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BRASIL

Viemos para somar: Resistência/PSOL completa dois anos

A construção da Resistência é uma batalha contra a fragmentação dos revolucionários

Alexandre Barbosa, Gloria Trogo e José Miranda
Carlos Osório

Bandeira da Resistência, em caminhada em Porto Alegre (RS), em 2018

Em 2018, em meio ao avanço da ultradireita, o Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (#MAIS) e a Nova Organização Socialista (NOS) fundaram a Resistência, corrente interna do PSOL. Um mês depois, o agrupamento do PSOL M-LPS se somou ao projeto. Imbuídos em barrar o avanço conservador e se constituindo em um pólo de reaglutinação da esquerda revolucionária, a nova corrente, nesses quase dois anos de existência, buscou construir uma intervenção na luta de classes que se pauta pela flexibilidade tática e pela firmeza na estratégia, nos princípios marxistas.

Os tempos são difíceis para a classe trabalhadora, para os explorados, oprimidos e conseqüentemente para as organizações revolucionárias. O contexto é de fragmentação, ruptura e dispersão. Por isso, para nós, é uma grande vitória que vários companheiros e grupos tenham se somado a este projeto. É o caso do ex-MLT (SP), do Núcleo de Educadores Florestan Fernandes (RJ), do Coletivo Rizoma (MG), dos camaradas do coletivo Transição, que tem origem na LSR, no Rio de Janeiro e no Paraná, e de companheiros e companheiras que saíram da Insurgência.

Negamos qualquer tipo de autoproclamação, e somos conscientes de nossos limites. Sabemos que a Resistência é uma organização em construção e que o desafio é imenso, pois o projeto socialista é muito maior do que somos hoje. Não pensamos que somos os únicos revolucionários e buscamos construir relações de respeito com nossos aliados.

Uma organização deve ser capaz de aprender com os erros do passado e buscar novas sínteses para construir o novo dentro dos princípios e da concepção do marxismo.

A importância e atualidade dos projetos coletivos

Vivemos tempos de ode ao individualismo. No mundo do trabalho, o capitalismo semeia ilusões com os novos empreendedores, que não são nada mais do que trabalhadores ultra precarizados. “Cada um deve lutar pelo melhor para si mesmo”, é o que prega a ideologia dominante. Mudar o mundo é visto como um sonho impossível, ou pior do que isso como uma ideia ingênua, desprovida de qualquer razoabilidade.

A esquerda não é impermeável a tudo isso. Milhares de ativistas viveram experiências traumáticas de projetos que se degeneraram de distintas formas, seja pela adaptação à lógica da disputa do Estado burguês por dentro do sistema, seja pela degeneração sectária, produto da marginalidade.

O ambiente de disputa de ideias e de debate político é raramente saudável entre as organizações de esquerda e até mesmo dentro de cada corrente.
Vivemos num mundo machista, racista, lgbtfóbico e a militância socialista não vive em uma bolha, está também exposta a essas ideologias reacionárias. Em nosso entendimento, o combate a todas as formas de opressão é um tema central na luta contra o capitalismo. Não é possível a emancipação da classe trabalhadora sem derrotarmos todas as opressões.

Neste contexto, a construção de uma corrente revolucionária é uma tarefa árdua, nadamos contra a corrente. É difícil e exige paciência, formação marxista, firmeza programática, estratégica e um regime interno democrático.

O que nos move é a certeza de que o capitalismo fracassou. As guerras, a fome, a miséria, a regressão social, as dezenas de milhões de refugiados, na maioria mulheres e crianças, a iminência de um colapso ambiental são algumas das provas cabais da podridão deste sistema. A única perspectiva de futuro para a humanidade é a mudança radical e revolucionária, abrindo um caminho onde aquelas e aqueles que produzem as riquezas possam decidir democraticamente o destino das mesmas, construindo uma nova sociedade, justa, fraterna, igualitária, sem opressão e exploração. Este é a nossa concepção, uma concepção socialista. Os projetos que apostaram na conciliação e no gradualismo falharam. Esta é para nós uma das lições estratégicas da recente derrota da esquerda brasileira. A classe dominante brasileira não é uma aliada nem para medidas parciais e democráticas, como a erradicação da extrema pobreza.

Temos convicção que essa luta não se restringe aos marcos dos estados nacionais. Ao contrário, a luta de classes é internacional e se expressa nas particularidades de cada país e nação. Nosso projeto deseja e luta para tocar mentes e corações e possa ser um instrumento útil para a revolução socialista no Brasil e no mundo.

Ainda somos um projeto em construção

As organizações que deram origem a resistência desde o processo de fusão elaboraram uma série de notas programáticas e um seminário de concepção que forjaram as bases para a fundação da Resistência. Essa elaboração vem sendo enriquecida com as contribuições dos camaradas que se somam trazendo experiências distintas que enriquecem nosso arcabouço teórico e de intervenção na luta de classes. Esta síntese é uma ferramenta imprescindível para avançarmos.

Ainda temos muito a construir conjuntamente e sinceramente esperamos poder nos encontrar ainda com outros setores, de distintas tradições. No desenvolvimento destes debates e na intervenção concreta na luta de classes, quem sabe, venhamos a construir novas fusões.

Nosso apego é a estratégia da revolução e a melhor forma de atingir esse objetivo. Em meio a tantas dificuldades na luta de classes nossa heterogeneidade é um orgulho para nós. A Resistência é formada por distintas gerações, por uma juventude cheia de garra, por ativistas de várias tradições políticas, por operários e intelectuais, por professores da educação básica ao ensino universitário e por uma forte coluna de jovens trabalhadores. É esta mistura que nos fornece ferramentas para refletir e elaborar a melhor política para a realidade.

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