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BRASIL

Brasil dispara com maior ritmo de crescimento das mortes

Gilberto Calil

O quadro reúne os dados dos 15 países com maior número de mortes registradas. O cálculo do ritmo de expansão é feito pelo número de mortos, já que o patamar de subnotificação dos casos no Brasil torna precária a comparação da evolução do número total de casos. Entendemos que o cálculo do ritmo de crescimento é mais revelador do que os números absolutos, tendo em vista que a expansão do Covid-19 se iniciou em momentos diferentes, o que é indicado na última coluna.

O ritmo de crescimento mundial vem diminuindo de forma consistente. Há duas semanas era de 2.02 vezes e agora é de 1.41, uma redução muito significativa e que comprova os efeitos positivos das medidas de contenção através de política de isolamento social adotadas de forma rigorosa em muitos países.

Em relação ao quadro de dois dias atrás, verifica-se um expressivo aumento do ritmo de expansão das mortes no Brasil, passando de 2.84x para 2.93x, um patamar mais que duas vezes superior à média mundial. Brasil e México seguem com ritmos de aumento muitíssimo elevados, embora em patamares distintos (o Brasil tem 3.4 vezes mais mortes que o México) Alguns países com índices ainda altos, como Estados Unidos e Canadá estagnaram a tendência de diminuição do ritmo, possivelmente como consequência do processo de reabertura precipitada. Dentre os 15 países com mais mortes, 12 tiveram um crescimento abaixo de 60% no período de 14 dias, o que tende a expressar uma tendência de diminuição de casos ativos. Quanto aos demais, o Canadá teve um crescimento de 114% das mortes em duas semanas, enquanto Brasil e México tem a pior situação, com crescimento de 193% e 192% no número de mortes, agravado pelo fato de terem tido no mesmo período o maior ritmo de crescimento também do número de casos, respectivamente 177% e 174%, o que projeta o prolongamento dos altos índices de crescimento das mortes nos próximos dias. Além disto, são disparadamente os dois países com menor número de testes. O número de testes por milhão de habitantes que Brasil (1.597) e México (820) realizaram até o momento é inferior ao que vários outros países realizaram apenas nos últimos dois dias. Na relação entre testes realizados e resultados positivos, o Brasil tem números ainda pior (2.7 testes por resultado positivo, frente a 3.8 do México). O Irã tem quatro vezes mais testes por milhão de habitantes (6.485) que o Brasil e todos os demais países já passam de 10.000 testes por milhão.

O crescimento do ritmo do número de mortes no Brasil contraria a tendência internacional e indica um enorme agravamento da situação. No estágio que estamos enfrentando, quando ultrapassamos a Bélgica e passamos a figurar entre os seis países com mais mortes no mundo, era necessário já estar com as taxas de novos casos muito mais baixas, como resultado de políticas efetivas de isolamento social. No entanto, com o crescente relaxamento do isolamento, o que vemos é o contrário, a conjunção trágica entre altas taxas de crescimento das mortes e dos novos casos, em um cenário de subnotificação generalizada. No país, o número de mortes dobrou em 10 dias, enquanto no mundo levou 22 dias para isto, e o número de casos dobrou em 10 dias, enquanto no mundo levou 23 dias. Estamos no epicentro mundial da pandemia, junto com Estados Unidos e Reino Unido. O Brasil tem o maior ritmo de crescimento de casos e de mortes, é o segundo país do mundo com maior número de pacientes internados em estado grave (16,8% do total mundial, mesmo não atualizando o número há vários dias), e ontem foi o terceiro do mundo em novos casos (depois de EUA) e o terceiro em mortes (depois de EUA e praticamente empatado ao Reino Unido).

Dentre os demais países, os Estados Unidos seguem com um ritmo de aumento das mortes acima de 50% em 14 dias, mantendo número elevado de mortes diárias e também uma situação regionalmente muito desigual, seguindo com aproximadamente um terço do total de novos casos e do número de mortos do mundo. Itália e Espanha reduziram bastante o índice de aumento das mortes, mas ainda têm números elevados em razão da base alta que já tinham. Dividindo-se o período em duas semanas, temos que nos EUA o número médio de mortes por dia diminuiu levemente, de 1.966 para 1.878, na Espanha diminuiu de 365 para 226, na Itália diminuiu de 371 para 286, enquanto no Brasil saltou de 372 para 440. Ontem, o número de mortes no Brasil já foi superior a Espanha e Itália somados.

Outros países que ainda tem menor número de casos e de mortes em números absolutos, vem tendo crescimento bastante superior à média mundial, com situação se agravando rapidamente. Dentre eles, tiveram crescimento do número de casos superior a 100% nos últimos 14 dias Bangladesh (3.1x), Rússia (2.86x), Peru (2.85x), Equador (2.71x), Gana (2.68x), Bielorrússia (2.64x), Catar (2.52x), Arábia Saudita (2.5x), Índia (2.48x) Paquistão (2.3x) Ucrânia (2.16), Chile (2.04x) e Egito (2x).

É imprescindível e urgente reduzir o ritmo de crescimento do número de casos e do número de mortes no Brasil, pois a manutenção destes índices projeta um cenário terrível. Se por hipótese considerarmos que este ritmo se mantenha-se o mesmo (2.93 vezes em 14 dias), o número de mortes no Brasil atingiria 24.928 em 20/5, 73.040 em 03/6 e 214.007 em 17.6. Não se trata de uma previsão, mas de projeção do que ocorreria no caso de manutenção do atual ritmo (o considere-se que está em crescimento). Portanto é urgente diminuir radicalmente os ritmos de contaminação, o que só é possível com medidas mais rigorosas de isolamento social e garantindo efetivas condições de sobrevivência aos mais precarizados. Um pequeno aumento ou uma pequena diminuição no percentual produz um grande efeito em cascata nos números em dois ou três ciclos, o que reforça a urgência do reforço das medidas protetivas.