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Ritmo de crescimento das mortes no Brasil segue mais de quatro vezes superior à média mundial

Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. O cálculo do ritmo de expansão é feito pelo número de mortos, já que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil torna precária a comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do que os números absolutos, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes.

O ritmo de crescimento mundial do número de mortes vem diminuindo de forma consistente. Há quatro semanas era 170%, há duas semanas era 58% e agora está em 30%, uma redução que comprova a efetividade das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países. 

O Brasil permanece com uma perspectiva terrível. Além de dividir com o México o maior ritmo de expansão das mortes, tem também o maior ritmo de expansão do número de casos, que aumentou 138% em 14 dias. Registrou ontem 844 mortes e 13.993 novos casos, um número altíssimo, considerando-se a baixa testagem, e que indica que o aumento de mortes permanecerá por mais tempo. Em termos relativos, o Brasil passa de 2.5% para 4,6% do total de mortos no mundo, chegando a 16% dos mortos registrados ontem no mundo.

Brasil e México, embora em patamares absolutos distintos, mantém-se com um ritmo de crescimento mais de quatro vezes superior à média mundial em 14 dias, tendo crescido respectivamente 137% e 144%, ritmo muito superior ao dos países que vem a seguir: Canadá (72%), Suécia (36%) e Estados Unidos 36%). Os Estados Unidos seguem diminuindo lentamente o ritmo de expansão, mas mantém o maior número de mortes diárias, e tem este decréscimo concentrado especialmente em Nova Iorque, mas compensado pela crescente interiorização do contágio. A grande maioria – nove dentre os quinze países – teve um crescimento do número de mortes entre 11% e 26% no período de 14 dias, associado a uma clara redução dos novos casos e diminuição do número de casos ativos. A China segue sem registrar nenhuma nova morte.

Brasil e México são, também, disparadamente os dois países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (3.462) e México (1.211) é absolutamente inexpressivo. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda piores, com 3,6 testes realizados por resultado positivo, muito inferior ao mínimo recomendado pela OMS).  

O elevado ritmo de crescimento das mortes no Brasil contraria a tendência internacional de melhora da situação e indica um enorme agravamento do quadro nacional. Já chegando em 14.000 mortes oficializadas, o país deveria ter já controlado o número de novos casos para ao menos ter a expectativa de começar a reduzir o ritmo de crescimento das mortes a partir do início de junho. Mas para isto seriam necessárias políticas efetivas de isolamento social e inclusive de lockdown em algumas regiões. Medidas deste tipo foram adotadas por todos demais os países antes de chegarem no trágico patamar em que estamos no momento. Nosso isolamento social continua sendo relaxado e sabotado pelas autoridades federais, com cumplicidade cada dia mais explícita do grande empresariado, produzindo a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, o número de mortes e o número de casos estão dobrando a cada 11 dias, enquanto no mundo dobram a cada 27 dias. Somos já o segundo país com mais mortes diárias, o segundo país com mais novos casos diários (depois dos EUA), o segundo país com o maior ritmo de crescimento de mortes (depois do México), o país com maior ritmo de novos casos diários, o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (18% do total mundial, mesmo não com números não atualizados há vinte dias)

Os Estados Unidos seguem com um elevado ritmo de aumento das mortes, de 36% em 14 dias, mantendo expressivo número de mortes diárias e inúmeros focos regionais, seguindo com aproximadamente um terço do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália e Espanha vem conseguindo reduzir o número de novas mortes. Dividindo-se o período em duas semanas, temos que nos EUA o número médio de mortes por dia diminuiu levemente, de 1.867 para 1.426, na Espanha diminuiu de 227 para 166, na Itália diminuiu de 284 para 164, enquanto no Brasil saltou de 469 para 686. Nos últimos dias, o número de mortes no Brasil já foi superior a Espanha, Itália e Franca somados.

Outros países, situados na América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, que ainda não estão entre os 15 primeiros em número de casos ou de mortes, vêm tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Alguns tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias: Kuwait (2.98x), Gana (2.67x), Afeganistão (2.6x), Bangladesh (2.46x), Rússia (2.37x), Índia (2.35x), Chile (2.31x), Peru (2.18x), Paquistão (2.17x), Arábia Saudita (2.15x), África do Sul (2.13x), Catar (2.11x), e Colômbia (2.09x). Dentre eles, Índia, Equador, Rússia e Peru já estão entre os 20 países com mais mortes. 

É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário cada vez mais terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha o mesmo (2.37 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 33.173 em 28/5, 78.620 em11/6 e 186.329 em 25.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que pode ocorrer caso não sejamos capazes de diminuir radicalmente o atual ritmo. Para isto, são inadiáveis medidas muito mais rigorosas de isolamento social, associadas à garantia de efetivas condições de sobrevivência aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.