiros relatos de casos de intoxicação associados ao uso de cloroquina e hidroxicloroquina começaram a ser descritos em estudo científicos. Efeitos associados à alterações graves no sangue, complicações cardíacas, dentre outros, além de óbitos.
Temos ciência da necessidade de um tratamento eficaz e seguro, seja uma vacina ou um medicamento no combate à COVID-19, no entanto a ausência dos mesmos não justifica a utilização irresponsável de terapias que coloquem em risco a saúde da população. Por isso é preocupante a decisão política de gestores que insistem em orientar o uso das terapias sem comprovação científica, como temos visto nas esferas federais, estaduais e municipais.
SERVIÇO
Tira-dúvidas
Existe uma vacina ou medicamento contra COVID-19?
Até o momento não há vacina nem medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a COVID-2019. As pessoas infectadas devem receber cuidados de saúde para aliviar os sintomas. Pessoas com doenças graves devem ser hospitalizadas. A maioria dos pacientes se recupera graças aos cuidados de suporte.
Quais as maneiras mais eficazes de proteger a si e aos outros contra a COVID-19?
Higienizar frequentemente as mãos, cobrir a boca ao tossir com a parte interior do cotovelo ou lenço e manter uma distância de pelo menos 1 metro das pessoas que estão tossindo ou espirrando.
Reforçamos a importância de ficar em casa, caso seja possível. Seguir as recomendações sanitárias para utilização de máscara fora do domicílio e em casos de apresentar sintomas leves, procurar um serviço de atenção primária à saúde para avaliação e permanecer em isolamento domiciliar.
Fonte: OMS/OPAS/MS
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