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BRASIL

O governo Hélder e a saúde no estado do Pará em tempos de pandemia

Marcos Biagi, de Belém, PA
Agência Pará / Fotos Públicas

Diariamente, temos acesso aos números da pandemia no Brasil e vemos um número cada vez maior de contaminados e de mortos. A situação em algumas capitais do país já é de calamidade, vide o caso do Amazonas, que é o estado do norte do país com mais casos do novo coronavírus, e que, em sua capital, Manaus, a prefeitura está tendo de abrir valas comuns para sepultar as vítimas da pandemia. No estado do Pará, temos uma situação menos severa, 1.267 casos de pessoas contaminadas e 53 óbitos (de acordo com a atualização da Secretaria da Saúde feita no dia 23/04, às 13h), sendo o segundo estado da região norte com maior número de casos, após o Amazonas.  

Na última segunda-feira, 20/04, o governador Hélder Barbalho (MDB) assinou um decreto reduzindo o horário de funcionamento de diversas atividades não essenciais (com exceção de shoppings, restaurantes, cinemas e praças de alimentação que continuam fechados) e permitindo o retorno do funcionamento de outros estabelecimentos, como agências de viagem. Diante dessas ações, até pode parecer que a situação aqui no estado está sob controle, mas há alguns elementos que necessitam ser levados em consideração para melhor refletir sobre a situação e avaliar a realidade paraense, são eles: pico da pandemia, quantidade de leitos e subnotificação. 

O pico da pandemia no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, será nos meses de maio e junho, portanto, estamos ainda longe do maior número de casos. 36 dias depois do primeiro caso notificado no estado, já temos 1.267 casos confirmados. Esse dado se torna precioso para analisarmos o segundo elemento: a quantidade de leitos. A imprensa ao longo dos dias tem noticiado a dificuldade que muitas pessoas com sintomas da covid-19 tem tido para serem atendidas nas unidades de saúde na região metropolitana de Belém e noticiou no dia 21/04 que 90% dos leitos de UTI do estado do Pará estão ocupados. Temos, portanto, mesmo sem estar no pico da pandemia, o sistema de saúde do estado em colapso. Há relatos também de que mesmo o hospital de campanha construído no Hangar, apresenta dificuldade para atender todas e todos os pacientes que lá aparecem e que há poucos profissionais no atendimento. 

Além disso, há várias unidades de saúde sem os equipamentos de proteção individual (EPI’s), o que faz com que trabalhadoras e trabalhadores que estão na linha de frente de combate ao vírus sejam infectados (42% dos infectados no Pará são da área da saúde). Esses dados mostram a seriedade do momento que temos no estado. Aliás, no quesito de quantidade de leitos, o Pará está em um quadro semelhante ao estado do Amazonas, que em um mês após o primeiro caso teve a sua capacidade de atendimento colapsada e que aqui, após 36 dias da chegada do vírus, temos somente 10% dos leitos de UTI disponíveis. 

Vemos, portanto, que estamos em uma situação grave e que pode estar ainda mais delicada por conta da subnotificação de casos tanto por ausência de testes, quanto por transparência de dados. Um estudo indica que os casos notificados em todo território brasileiro podem ser o dobro do registrado ou até mais, podendo chegar a até 15 vezes mais dos números computados. No caso do estado paraense, um estudo da USP aponta uma possibilidade de termos 12 vezes mais casos do que aqueles mostrados pelo governo. Para além dessa situação geral de subnotificação, o estado do Pará é classificado com médio nível de transparência em relação aos dados da covid-19 pela Open Knowledge Brasil, deixando de expor dados, principalmente, sobre a infraestrutura de saúde (como ocupação de leitos, testes disponíveis e aplicados). No ranking feito por essa organização, atualizado no dia 23/04, o Pará ocupa a antepenúltima posição entre os estados da federação em relação à transparência de dados sobre a covid-19. 

Ainda relacionado à subnotificação estão os testes. Enquanto Hélder teve a oportunidade de fazer três testes para poder identificar a covid-19 em seu organismo e poder se tratar, a população vive à mingua, sem ter acesso a testes mesmo indo às unidades de saúde. O governo do estado não investe naquilo que a OMS aponta como principal forma para mapear o vírus, os testes. Sem testes, só se saberá dos casos que chegarem às unidades de saúde que já estão no seu limite de atendimento, isso significa que, em breve, a situação da subnotificação se agravará ainda mais, deixando a população em um nível maior de exposição ao novo coronavírus, desamparada e sem nenhuma projeção real de como está a pandemia, qual a taxa de mortalidade, etc. 

Esse é o grave quadro do Pará diante da pandemia, tendo em Belém a situação mais trágica. Sob o governo de Zenaldo Coutinho (PSDB), a mangueirosa vê seu sistema de saúde colapsado, com falta de EPI’s e a manutenção do funcionamento do comércio (para além dos serviços essenciais). Nas periferias, onde as condições sanitárias são delicadas e há alta aglomeração, as feiras acontecem normalmente, expondo as trabalhadoras, os trabalhadores e toda população ao possível contágio do vírus. Assim como o governo do estado, Zenaldo Coutinho também aplica um distanciamento social brando e coloca a principal medida para a população: o uso de máscaras. Não há dúvidas de que o uso de máscaras é importante, mas é uma medida complementar. Esse uso reduz o contágio, mas a medida mais eficaz não está sendo tomada da maneira mais eficiente nem em nível municipal, nem em nível estadual: o distanciamento social.

Desde o início da quarentena, Hélder tem sido elogiado pelas medidas tomadas no enfrentamento à pandemia. De fato, para um primeiro momento, foram medidas positivas, mas mínimas (vimos nos exemplos acima que essas medidas se fizeram ainda ineficientes e aquém da necessidade das e dos paraenses). Agora, o decreto do dia 20/04 mantendo o comércio não essencial aberto é um erro, assim como também a manutenção do comércio aberto em Belém. Essas medidas tomadas são o resultado das pressões dos empresários, apoiados na política genocida bolsonarista, de salvar a economia em detrimento da saúde e da vida da população trabalhadora e da periferia. Não é hora de flexibilizar.

Por tudo que foi exposto, a situação em Belém e no Pará é gravíssima, portanto, exigimos:  

 

– Não é hora de flexibilizar! Zenaldo e Hélder vão na contramão: Isolamento social e funcionamento somente do serviços essenciais!
– Ampliação de leitos de UTI!
– Disponibilização de EPI’s nas unidades de saúde!
– Controle pelo SUS dos leitos privados!
– Testagem em massa!
– Transparência de dados sobre a covid-19!

Marcado como:
Belem / coronavírus