A demissão de Mandetta foi mais um passo em frente na construção de um governo com características bonapartistas cuja estratégia é a mudança do regime político no país. Esse governo está cada vez mais sustentado pela combinação dos núcleos ideológico e militar, com o aumento do protagonismo cada vez maior da última.
Bolsonaro demitiu o ministro da Saúde independentemente do que pensava a maioria da sociedade, inclusive do setor majoritário das classes proprietárias, embora continue governando a seu serviço. Escolheu um nome alinhado e subordinado a sua orientação política.
O passo seguinte foi virar o canhão para o parlamento e os presidentes da Câmara e do Senado. Rodrigo Maia sofreu um grande ataque das milícias da “internet” bolsonaristas. Foram milhões de postagens pedindo a cabeça de Maia na rede. E fez uma entrevista exclusiva à CNN, na qual atacou Maia e o acusou de agir para derrubá-lo.
Neste sábado, o alvo foi também Davi Alcolumbre – a hashtag pedindo sua saída esteve entre as 10 mais do Twitter. A extrema direita busca pressionar o Senado a aprovar a MP da Carteira Verde Amarela, que altera direitos como férias e décimo-terceiro, e cujo prazo de votação se encerra nesta segunda, 20.
Existe uma contradição básica, ainda mais com a combinação da crise nacional com o afastamento dos quadros do DEM do governo, Bolsonaro não possui maioria no parlamento, logo buscará um processo de mobilização permanente contra a Câmara e o Senado no próximo período. A tendência é o acirramento da crise entre as instituições do regime (Governo contra Congresso e STF).
Estamos em um processo de queda da popularidade de Bolsonaro, mas isso não pode nos cegar. O neofascista mantém uma base social sólida e uma resiliência comprovada em pesquisas. Bolsonaro vai precisar ser derrubado, já existem indícios suficientes que lutará até o fim pelo poder, pela sua estratégia golpista e que não podemos confiar nas lideranças de Maia e Alcolumbre para colocar um fim ao seu governo. Pelo contrário, a experiência histórica nos faz crer que o centrão vai buscar a conciliação e o desgaste de Bolsonaro pensando em 2022.
A tendência nas próximas semanas é o agravamento da situação da crise da pandemia. O governo se transformou no principal responsável pelo agravamento da situação em curso, vamos ter que acompanhar o dia a dia da conjuntura e ver o seu impacto na experiência das massas com esse governo genocida.
A esquerda permanece dividida em distintas táticas. Seguiremos na aposta que devemos construir uma oposição disposta à unidade nas ações comuns com o centro político na defesa das liberdades democráticas, mas se apresentar de maneira separada como alternativa política.
Neste domingo (19 de abril) temos uma tarefa muito importante. O Bolsonarismo prepara mais um dia de carreatas mobilizando sua base social reacionária. Precisamos reagir protestando neste domingo nas janelas e nas redes sociais de todo o Brasil contra o governo Bolsonaro.
#ForaBolsonaro
EDITORIAL
Editorial: Com demissão de Mandetta, Bolsonaro avança no seu plano genocida
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