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BRASIL

Priscila Cruz no Roda Viva e os interesses empresariais no ensino a distância

Nívea Vieira*, de Niterói, RJ
Reprodução

Nesta segunda, 13 de abril, o programa Roda Viva, da TV Cultura, recebeu Priscila Cruz, representante do Movimento empresarial “Todos pela Educação”. Priscila Cruz se apresentou no programa como parte de uma coalizão formada pelo Banco Mundial, Unicef, OCDE e etc, portanto não é de se estranhar que sua fala traga muitos elementos presentes na nota do Banco Mundial publicada em 30 de março de 2020 sobre educação e pandemia. 

O movimento Todos pela Educação foi fundado em 2006 por um grupo de empresário de diversos setores, que a princípio não estavam ligados historicamente aos interesses educacionais. O movimento se apresenta como uma organização não governamental, suprapartidária com forte mobilização na sociedade civil e articulada ao poder público e à política educacional. O grupo representa empresas como a holding Itaú Unibanco, o grupo Bradesco, a Fundação Lemann, a Gol, o Instituto Natura, entre muitos outros; e constitui o principal instrumento empresarial que disputa a política educacional no país.

Ao longo da entrevista, notamos muitos pontos em comum da fala de Cruz com os argumentos apresentados por especialistas do tema e mesmo de setores da esquerda. Isso não quer dizer que Priscila Cruz mudou de lado, ou que está mais progressista que de costume. Tal similaridade nos discursos significa que: 

  1. A organização empresarial sabe que precisa convencer a sociedade de que está ciente da realidade e tem a solução do problema; e, mais preocupante que isso,
  2. Nós, professores, especialistas e movimento sindical, estamos errando ao formular a questão. 


Assim como a nota do Banco Mundial, a intelectual reconhece a falta de infraestrutura para implantação da EAD, os excluídos digitais, a falta de familiaridade dos professores com a tecnologia, etc. Insistindo que o problema do Brasil não seria a concentração de renda e sim as “desigualdades de oportunidades educacionais”, Cruz defende a adoção de uma tecnologia precária, em nome da situação emergencial, com a parceria das empresas de telecomunicação, uso de material impresso e aproximação da escola com as famílias.

Não há neutralidade no discurso apresentado por Cruz no programa e em outros debates. Ciente de que se trata da defesa de uma estrutura altamente precária, a intelectual dos empresários, substitui a proposta de EAD pelo nome de educação remota.

Tanto na nota do Banco Mundial quanto na fala do Todos Pela Educação, está claro que o projeto veio para ficar. Embora não se defenda a substituição completa do Ensino Presencial pelo EAD para o ensino fundamental, se fala em complementariedade das modalidades. Assim, as intenções de adensar a incursão dos empresários sobre a política educacional vem sendo camufladas com uma aparente preocupação com os estudantes vulneráveis e com os excluídos digitais.

Para derrotarmos este projeto que aumenta a exploração do professor e o sucateamento da escola pública, de maneira jamais vista, precisamos conhecer as forças que estão formulando e difundindo este ideário.

 

* Nívea Vieira é professora da Faculdade de Educação da Baixada Fuminense da UERJ. Doutora em História e Educação, membro do Coletivo de Estudos Marxista (Colemarx/UFRJ) e coordenadora do Grupo Interinstitucional Gramsci na Baixada.