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BRASIL

Um ano do tsunami da educação: se muito vale o que foi feito, mais vale o que será

Hoje faz um ano do Tsunami da Educação, aquele 15 de Maio de 2019 foi histórico. Isso quer dizer que ele não foi gigante apenas para nós, que o fizemos, mas ele será enorme também no futuro, gigante na história.

Gabriel Santos*, de Maceió, AL
Estela Loth | Colaborativa EOL

Manifestação do 15M em Juiz de Fora (MG)

Um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece flores.
Ditado chinês

Daqui a alguns anos iremos dizer que nossa geração realizou atos em mais de 200 cidades e colocou mais de um milhão de pessoas nas ruas. Mas não foi isso, o dia 15 não surgiu do céu, foi fruto de muito preparo e organização. Em cada universidade do país, nos IF´s, em muitas escolas, foram feitas assembleias gigantescas. Reunimos previamente um incontável número de jovens para denunciar as ações de corte e sucateamento de educação feito por Bolsonaro e Weintraub. 

Se hoje estamos em isolamento sanitário, no ano passado nos esbarrávamos aos milhares. Reunidos nas ruas de Norte a Sul do país, a extensão de nossa voz era a voz do companheiro ao lado. O nosso corpo não acabava em nós, mas seguia reto por centenas de metros e em quilômetros, no meio de um verdadeiro mar de gente. Nossos passos eram ritmados, nas batidas de bateria. Há um ano, a juventude chegava forte e fazia sua corridinha pela educação.

Hoje a realidade é diferente. Estamos no meio de uma pandemia, uma crise sanitária sem precedentes, o governo fascista se mantém de pé, enquanto corpos tombam as centenas diariamente. A alegria que estampava os rostos há um ano, hoje é mais tímida. Não temos tantos motivos para sorrir. O calor e suor humano se tornou o frio dos algoritmos que ditam as relações virtuais.

Apesar disso tudo, e de muitas coisas mais, hoje é 15 de Maio.  Possivelmente todos ativistas hoje em algum momento deverão se recordar como foi este dia, o que estavam fazendo, como foi o passar das horas e o desenrolar da véspera. O isolamento sanitário faz com que demos muito valor às lembranças afetivas, no meio de um futuro incerto e um presento tumultuado, o passado se torna um bom ponto para olharmos. Um ditado chinês afirma que “todas as flores do futuro estão contidas nas sementes de hoje”. No nosso caso, as flores de hoje estavam nas sementes que plantamos há um ano, e para buscarmos ter novas flores em um futuro próximo, devemos semear nestes tempos atuais, por mais tumultuosos que sejam.

O #15M deste ano tem um caráter diferente. Limitados a ações virtuais (a não ser por uma ação presencial silenciosa em frente ao MEC) os movimentos sociais vão realizar uma série de ações pelo #AdiaEnem,  assim como ações de solidariedade vão buscar ser feitas em uma série de cidades do Brasil. No hoje, recordamos o passado, mas também construímos o futuro.  

Hoje é dia de recordarmos o que somos capazes de fazer quando estamos juntos e de lembrarmos que, mesmos separados, nós somos uma multidão. Em cada canto do Brasil, o legado do 15 de Maio germinou. Neste dia, há um ano, ousou-se sonhar. Se é preciso mais do que nunca arrancar alegria ao futuro, o futuro só vale a pena se pudermos sonhar livremente nele e com ele. Bolsonaro, Weintraub, Mourão, Moro, e a extrema direita, um dia serão somente nomes na história. Eles passarão. As nossas lutas e sonhos deixarão de ser sonho, mas permanecerão luta. Algum dia, o sonho de uma universidade pública para todos, de uma educação popular, e de uma sociedade justa e igualitária, não será apenas sonho, mas sim realidade.

Nós seguiremos e faremos muitos outros 15 de Maio. Até a vitória.

 

* Texto dedicado a Vic Ferraro, Vanessa Monteiro e Carol Coltro. Cada qual a seu jeito segue dando exemplos, plantando sementes, e dando força quando tudo parece desabar. Seguiremos!