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A cloroquina mata mais que a COVID-19

Agência Brasil

Travesti Socialista

Travesti socialista que adora debates polêmicos, programação e encher o saco de quem discorda (sem gulags nem paredões pelo amor de Inanna). Faz debates sobre feminismo, diversidade de gênero, cultura e outros assuntos. Confira o canal no Youtube.

Uma pesquisa publicada do The Lancet[1] coloca um ponto final nessa questão. O teste verificou, não um efeito positivo do tratamento, mas sim um efeito negativo, praticamente dobrando a taxa de letalidade da doença. A razão é que essas medicações aumentam a probabilidade de arritmia cardíaca e, consequentemente, de um ataque cardíaco, o que causou a morte de uma parte das pacientes – em algumas combinações, a medicação causou mais mortes do que a própria COVID-19. Resumindo, entre refrigerante e cloroquina, é melhor tomar Tubaína.

O teste duplo-cego[2] foi realizado com mais de 96 mil pessoas internadas em 671 hospitais em países espalhados pelos seis continentes. Foram testadas a cloroquina e a hidroxicloroquina, combinadas ou não com macrólido (um antibiótico). O aumento da letalidade ocorreu nas quatro combinações: a taxa de letalidade no grupo de controle foi de 9,3%; no grupo que tomou hidroxicloroquina, 18,0%; no que tomou hidroxicloroquina com macrólido, 23,8%; no que tomou cloroquina, 16,4%; no que tomou cloroquina com macrólido, 22,2%. A taxa de arritmia cardíaca foram de 0,3% no grupo de controle, contra 6,1%, 8,1%, 4,3% e 6,5% nos respectivos grupos de medicamentos.

Concluiu-se que não só a cloroquina não aumenta as chances de recuperação, como, pelo contrário, as diminuem.

Irresponsabilidade, anti-cientificismo e fanatismo andam de mãos dadas

Por ordem do presidente Jair Bolsonaro, o general Eduardo Pazuello, atual Ministro da Saúde interino, assinou recentemente um decreto que libera o uso da referida medicação em pacientes, seja em estado grave ou leve. Essa foi uma medida que o ministro anterior, Nelson Teich, recusou-se a cumprir e, por isso, decidiu se exonerar do cargo.

Essa medida não é uma irresponsabilidade apenas por não haver comprovação de que o medicamento funcione. A medicina evita usar medicamentos com eficácia não-comprovada justamente porque, muitas vezes, eles têm o efeito contrário ao pretendido, como, infelizmente, também acontece nesse caso. O efeito potencialmente letal do uso da (hidroxi)cloroquina já havia sido apontado em testes menores, preliminares, e agora está, sem dúvida, comprovado.

Apesar disso, o presidente continua, seja por fanatismo ou por malícia, a defender o uso do medicamento e propagandear, para a população, que o medicamento funciona. É evidente que, nas condições atuais, a população desesperada e desinformada, em grande parte, vai optar pelo uso da medicação, o que vai aumentar a quantidade de mortes de pessoas com COVID-19 no Brasil.

No último dia 21 de maio, por exemplo, o presidente neofascista quis decretar a alteração da bula da cloroquina, incluindo uma recomendação da medicação para o tratamento da doença. Isso não é apenas um crime de responsabilidade, mas também de assassinato!

É por isso e por inúmeros outros motivos que Bolsonaro tem de ser derrubado imediatamente. Não é possível que permaneça como presidente um irresponsável como o Bolsonaro que não faz nada para combater a pandemia e que, ainda por cima, toma decisões que aumentam o número de mortes no país. A permanência desse fanático nesse cargo custará, ao Brasil, dezenas ou centenas de milhares de vidas. Para que vidas sejam salvas, é preciso que ele caia e que assuma o cargo alguém que realmente está comprometido com o combate à pandemia.

Referências

[1] https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31180-6/fulltext

[2] No teste duplo-cego, as pacientes são aleatoriamente selecionadas para receber o medicamento a ser testado (no caso, cloroquina e hidroxicloroquina) ou um placebo, sem que paciente nem médico saibam o que a paciente está tomando. Esse tipo de pesquisa faz com que seja possível comparar o efeito do medicamento em si com o efeito placebo e atestar se, realmente, ele de fato traz algum efeito positivo.